Sucessão
28 de novembro de 2007A eleição deste domingo (2/12) na Rússia está sendo vista como um referendo sobre a popularidade do presidente Vladimir Putin. Com a incerteza sobre os planos de Putin para o seu futuro e com o Kremlin buscando uma postura internacional agressiva, particularmente em relação aos Estados Unidos, muitos especialistas têm especulado que a Rússia estaria tentando se restabelecer como superpotência global.
Mas o poder militar da Rússia atual não se compararia, nem de longe, ao poder exercido pela antiga União Soviética. Especialistas alemães em Rússia afirmam que haveria poucas razões para se preocupar com um retorno do distanciamento entre a Rússia e o Ocidente da época da Guerra Fria.
Potência mundial ou grande potência?
"A expressão potência mundial não é adequada", comenta o professor de História e Política da Europa Oriental na Universidade de Bremen, Hans-Henning Schröder. "Eu acho que eles querem se tornar uma grande potência. Não no nível dos Estados Unidos, que estão numa dimensão completamente diferente, e isso está claro para o governo de Putin. Mas como a Alemanha ou o Reino Unido: esse é o nível que eles buscam alcançar."
Já para o diretor do Programa Rússia-Eurásia da Sociedade Alemã de Política Internacional (DGAP), Alexander Rahr, a Rússia se vê como uma grande potência – ao contrário da Alemanha, que se veria como parte integrante da União Européia (UE). "Por isso, confrontos entre a Rússia e os Estados Unidos ou a UE são inevitáveis. Mas no futuro teremos um mundo multipolar, no qual também os países muçulmanos, a China e a Índia terão poder. Então haverá rivalidades também com outros países."
O cientista político da Universidade Livre de Berlim, Cristoph Zürcher, afirma que a Rússia tenta marcar presença no campo da política internacional, mas a idéia de uma bipolaridade com os Estados Unidos não deve ser levada muito a sério. "Por outro lado, seria desejável um contrapeso no sentido verdadeiramente multipolar. Mas esse não é o desejo atual da Rússia, que está mais preocupada com interesses nacionais", avalia.
Energia exerce papel limitado
Os vastos recursos naturais da Rússia, principalmente gás natural e petróleo, aumentarão a influência do país nos próximos anos. Mas os especialistas não acreditam que a Europa dependa demasiadamente da energia russa.
"A política externa energética é muito dramatizada", avalia Rahr. "Não somos tão dependentes. A Alemanha compra somente 30% do seu gás natural da Rússia; a França, somente 10%. Realmente dependentes são apenas os países imediatamente vizinhos à Rússia."
Para Zürcher, há uma dependência mútua. "A Europa é o principal consumidor do gás natural russo", avalia. De acordo com Schröder, a Rússia tem um poder econômico semelhante ao da Itália. "Nesse aspecto, é um país realmente pequeno hoje e seu desenvolvimento não deve preocupar países como a Alemanha." Por outro lado, países como a Geórgia, as repúblicas bálticas ou também a Polônia poderiam ser colocados sob pressão, o que causaria um problema para a União Européia, afirma Schröder.
Falta de classe média é grande problema
A Rússia está se tornando mais rica, com taxas de crescimento de até 7% anuais. Porém, os especialistas discordam que a economia russa seja realmente forte e acham que ela precisará se diversificar para além da produção energética.
Na avaliação de Rahr, a Rússia não sofrerá crises financeiras nos próximos dez anos, especialmente porque a demanda energética de países como a China certamente também crescerá. "O grande problema é a destruição da classe média. Isso foi realmente um erro, que precisa ser corrigido", afirma.
Zürcher lembra que a Rússia tem um elevado crescimento econômico, estimulado pelos crescentes preços da energia, mas tem também uma inflação relativamente alta e o setor financeiro é bastante subdesenvolvido. "Além disso, falta uma classe média com poder de compra."
Drama shakespeariano?
É consenso que a eleição de domingo girará em torno de Putin e se ele conseguirá manter um poder significativo, apesar das restrições constitucionais. Mas os especialistas enfatizam, no entanto, que a questão tem mais a ver com a relação entre Putin e a Rússia e menos com os planos de Putin, ou da Rússia, em relação ao mundo.
Para Schröder, "o problema é que todo o poder está concentrado nas mãos do presidente e, quando ele entrega esse poder ao próximo presidente, está, de fato, nas mãos de seu sucessor. O que Putin está tentando é se posicionar de uma maneira que se torne inatingível".
"É quase um drama de Shakespeare", comenta Rahr. "Uma figura histórica e bastante popular tem que partir devido à Constituição, mas o sistema exige que um homem forte permaneça no poder. Uma situação que faz com que o Estado também viva um dilema interno", conclui o diretor do Programa Rússia-Eurásia.