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PF encontra decreto de estado de sítio em sala de Bolsonaro

9 de fevereiro de 2024

Documento não assinado descreve ordem para ruptura do Estado de Direito "dentro das quatro linhas" e decreta Garantia da Lei e da Ordem. Texto foi encontrado durante operação que investiga tentativa de golpe de Estado.

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Policiais colocam em porta-malas de viatura documentos apreendidos na sede do Partido Liberal (PL) de Jair Bolsonaro em Brasília
Policiais retiram documentos apreendidos na sede do Partido Liberal (PL), de Jair Bolsonaro, em BrasíliaFoto: Sergio Lima/AFP

A Polícia Federal (PF) encontrou nesta quinta-feira (08/02), durante operações de busca e apreensão na sede do Partido Liberal (PL), em Brasília, um documento não assinado que anuncia a decretação de um estado de sítio e da Garantia da Lei e da Ordem no Brasil.

O documento foi encontrado na sala do ex-presidente Jair Bolsonaro na sede do PL, em uma das missões de busca e apreensão realizadas pela PF durante a Operação Tempus Veritatis, que investiga uma suposta organização criminosa que teria atuado na tentativa de golpe de Estado e abolição do Estado democrático de direito. O objetivo do grupo era rejeitar uma possível derrota eleitoral de Bolsonaro e encontrar meios de mantê-lo no poder. 

No documento apócrifo, redigido em forma de discurso, é mencionada a "necessidade de restauração da segurança jurídica e de defesa às liberdades em nosso país".

Com citações ao "princípio do iluminismo" e ao filósofo grego Aristóteles, o texto afirma que a "restauração" – na verdade, uma ruptura – do Estado democrático de direito deveria ocorrer "dentro das quatro linhas da Constituição", uma expressão bastante utilizada por Bolsonaro.

"Afinal, diante de todo o exposto, e para assegurar a necessária restauração do Estado Democrático de Direito no Brasil, jogando de forma incondicional dentro das quatro linhas, com base em disposições expressas da Constituição Federal de 1988, declaro o estado de Sítio e, como ato contínuo, decreto Operação de Garantia da Lei e da Ordem", diz o texto.

O documento foi encontrado na mesma operação que acabou com a prisão do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, por porte ilegal de arma, também na sede do PL em Brasília.

Mandados de busca e apreensão

A operação da PF nesta quinta-feira teve como alvo, além de Bolsonaro, vários ex-membros de seu governo e aliados, como o ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Augusto Heleno, e os ex-ministros Braga Netto (Casa Civil) e Anderson Torres (Justiça).

Até o momento, foram presos na operação Filipe Martins, ex-assessor para Assuntos Internacionais da Presidência, e o coronel Marcelo Câmara, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro na Presidência e atual segurança do ex-presidente contratado pelo PL.

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Bolsonaro teve seu passaporte apreendido e foi proibido de fazer contato com os demais alvos da operação.

Ao todo, foram cumpridos 33 mandados de busca e apreensão e quatro mandados de prisão preventiva, além de 48 medidas cautelares que incluem a proibição de manter contato com outros investigados, de se ausentar do país – com entrega dos passaportes – e a suspensão do exercício de funções públicas. Ao menos 16 alvos da operação são militares.

A operação, deflagrada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexander de Moraes, é decorrente da delação do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e de outras investigações.

Minuta golpista

Durante as investigações, a Polícia Federal descobriu uma minuta golpista que previa a prisão do próprio Alexandre de Moraes, do também ministro do STF Gilmar Mendes, e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG).

Segundo a PF, Bolsonaro recebeu a minuta de seus assessores Filipe Martins e Amauri Feres e pediu para que fossem retirados os nomes de Mendes e Pacheco, mantendo o de Alexandre de Moraes, assim como um trecho que previa a realização de novas eleições.

A minuta com as alterações pedidas por Bolsonaro foi encontrada na residência de Anderson Torres em operação realizada após os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, quando ocorreram os ataques às sedes dos Três Poderes em Brasília.

A PF afirma que os bolsonaristas monitoravam a agenda e os voos de Moraes em tempo integral no intuito de prendê-lo, caso houvesse o golpe. O PL, segundo a corporação, foi usado para financiar narrativas de apoio de ataques às urnas, como o relatório apresentado em dezembro de 2022 pela coligação da candidatura de Bolsonaro à reeleição, que questionava o resultado da eleição.

rc/gb (ots)