Peru vive novo dia de caos com onda de protestos
20 de janeiro de 2023Milhares de manifestantes protestaram em Lima nesta quinta-feira (19/01) pedindo a renúncia da presidente do Peru, Dina Boluarte. O protesto acabou em confronto com a polícia e num incêndio de grandes proporções no centro da capital. Desde o início de dezembro, o país vive uma crise política e caos, que tiveram origem com a deposição do ex-presidente Pedro Castillo, após uma tentativa frustrada de dissolver o Congresso.
Grande parte dos manifestantes veio de outras regiões do país. A polícia estimou a presença de 3,5 mil pessoas no protesto, enquanto outras estimativas sugerem o dobro desse número.
Os confrontos começaram quando manifestantes tentaram chegar a prédios importantes, incluindo o Congresso. A polícia usou gás lacrimogêneo para impedir o avanço do grupo, que respondeu atirando pedras. Cerca de 11,8 mil agentes de segurança foram mobilizados para controlar os distúrbios.
Depois de horas de confrontos, à noite, um incêndio de grandes proporções devastou um prédio histórico próximo à região para onde os manifestantes recuaram. Ainda não se sabe o que provocou as chamas. Segundo os bombeiros, o prédio que pegou fogo estava vazio, mas imóveis vizinhos foram desocupados por segurança.
O ministro peruano do Interior, Vicente Romero, desmentiu os boatos de que o fogo começou com uma bomba de gás lacrimogêneo usada pela polícia. Romero também informou que 22 policiais e 16 civis ficaram feridos nos confrontos.
Boluarte acusa manifestantes e apela para o diálogo
Em um discurso transmitido na televisão na noite desta quinta, a presidente do Peru acusou os manifestantes de quererem "quebrar o Estado de direito" e de "gerar caos e desordem para tomar o poder da nação".
Ao lado de ministros, Boluarte assegurou que, apesar do aumento dos confrontos, mantém o apelo ao diálogo com as forças políticas e sociais que exigem a sua renúncia. "Eles estão errados, do governo dizemos ao povo peruano: a situação está controlada e será controlada", prometeu.
Boluarte assumiu o cargo em 7 de dezembro de 2022, depois que o então presidente Pedro Castillo, eleito em junho de 2021, tentou dissolver o Parlamento e foi preso sob a acusação de golpe de Estado.
Desde então, o país vive uma onda de revolta popular. Os manifestantes pedem a renúncia de Boluarte, a dissolução do Parlamento e a convocação de novas eleições. O Peru enfrenta a crise política mais violenta em mais de duas décadas, que destacou a profunda divisão do país entre a elite urbana, amplamente concentrada em Lima, e as áreas rurais mais pobres.
No discurso, a presidente também elogiou o trabalho da polícia, que descreveu como "imaculado". No entanto, várias organizações de defesa dos direitos humanos, incluindo a Anistia Internacional e o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, exortaram as autoridades peruanas a eliminarem o "uso indevido da força contra a população civil" e assegurarem o respeito pelos direitos humanos. A polícia foi acusada de usar armas letais nos protestos.
Protestos no Peru já deixam mais de 50 mortos
Além de Lima, houve protestos em outras regiões do país, que também registraram confrontos entre manifestantes e policiais. Em Arequipa, a segunda cidade mais populosa do país, o confronto deixou um morto, elevando assim para 54 o total de mortos nos protestos que acontecem desde dezembro.
Os protestos registraram ainda tentativas de tomar os aeroportos de Arequipa, Cuzco e Juliaca. Em Arequipa, a polícia e os militares repeliram uma tentativa de tomada do aeroporto por manifestantes, embora os confrontos tenham durado várias horas.
Também na quinta-feira, o Peru estendeu às regiões de Amazonas, La Libertad e Tacna o estado de emergência que já tinha sido imposto em sete regiões do país para tentar conter o caos gerado com os protestos.
cn/ek (Efe, Lusa, Reuters, AFP, AP)