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Uma 'Opep do gás'?

Esther Hartbrich (av)23 de dezembro de 2008

Grupo dos 14 grandes exportadores de gás – incluindo a Venezuela e o Irã e encabeçados pela Rússia – quer se organizar de forma mais estreita. Gazprom assegura não se tratar de cartel, mas países consumidores temem.

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No passado, desavenças já levaram à suspensão do abastecimentoFoto: AP

A formação de um cartel do gás nos moldes da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) vai tomando forma. Nesta terça-feira (23/12), Moscou convocou uma cúpula de fundação. Convidados foram os ministros da Energia de 14 países exportadores de gás. Já de antemão, os Estados Unidos e a União Européia (UE) expressaram temores que a nova aliança traga conluios com o fim de elevar os preços do produto – como no caso da Opep e o petróleo.

Condições diferentes das do petróleo

O fórum informal de nações exportadoras de gás, fundado em 2001, deverá em breve ser transformado numa organização mais estruturada, com maior influência. Ao assinar um novo estatuto, os 14 países – entre os quais Argélia, Líbia, Venezuela e Indonésia – dão o primeiro passo nessa direção.

A Rússia, o Irã e Catar – que, juntos, possuem mais da metade das reservas de gás do mundo – haviam iniciado a fundação do cartel em outubro último. A organização dos exportadores tem o fim de coordenar a política do gás, melhorar o intercâmbio de informações entre seus participantes e afinar estratégias de incentivo e marketing. Nem sinal do cartel do gás, tão temido pelo Ocidente, assegura Alexander Medvedev, vice-presidente da Gazprom, monopolista do gás russo.

Ele alega não ser possível aplicar os mecanismos da Opep ao mercado do gás. O cartel petroleiro se apóia numa cotização da produção, a fim de influenciar os preços. "Em nosso caso, isso não funciona, pois nossos negócios se baseiam em contratos de longo prazo", e estes definem com precisão as obrigações mútuas entre fornecedores e clientes. "Espero que continue assim", comenta Medvedev.

Contratos de longo prazo e pipelines

Gazprom Hauptquartier in Moskau
Quartel-general da Gazprom em MoscouFoto: AP

A Gazprom tem, por exemplo, contratos com as operadoras alemãs de energia Eon e Wintershall até 2038 e 2043, respectivamente. Isso se deve ao fato de o gás chegar aos consumidores através de canalizações, não podendo ser transportado por ferrovia ou navio. Por esse motivo, não existe um mercado mundial do gás, e seu preço é acoplado ao do petróleo.

O gás líquido, transportável em embarcações, poderia alterar essas relações. Porém ele envolve o congelamento do gás à temperatura de -162ºC, a ser mantida durante todo o transporte, um processo caro e que consome cerca de um quarto da energia fornecida. Por esse motivo, o mercado para esse combustível ainda é reduzido.

Antecipando-se aos EUA e à UE

Os russos argumentam que a nova organização é necessária porque no futuro a extração do gás ficará mais difícil, portanto mais cara. Assim, só através de um consenso entre os membros se poderia garantir o futuro abastecimento de energia.

A Gazprom compara a iniciativa à dos países importadores, que, por sua vez, procuram estabelecer uma política energética comum para fazer frente aos fornecedores. "Acredito que cada uma dessas coordenações será positiva para ambas as partes", comentou um porta-voz da empresa russa.

A Rússia será o membro mais importante e determinante da organização, já que detém 22% do mercado mundial de gás. Seu interesse é, sobretudo, conectar-se com outros grandes exportadores, como o Irã, Catar e os países da Ásia Central, para, deste modo, melhor controlar as vias de exportação. Assim, Moscou espera se antecipar aos Estados Unidos e à União Européia, que buscam fontes alternativas e novos canais de transporte para o gás fora da Rússia.