Três perguntas, três respostas
27 de março de 2015Vó, você sabia algo a respeito dos gulags?
Com esta pergunta deixei minha vó atônita, tendo que explicar logo a seguir que a abreviatura gulag remete aos campos de trabalho forçado para prisioneiros soviéticos. Aí resolvo fazer a pergunta de maneira mais simples: "Você sabia alguma coisa a respeito das prisões?" Ela responde com um sacudir de ombros e completa: "As pessoas eram confinadas. Tinha disciplina na época de Stalin. Por quaisquer cinco espigas a pessoa era levada presa."
A expressão "Lei das Cinco Espigas" é uma invenção popular. Tratava-se, na verdade, da "Lei para Proteção da Riqueza Socialista". No dia 7 de agosto de 1932, o governo soviético tornava público que qualquer pessoa que viesse a roubar algo num kolkhoz (fazenda coletiva) estaria sob ameaça de pena de morte ou de mais de dez anos de prisão. A lei provocou aprisionamentos em massa, cujas razões eram muitas vezes banais, a ponto de o governo chegar a admitir que tinha cometido "exageros". Em 1936, já aconteceram as primeiras revisões, ou seja, milhares de pessoas que haviam sido condenadas injustamente puderam voltar para casa.
"Quando o superior não estava de olho, era possível esconder algumas espigas para comer depois", conta minha vó. Ela fazia o que muitas outras pessoas também fizeram, porque depois da guerra a fome assolou o país. A "Lei das Cinco Espigas" foi substituída em 1947 por novos decretos antirroubo, o que não melhorou em nada a situação.
"Segundo dados disponíveis até hoje, aproximadamente 1,3 milhão de pessoas foram condenadas até o ano de 1953, com base nos decretos de 4 de junho de 1947", escreve a historiadora Beate Fieserer no projeto 100(0) documentos-chave para a história russa e soviética. Os prisioneiros chegavam aos campos dos gulags, onde todo ano morriam milhares de pessoas submetidas ao trabalho forçado sob condições desumanas. Esse sistema de prisões só foi extinto em 1960.
O que levou à inflação nos anos 1990?
Eu já sabia que meus avós tinha perdido todas as suas economias. Isso aconteceu nos anos 1990 com milhões de pessoas nos países que formavam a antiga União Soviética. Eu pensava que minha vó saberia me explicar como isso aconteceu. Mas ela diz: "Não estudei". Ela sabe apenas que a inflação devorou seu dinheiro.
Isso aconteceu em janeiro de 1992. O governo russo ordenou uma liberalização dos preços. Esse era, na realidade, um passo importante rumo à economia de mercado. As prateleiras dos supermercados estavam vazias, e o país corria risco de fome generalizada. A "terapia de choque" na Rússia, contudo, não foi pensada tendo em vista a política financeira. Depois da liberalização dos preços, a maioria das empresas não registra faturamento algum. O Banco Central teve que imprimir dinheiro, e a taxa de inflação chegou a 2600% no fim do ano.
Nessa época, a União Soviética já não existia mais formalmente, mas economicamente todos os países que formavam a então URSS continuaram muito ligados ao antigo sistema. O rublo bielorrusso só foi introduzido em maio de 1992, quando as economias em rublos soviéticos passaram a não valer mais nada. Houve protestos contra essa reforma, mas minha avó diz que "com ou sem protestos, o dinheiro sumiu e não voltou mais".
Vó, você sabe o que é um ditador?
Ela sorri: "Não sei, porque não aprendemos isso na escola". Não pergunto a ela se o presidente de Belarus, Aleksandr Lukashenko, é um ditador. Ela não o vê assim e não sabe que os países ocidentais o descrevem como tal. Como muitas outras pessoas no país, minha vó o apoia. Segundo o Instituto Independente de Estudos Socioeconômicos e Políticos (IISEPS, na sigla em inglês), sediado na Lituânia, em março de 2014, um total de 39,8% do eleitorado apoiava Lukashenko. Na enquete, o Instituto apontou ainda que a aprovação de Lukashenko havia subido cinco pontos percentuais em três meses.
Alexander Klaskovski, analista da agência independente de notícias BelaPAN, associa esse aumento de popularidade do presidente aos fatos recentes acontecidos na Ucrânia. Os bielorrussos não querem em seu país protestos como os vistos na Maidan (Praça da Independência), em Kiev. Isso ficou claro também através de outra enquete realizada pelo IISEPS em março de 2014: "Você quer que aconteça em Belarus algo semelhante ao que ocorreu na Ucrânia?". Apenas 3,6% dos participantes responderam "sim".
A escritora bielorrussa Svetlana Alexievich, ganhadora do Prêmio da Paz do Comércio Livreiro Alemão, afirmou em entrevista à Deutsche Welle: "Quando vi a coragem dos ucranianos indo às ruas e como esses jovens estavam morrendo, tive sentimentos contraditórios. Por um lado, senti orgulho e admiração, mas por outro, penso que o preço disso é muito alto. Não gosto de revoluções, prefiro processos lentos de desenvolvimento".
O mais importante para os bielorrussos é manter a paz. "Tudo menos uma guerra" é um dos lemas correntes no país. Para isso, eles estão sempre dispostos a pagar um preço. Afinal, durante a Segunda Guerra Mundial, o país perdeu nada menos que 20% de sua população. E a memória desses tempos ainda está viva na cabeça das pessoas.