Desigualdade
14 de outubro de 2008Nas escolas alemãs, as meninas costumam superar os garotos em termos de notas e aprendizado. Elas abandonam com muito menos freqüência a escola na adolescência e recebem, via de regra, ótimos diplomas e certificados. Nas universidades do país, as mulheres compõem 50% do número total de estudantes.
Quando se trata de seguir carreira e ganhar dinheiro, porém, a situação muda. As mulheres na Alemanha, neste contexto, estão muito atrás dos homens. Tanto no ambiente acadêmico quanto nas empresas do país.
Nas universidades alemãs, quando se analisa a porcentagem de mulheres, o resultado é o de uma pirâmide: embaixo, no início da vida universitária, as mulheres formam a metade de todo o corpo estudantil. Entre os doutorandos, são ainda 40%, nas teses de livre-docência, apenas 24%. E entre os catedráticos do país, há apenas uma mulher entre seis homens.
Comissões subjetivas
As razões para tamanho desequilíbrio entre os gêneros são várias. Um delas, na opinião de Britta Schinzel, professora de Informática, está nas comissões que decidem sobre os nomes adequados para ocupar as cátedras dentro das universidades. Estas comissões, segundo Shinzel, são majoritariamente ocupadas por homens, que, com freqüência, se opõem à indicação de professoras para o cargo.
"Às vezes argumentam que a candidata é jovem demais, mas daí a pouco analisam o currículo de um colega que é dez anos mais novo que ela e este não é considerado jovem demais. Outras vezes dizem que a concorrente é velha demais para a cátedra e logo, logo vem um candidato dez anos mais velho e pega o lugar", conta a professora.
Domínio masculino
Fato é que as universidades alemãs são uma rede dominada pelo sexo masculino, criticam muitas professoras do país. E isso já considerando que a situação, à primeira vista, vem melhorando. Há dez anos, apenas 10% das cadeiras universitárias no país eram destinadas às mulheres. Hoje são 16%, numa média de todas as graduações e em todos os estados alemães.
Há de se salientar, porém, que nas áreas de ciências humanas, há relativamente muitas mulheres trabalhando nas universidades, o que já não acontece em matemática ou ciências naturais, por exemplo, onde há apenas 11% das cadeiras ocupadas por professoras.
"Bolsa-faxineira"
Para apoiar as cientistas exatamente em áreas como essas, a vencedora do Prêmio Nobel de Medicina, Christiane Nüsslei-Vollhard, criou uma fundação que oferece atualmente bolsas de estudo a 30 pesquisadoras. O dinheiro dessas bolsas, no entanto, não é destinado a viagens ou participação em congressos e material de trabalho, mas sim ao pagamento de faxineiras e pessoas que auxiliam no cuidado das crianças.
"Para trabalhar com ciência, é preciso ter tempo e energia. E uma criança toma naturalmente muito tempo. Além disso, há ainda todo o trabalho com a casa, a lavagem de roupas e as compras. Foi daí que tive a idéia de que seria, para as pesquisadoras, uma grande ajuda ter quem pagasse essas coisas que não têm nada a ver com a criança e nem com o trabalho diretamente", conta Nüsslei-Vollhard.
Curto e longo prazo
Pois essas dificuldades domésticas continuam sendo, como no passado, um problema para as mulheres na Alemanha. Enquanto muitos professores universitários têm mulheres que se dedicam aos afazeres domésticos e os auxiliam no dia-a-dia, as cientistas são muitas vezes casadas com homens que também seguem suas carreiras normalmente. Quando esses casais têm filhos, na maioria das vezes quem sai perdendo é a mulher.
Para Nüsslei-Vollhard, no entanto, as "bolsas-faxineiras" são apenas o começo de uma série de mudanças necessárias. Para que sejam implementadas novas condições a longo prazo, que facilitem a vida das mulheres, é preciso haver um envolvimento maior também dos homens, observa Anina Mischau, do Centro Interdisciplinar de Pesquisa de Gêneros da Universidade de Bielefeld.
Participação masculina
"Se houvesse um número maior de homens lutando pela igualidade de direitos entre os sexos, muito provavelmente seríamos hoje mais bem-sucedidas nesta luta. Só com o apoio das próprias mulheres não vamos conseguir nada", diz Mischau. Para mudanças de longo prazo, é preciso que haja no país uma virada na postura masculina e modificações nos bastidores das universidades, reclama a pesquisadora.
Entre as medidas a serem tomadas estão mais postos de trabalho fixo para mulheres, além de creches com horários flexíveis dentro dos campus universitários. E a obrigação das escolas superiores de nomear mais mulheres para suas cátedras.
Um primeiro passo neste sentido foi dado recentemente: o governo federal e os estados alemães garantiram que serão criados, nos próximos cinco anos, 200 cadeiras destinadas somente às mulheres dentro das universidades do país. Uma pequena parcela do total de 38 mil cadeiras de que as universidades alemãs dispõem.