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Política econômica pode decidir a eleição

24 de outubro de 2012

As propostas para a economia são o ponto em que as diferenças ideológicas entre Obama e Romney ficam mais claras. Saiba o que os candidatos propõem para os impostos e os gastos com saúde e defesa.

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Foto: AP

Com uma taxa de desemprego persistentemente em torno dos 8% e uma economia desaquecida, não é surpresa que a política econômica seja o assunto que pode decidir a eleição americana.

Some-se a isso um desafiante – o republicano Mitt Romney – que se apresenta aos eleitores como um empresário bem-sucedido e um especialista em reverter situações negativas – algo sob medida para a ocasião – e o resultado da eleição parece certo.

Mas não é. Os eleitores continuam colocando a economia como o assunto mais importante na eleição de novembro. Isso pode significar duas coisas para as propostas econômicas já apresentadas pelos candidatos:

Ou Romney não ganhou a confiança dos eleitores de que ele e seus planos são melhores do que os do presidente Barack Obama – e isso aconteceu porque ele não foi bem-sucedido ao expor suas credenciais e seu programa, como os seus críticos republicanos argumentam.

Ou os eleitores entenderam as propostas de Romney e as rejeitaram por acreditar que elas não são melhores do que as de Obama, como os democratas argumentam.

A seguir estão três tópicos econômicos fundamentais – impostos, sistema de saúde e defesa – e as propostas de Obama e Romney.

Barack Obama / USA / US-Präsident
Obama planeja impostos mais altos para os americanos mais ricosFoto: dapd

Impostos

Obama quer aumentar os impostos das famílias que ganham mais de 250 mil dólares por ano ou das pessoas que recebem mais de 200 mil dólares anuais. Para esse grupo, o plano do presidente é aumentar a taxa de imposto de renda de 35% para 39,6%. Essa elevação no andar de cima permitiria a Obama manter os níveis atuais para os demais contribuintes.

"O plano de Obama não mudaria nada para a maioria dos americanos e significaria um aumento de impostos bem modesto para quem ganha bem", diz a professora de ciências políticas Andrea Louise Campbell, do Massachusetts Institute of Technology (MIT). "Significaria elevar a taxa para o mesmo patamar do governo Clinton."

Romney quer um corte de 20% para todas as categorias. "A grande diferença é que o plano de Romney realmente não especifica como ele vai compensar essa redução de 20%", afirma o professor de políticas públicas Robert Inman, da Universidade da Pensilvânia.

Inman, que diz apoiar a redução dos impostos, a princípio, afirma que, para poder pagar por esses cortes, Romney teria de eliminar muitas possibilidades de deduções existentes para a maioria dos americanos. Por exemplo a possibilidade de deduzir o pagamento de hipotecas de residências, taxas municipais e estaduais e doações para a caridade.

Romney, afirma Inman, teria a obrigação de eliminar essas deduções para manter o orçamento equilibrado. Mas como muitos americanos se beneficiam dessas isenções, é muito arriscado do ponto de vista político explicar isso numa campanha eleitoral.

Romney também quer eliminar o imposto sobre herança. Obama quer mantê-lo com um percentual máximo de 45% e isenções acima de 3,5 milhões de dólares.

O republicano planeja manter a taxa sobre ganhos de capital em 15%, enquanto Obama quer passá-la para 20%.

Romney, observa Campbell, quer reduzir o chamado "crédito para o imposto de renda" – basicamente uma restituição de imposto de renda para trabalhadores de baixa renda. Ou seja, na prática, isso significaria elevar impostos para quem ganha menos.

Mitt Romney Replace Obamacare
Romney quer acabar com o Obamacare e elevar a participação privada na saúdeFoto: picture alliance/ZUMAPRESS.com

Sistema de saúde

O sistema de saúde nos EUA não é só uma importante questão social, mas também econômica. Cerca de 20% do orçamento público é gasto com saúde. Isso significa que o país é o que mais gasta nessa área, apesar dos milhões de americanos que não têm seguro de saúde.

Mais que impostos, política de saúde é a área que apresenta o maior contraste ideológico entre Obama e Romney. Basicamente, Romney quer, no longo prazo, privatizar ou cortar drasticamente os gastos com saúde, enquanto Obama procura fortalecer ou expandir os programas do governo.

Romney quer revogar a reforma da saúde criada por Obama, que expandiu a cobertura do seguro de saúde para milhões de pessoas que até então não tinham nada. "Nossa taxa de não-segurados continuaria de um em cada seis americanos num eventual governo Romney", conclui Campbell.

Para completar, Romney quer uma revisão completa nos programas de saúde existentes. O republicano transformaria o Medicare, o sistema de saúde para idosos, num "programa-cupom" de valor limitado, com os quais os idosos poderiam adquirir planos de saúde no mercado privado.

E se o valor do seguro privado custar mais do que o valor do cupom, os idosos teriam que pagar a diferença do próprio bolso, explica Campbell. Por um lado, essa é uma excelente maneira de controlar os gastos com saúde, por outro eleva os custos para os idosos. "E é importante notar que o Medicare, na sua forma atual, já é visto como inadequado, pois os idosos ainda pagam do próprio bolso por metade dos gastos médicos."

O Medicaid, o programa de saúde do governo para os mais pobres, também enfrentaria cortes drásticos num eventual governo Romney. Atualmente, o governo federal e os estados dividem os custos do Medicaid.

"Pelo plano de Romney e Ryan, cada estado receberia uma quantia determinada de dinheiro do governo federal, e essa quantia diminuiria com o passar do tempo. Na prática, cada vez menos pessoas de baixa renda teriam condições de ter atendimento de saúde com a proposta de Romney a longo prazo", diz Campbell.

Já Obama quer manter os atuais serviços de saúde gerenciados pelo governo, tornando-os mais eficientes.

"A ideia de Obama, de que vamos economizar dinheiro por meio de ações preventivas, ainda precisa ser provada", diz Inman. Ele afirma que tanto o plano de Romney como o de Obama são "territórios inexplorados". "Não sabemos como essas duas estratégias vão funcionar no controle dos gastos com a saúde."

Defesa

Os Estados Unidos gastam cerca de 20% de seu orçamento com a defesa. No ano passado gastaram mais do que a soma dos dez próximos países da lista ou cinco vezes mais do que a China.

Diante dessa imensa superioridade militar, alguém poderia pensar que, numa época de apertar os cintos, os gastos com defesa também estivessem na lista de cortes.

Mas não estão. Nem Romney nem Obama defendem cortes significativos nesse setor. Romney criticou Obama por enfraquecer o poder militar dos EUA e jurou manter o percentual de 4% do Produto Interno Bruto (PIB) em gastos com a defesa. Na prática, isso significria elevar os gastos militares.

Obama planeja fazer apenas um corte de 1% no orçamento do Pentágono para o ano que vem.

"Nem um dos dois discute cortes porque os americanos simplesmente não entendem isso", diz Inman. A maioria tende a ver os EUA como a polícia do mundo ou o defensor da liberdade, acrescenta. É um tema tabu na política. "Não creio que um dos dois queira abordar isso."

Campbell concorda com essa análise e acrescenta que muitos americanos simplesmente não percebem quão alto é o orçamento para a defesa e como isso afeta investimentos em outras áreas. Além disso, diz Campbell, a opinião pública apoia os altos gastos militares porque o setor emprega muita gente e porque os americanos querem ter força na área militar.

"Ironicamente, existem alguns sistemas militares que o próprio Pentágono já afirmou que não quer e que poderiam ser cortados, mas o Congresso não deixa porque alguns parlamentares vêm de regiões onde estão as fábricas desses sistemas."

Divisão ideológica

Inman diz que a principal diferença entre Obama e Romney é a confiança do presidente em que o governo pode contribuir significativamente para o bem-estar da economia e das pessoas, ao passo que Romney confia que o mercado pode fazer isso muito melhor do que o governo.

Campbell afirma que as propostas de Romney irão reforçar a tendência rumo à desigualdade econômica na sociedade americana. "É a maior discrepância desde a década de 1920 e ela é maior do que na Europa ou no Japão se considerarmos o 1% no topo da pirâmide. Acho muito ruim que tanta riqueza seja concentrada numa pequena parcela da população."

Autor: Michael Knigge (ro)
Revisão: Alexandre Schossler