Poluição volta a crescer
31 de outubro de 2006A Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UNFCCC) apresentou nesta segunda-feira (30/10), em Bonn, a publicação GHG data 2006 (Dados sobre a Emissão de Gases Estufa 2006). O estudo traz os dados colhidos entre 1990 e 2004, em 41 países industrializados pertencentes ao Anexo I da Convenção.
Segundo o documento, houve queda de 3,3% na emissão de gases poluentes, no período. Os setores que mais contribuíram foram a agricultura, que registrou queda de 20,0%, e os processos industriais, onde a baixa na emissão de gases chegou a 13,1%. No setor de energia ocorreu a menor queda na liberação dos gases (0,4%), pois aumentaram bastante as emissões provenientes dos transportes: subiram 23,9%.
Os dados revelam que, dos 41 países que compõem o Anexo I, 22 conseguiram diminuir as emissões, sendo que países do Leste ou Centro da Europa foram responsáveis por 36,8% do decréscimo total. Já em 19 países, as emissões aumentaram em 11%.
Apesar de terem diminuído as emissões na comparação entre 1990 e 2004, tomando-se o ano de 2000 como referência, houve crescimento de 2,4% em 2004, sendo que apenas sete nações conseguiram baixar a poluição atmosférica neste último período. "O fato preocupante é que as economias em transição, que foram as principais responsáveis pelas reduções dos países industrializados até agora, formam um grupo que experimentou um crescimento nas emissões de 4,1% entre 2000 e 2004," disse o secretário executivo da UNFCCC, Yvo de Boer.
Sob a influência de Kyoto
Considerando-se os 35 países do Anexo I que têm metas de redução definidas pelo Protocolo de Kyoto (em média 5% abaixo do índice de 1990, até 2012), as emissões de gases poluentes aumentaram 2,9% desde 2000. "Isto significa que os países industrializados precisarão intensificar seus esforços para implementar fortes políticas que reduzam as emissões de gases estufa", acrescentou De Boer.
Apesar de a poluição ter crescido nos últimos quatro anos, as metas gerais estão sendo cumpridas, estando as emissões 15,3% abaixo do nível de 1990. Ainda segundo De Boer, o destaque positivo é que o desafio foi bem entendido e o Protocolo de Kyoto já funciona, "guiando as partes do Anexo I nas opções de políticas de identificação e implementação, incluindo mecanismos de flexibilidade, para atingir as metas".
Situação da Alemanha
Os níveis de poluição variam muito de um país para o outro. Enquanto na Lituânia houve queda de 60,4%, de 1990 a 2004, na Turquia o problema aumentou 72,6%, no mesmo período.
A Alemanha é um dos países que está perto de atingir a meta estabelecida em Kyoto. O país precisa reduzir as emissões em 21% até 2012. Em 2004, chegou a baixar em 17,2% a liberação de gases poluentes.
Em Berlim, o ministro do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, declarou que as novas tecnologias na luta contra as mudanças climáticas e a poluição ambiental deveriam se tornar o pilar central da economia do país.
"Estamos falando de trilhões de euros e de mercados que serão decisivos no século 21", disse o ministro. Gabriel sugeriu ainda a criação de um "gabinete industrial, cuja proposta consistiria em estimular a inovação no setor verde". Os investimentos neste setor resultariam em "duplicação dos dividendos," ou seja, contribuiriam para preservar o meio ambiente e trariam lucros para as empresas do setor.
Conferência das Partes
Os dados da publicação GHG data 2006 serão apresentados na Conferência das Partes, que acontece em Nairobi, Quênia, de 6 a 17 de novembro de 2006.
O relatório traz pela primeira vez os números da Turquia e os dados completos da Rússia, desde 2000. Não há novos dados sobre o assunto, no que se refere ao Brasil, bem como sobre outros países em desenvolvimento.
O governo brasileiro prepara uma proposta para que países em desenvolvimento recebam dinheiro, se não destruírem suas florestas. De acordo com o chefe da Assessoria Internacional do Ministério do Meio Ambiente do Brasil, Fernando Lírio, a idéia é que se calcule um índice médio e histórico de desmatamento dos países em desenvolvimento. Quem conseguir reduzir a destruição das florestas receberá incentivo financeiro porque estará baixando a emissão de gás carbônico na atmosfera. O componente químico é liberado durante as queimadas, por exemplo, e contribui para o aquecimento global.
Feng Gao, membro do Secretariado Executivo da UNFCCC, diz que não acredita na viabilidade da proposta. Segundo ele, "trata-se de pagar as pessoas que vivem do desmatamento. Se este meio de sustento for suspenso, como irão sobreviver estas pessoas? A proposta envolve muito dinheiro e ninguém é rico o suficiente para pagar por isto. Os países desenvolvidos não estão preparados para assumir este encargo".