Afeganistão
22 de dezembro de 2006Um pedido da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) para que a Alemanha envie cinco ou seis aviões de reconhecimento do tipo Tornado e 250 soldados ao sul do Afeganistão causou protestos da oposição e divergências até mesmo entre os partidos que formam a coalizão de governo em Berlim.
Enquanto o Ministério das Relações Exteriores sinaliza que pretende atender ao pedido, o ministro da Defesa, Franz Josef Jung, disse que o assunto ainda está sendo analisado. "Vamos anunciar nossa decisão em janeiro", declarou nesta sexta-feira (22/12), durante uma visita a Portugal.
Falta consenso no governo
O vice-ministro das Relações Exteriores, Gernot Erler (SPD), disse que, "em princípio, o governo está disposto a ajudar a Otan com aviões de reconhecimento". Segundo o porta-voz adjunto da Chancelaria Federal, Thomas Steeg, isso não passa de uma opinião pessoal do vice-ministro.
O Ministério da Defesa rebateu acusações de que está tentando ganhar tempo. "A Otan precisa expor detalhadamente o que quer de nós. Por isso, não é possível tomar uma decisão imediata", disse o porta-voz do ministério, Thomas Raabe.
Segundo o jornal Neue Presse, há consenso entre os dois ministérios de que a ampliação da missão militar alemã no Afeganistão não depende de autorização parlamentar. Deputados de todas as bancadas defendem, porém, uma avaliação do pedido pelo Bundestag (câmara baixa do Parlamento), o que o governo pretende evitar por não ter certeza da aprovação.
"Uma decisão tão importante como essa não deve ser tomada sem participação do Parlamento", admitiu até mesmo o vice-ministro da Defesa, Thomas Kossendey (CDU). "Penso que será necessário um mandato complementar do Bundestag", disse o porta-voz para assuntos de defesa da bancada da CDU, Bernd Siebert. Vários deputados social-democratas também pediram uma decisão do Parlamento sobre o assunto.
Esquerda e verdes são contra
O Partido Verde e o Partido de Esquerda já anunciaram que rejeitarão o pedido. O perito em política de defesa dos verdes, Winfried Nachtwei, disse que "a Otan está envolvida numa guerra com tática confusa e muitas vítimas civis no sul do Afeganistão. A Alemanha não deve apoiá-la".
O líder da bancada verde no Bundestag, Hans-Christian Ströbele, anunciou nesta sexta-feira que recorrerá ao Tribunal Federal Constitucional para impedir a ampliação da missão, caso ela não seja submetida à avaliação parlamentar.
Missão arriscada
A Associação das Forças Armadas alemãs prevê que, se enviar Tornados, a Alemanha também terá de participar das batalhas terrestres. "Não queremos ser envolvidos na estratégia errônea dos britânicos e americanos", disse o porta-voz da entidade, Wilfried Stolze.
O pedido da Otan coloca a coalizão formada pela CDU/CSU e SPD em apuros, uma vez que, durante a última cúpula da Otan em Riga (Lituânia), a chanceler federal Angela Merkel garantiu que não enviaria mais soldados alemães ao Afeganistão. Muitos parlamentares temem que, se a Alemanha ceder agora, logo será forçada a enviar também mais tropas de infantaria.
No limite da ajuda
A Bundeswehr exerce o comando da Força Internacional de Assistência para a Segurança (Isaf) no norte do Afeganistão, com 2290 soldados estacionados naquela região e na capital Cabul. O limite estabelecido por Berlim é o envio de três mil soldados.
A Otan espera poder resolver seus problemas no combate ao Talebã no sul com a ajuda dos aviões de reconhecimento alemães. O pedido feito a Berlim é mais um capítulo da polêmica envolvendo o Tornado.
Quando foi introduzido pela Bundeswehr em 1982, o avião foi "bombardeado" por críticos, devido aos altos custos de desenvolvimento e à tecnologia supostamente ultrapassada. Uma série de acidentes no final dos anos 90 piorou ainda mais sua imagem.
As Forças Armadas alemãs possuem 350 Tornados, que chegam a atingir velocidades de até 2400 km/h e podem ser usados também para combate. Os chamados Tornados Recce são especialmente equipados com sensores e câmeras para operações de esclarecimento.
Somente o envio de cinco ou seis aviões mais 250 soldados representaria custos adicionais de 50 milhões de euros ao ano para a missão alemã no Afeganistão.