British Airways & Iberia
13 de novembro de 2009Com o acordo de fusão entre Iberia e British Airways (BA) anunciado na quinta-feira (12/11), as empresas visam recuperar o terreno perdido no mercado global. Analistas avaliam que a fusão é mais um casamento por conveniência do que uma união amorosa.
Além disso, o déficit no fundo de pensões da BA é uma séria ameaça à concretização do negócio, já que a Iberia se reserva o direito de cancelar o acordo, caso o buraco no fundo de pensões do grupo britânico, de 3,35 bilhões de euros, venha a se mostrar prejudicial aos espanhóis.
Se o negócio for aprovado pelas autoridades reguladoras, a nova empresa se tornará a terceira maior do ramo na Europa, atrás de Lufthansa e Air France/KLM. A duas marcas continuarão existindo. A BA controlará 55% e a Iberia será proprietária de 45% do novo grupo.
Entretanto, os números do último trimestre divulgados pela Iberia nesta sexta-feira (13/11) deixam claro mais uma vez o tamanho da pressão econômica que pesa sobre ambas as companhias. A empresa aérea espanhola anunciou ter acumulado um déficit de quase 182 milhões de euros nos primeiros nove meses do ano, apesar de estar aplicando medidas rígidas de contenção de custos.
Possível colapso
Já a BA acumulou, nos primeiros seis meses do ano fiscal, até setembro, um prejuízo de 323 milhões de euros. As duas empresas operam no vermelho. Se de um lado é difícil saber se dois doentes juntos podem se curar melhor, por outro lado, essa parecia ser a única saída para um possível colapso, afirmam analistas.
A recessão, a queda do número de passageiros e a concorrência das empresas de baixo custo contribuíram para o agravamento das dificuldades. "A situação do setor nunca foi tão dramática", constatava há pouco tempo Rafael Sánchez Lozano, membro do conselho diretivo da Iberia. "Para garantir a sobrevivência da Iberia, são imprescindíveis soluções criativas". E a solução foi a fusão com a BA, que tem o dobro do tamanho da espanhola.
Ambas as empresas estão promovendo um enxugamento generalizado. Até março de 2010, a BA deverá cortar quase 4900 empregos, vários funcionários participam de um programa de corte de gastos, e em trechos curtos o sanduíche gratuito foi abolido. A Iberia também planeja demitir 2200 funcionários e desativar conexões.
Dois bêbados
A intenção com a união é poupar cerca de 400 milhões de euros anualmente com a fusão de departamentos de ambas. A BA pode lucrar com a rede da Iberia na América Latina, e a espanhola poderá ganhar com as conexões britânicas para EUA, Ásia e Oriente Médio. "Nos preocupamos com o futuro", afirmou o presidente da BA, Willie Walsh.
Em Londres, há um otimismo moderado. "Ambos têm seus problemas, ambos estão deficitários e dos dois têm complicações com os sindicatos", lembrou o especialista em companhias aéreas John Strickland. "Se conseguirem administrar esses problemas até a economia se recuperar em 2010 ou 2011, ambas terão lucrado."
A companhia de baixo custo Ryanair, que se tornou nos últimos anos uma das maiores concorrentes da BA, reagiu com sarcasmo ao anúncio de fusão. "BA e Iberia são como dois bêbados que tentam se apoiar mutuamente", disparou o porta-voz da empresa irlandesa, Stephen McNamara. Para ele, a fusão cheira a desespero. "Grandes companhias europeias estão levantando a bandeira branca porque não podem concorrer com o crescimento rápido da Ryanair", observou.
Guerra com sindicatos
A fusão já vinha sendo negociada há 16 meses, tendo sido bloqueada com o início da crise financeira. Para analistas, já era tempo de as duas empresas tentarem recuperar terreno frente às gigantes Lufthansa e Air France/KLM. "Iberia e BA estavam condenadas à fusão para poder concorrer com elas", opinou o jornal espanhol El País.
Por causa da pior depressão no setor desde a Segunda Guerra Mundial, a Associação Internacional de Transporte Aéreo (IATA) está contando que neste ano as perdas mundiais no mercado de aviação cheguem a 11 bilhões de dólares. Por isso, há atualmente uma pressão por fusões.
A alemã Lufthansa, a maior da Europa, incorporou há pouco tempo as concorrentes Brussels Airlines e Austrian Airlines e, diante da fusão de BA e Iberia, a irlandesa Ryanair se mostrou disposta a adquirir a pequena rival Aer Lingus. Já a fusão da Air France com a holandesa KLM é tida como um sucesso pelos analistas. A união entre BA e Iberia cria a terceira maior companhia aérea da Europa, e uma aliança com a American Airlines está entre os planos da nova empresa.
Mas o tamanho do novo grupo não vai protegê-lo de intempéries. Ambas as companhias estão em guerra com os sindicatos. A Iberia enfrentou uma greve nos últimos dias que levou ao cancelamento de centenas de voos. A BA aguarda uma decisão de greve de seus funcionários para meados de dezembro, às vésperas do Natal. O maior problema, no entanto, é o déficit da BA de 3,35 bilhões de euros em seu fundo de pensões. Isso seria um grande empecilho para as negociações da fusão, já que a Iberia se reserva o direito de vetar o acordo, caso a BA fracasse em solucionar o problema. Tudo vai depender das negociações entre a BA e a administradora do fundo de pensões.
MD/Reuters/dpa
Revisão: Roselaine Wandscheer