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Plantar no quintal do vizinho?

(rr)26 de julho de 2004

A transferência de vagas para países de mão-de-obra barata é tema de acirrado debate na Alemanha, com empresas ameaçando funcionários para forçá-los a abrir mão de concessões trabalhistas. Especialistas vêem vantagens.

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Funcionários da DaimlerChrysler protestam em MannheimFoto: AP

Foi um fenômeno típico dos anos 90, a transferência de mão-de-obra para países onde ela custa menos, visando ao corte de custos. Agora, diversas empresas alemãs vêm descobrindo a tática como uma arma eficaz para forçar trabalhadores a abrir mão de vantagens adquiridas. Face ao desemprego crescente, a discussão tem se tornado cada dia mais delicada.

Segundo Stephan Wimmers, da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK), "houve nos anos 90 uma onda de deslocamento de mão-de-obra manufatureira para fora do país. Mas agora a Alemanha também está perdendo empregos de alta qualidade e capital intensivo".

Tal tendência começou a ser observada desde a ampliação da União Européia, quando os estados vizinhos da Polônia e da República Tcheca ingressaram na comunidade. Poucos meses depois, a Siemens convenceu seus operários a elevar a carga semanal de 35 para 40 horas de trabalho, sob ameaça de transferir 2 mil empregos para a Hungria.

Autofabrik (AUDI)
Linha de produção em fábrica da Audi na HungriaFoto: AP

Recentemente, a montadora de veículos DaimlerChrysler tentou o mesmo caminho, impondo um corte anual de 500 milhões de euros nos custos como condição para evitar a transferência de 6 mil empregos para fábricas em Bremen e na África de Sul, onde a mão-de-obra é mais barata. A discussão abriu os olhos da nação e levou a um resultado considerado histórico: a semana de 40 horas voltou, mas os empregos estão garantidos por contrato até 2012. Além do mais, a chefia da empresa aceitou reduzir em 10% seu próprio salário.

O caminho alemão

Segundo Andrew Parker, analista da empresa de consultoria em tecnologia Forrester, até hoje "o interesse da Alemanha na terceirização tem sido muito menor em comparação aos EUA e ao Reino Unido". Mas isso está começando a mudar, admite, e, ao que parece, a Alemanha está escolhendo um caminho próprio.

Call Center training in Indien
Treinamento de call center na ÍndiaFoto: AP

Diferentemente dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha, onde os setores de gerenciamento de informação e atendimento ao cliente (call centers) são os mais afetados pela terceirização, na Alemanha o fenômeno vem se estendendo aos mais diversos setores da indústria. Esses dois exemplos clássicos de outsourcing, explica, esbarram nas rígidas leis trabalhistas alemãs, em questões lingüísticas e na própria natureza conservadora da cultura empresarial alemã.

Outra particularidade é o interesse alemão na região do Leste Europeu. Enquanto a Índia permanece o principal parceiro dos EUA e do Reino Unido na terceirização, a Alemanha tem demonstrado maior interesse nos países vizinhos. Embora a mão-de-obra seja mais cara, a região oferece vantagens como conhecimentos da língua alemã e proximidade geográfica.

Gerando empregos no país

Terceirização, no entanto, não significa apenas cortar empregos em casa e gerar novos no vizinho. Novos empregos surgem também na Alemanha. "Queremos contratar muitas pessoas ", disse Debjit Chaudhuri, presidente da divisão alemã da companhia indiana de software e serviços de terceirização Infosys Technologies. Segundo Chaudhuri, o escritório em Frankfurt, que conta atualmente com 200 funcionários, terá de ser expandido para atender à crescente demanda alemã.

Além do mais, Chaudhuri está treinando a mão-de-obra indiana para que se familiarize com a cultura alemã. "Eles podem não estar todos na Alemanha, mas precisam saber como as coisas são por aqui. A idéia é ser o mais alemão possível".