Polícia russa quer interrogar Navalny na Alemanha
11 de setembro de 2020A polícia da Rússia afirmou nesta sexta-feira (11/09) que buscará autorização para interrogar o líder oposicionista Alexei Navalny na Alemanha. O ativista está sendo tratado num hospital em Berlim, para onde foi transferido após ter sido envenenado em território russo.
Um dos maiores críticos do governo do presidente Vladimir Putin, Navalny passou mal a bordo de um avião na Sibéria, onde chegou a ser hospitalizado antes de ser transportado em coma induzido para a capital alemã. Ele saiu do coma na última segunda-feira.
No início do mês, o governo alemão afirmou que exames comprovaram "de modo inequívoco" que o russo foi envenenado com um agente químico neurotóxico do grupo Novichok, desenvolvido por cientistas soviéticos na década de 1970.
Moscou, por sua vez, nega a hipótese e insiste que médicos russos não encontraram traços de veneno em seu organismo. Nesta sexta-feira, o ministro do Exterior russo, Serguei Lavrov, reiterou que as acusações alemãs são "infundadas".
O departamento de transportes do Ministério do Interior russo na Sibéria, que apura os últimos passos de Navalny antes do incidente, comunicou que pedirá autorização das autoridades da Alemanha para que oficiais russos sejam enviados ao país para acompanhar os alemães no caso.
Segundo a pasta, "esse pedido incluirá uma solicitação para a possível presença de investigadores de assuntos internos russos e de um especialista russo enquanto colegas alemães estiverem conduzindo investigações com Navalny, médicos e especialistas", assim como um pedido de autorização para fazer perguntas adicionais ao líder oposicionista.
Mais tarde nesta sexta-feira, um porta-voz do governo alemão disse que Berlim ainda não recebeu esse requerimento do governo russo.
Se for feito, o pedido não parece ter grandes chances de sucesso, uma vez que a Alemanha insiste na hipótese de envenenamento e vem exigindo explicações de Moscou – um pedido fortemente ecoado por outros países ocidentais.
Alemanha avalia sanções à Rússia
Pressionado por alguns políticos alemães, o ministro do Exterior, Heiko Maas, afirmou no último fim de semana que a Alemanha cogita discutir possíveis sanções à Rússia pelo envenenamento.
"Se nos próximos dias a Rússia não ajudar a esclarecer o que aconteceu, seremos obrigados a discutir uma resposta com nossos aliados", disse o ministro, em entrevista ao jornal Bild am Sonntag.
Alguns políticos internacionais já disseram que o envenenamento parece ter sido obra do Estado russo para "silenciar" o ativista e vêm exigindo que Moscou prove sua inocência.
Na quarta-feira, o secretário de Estado dos Estados Unidos, Mike Pompeo, afirmou haver uma "chance substancial" de que a ordem para envenenar Navalny tenha "vindo de altas autoridades russas", uma alegação que o Kremlin condenou como "inaceitável".
Aliados do líder oposicionista defendem que o uso do Novichok, um agente nervoso de nível militar, comprova que apenas o Estado russo pode ter sido o responsável. A substância é conhecida por ter sido usado em outros ataques contra opositores de Putin.
O caso gerou apelos internacionais para que a Rússia conduza uma investigação transparente, mas o país não abriu ainda uma investigação criminal, insistindo que seus médicos não encontraram evidências de veneno nos exames realizados quando Navalny estava internado na Sibéria.
Investigações na Rússia
A polícia de transportes da Sibéria tem feito uma "checagem" dos últimos passos do ativista e, nesta sexta-feira, divulgou algumas de suas descobertas, que incluem uma linha do tempo de eventos que antecederam a hospitalização.
Os oficiais identificaram onde Navalny se hospedou, onde se alimentou e o que comeu e bebeu, mencionando que ele consumiu vinho e um coquetel alcoólico – antes, a porta-voz do russo havia negado veementemente alegações de que ele havia consumido álcool.
Os agentes também confirmaram que Navalny esteve em um estabelecimento chamado Vienna Coffeehouse no aeroporto da cidade de Tomsk, onde seus aliados acreditam que ele foi envenenado com uma xícara de chá.
A polícia disse ainda que interrogou quase todas as pessoas que acompanharam Navalny na viagem, com exceção de uma mulher, Marina Pevchikh, que "vive permanentemente no Reino Unido".
Segundo os agentes, eles buscam agora rastrear todos os passageiros do voo que partiu de Tomsk com destino a Moscou, durante o qual Navalny passou mal em 20 de agosto.
EK/afp/rtr/lusa