Premiê da Eslováquia deve sobreviver, diz ministro
16 de maio de 2024O primeiro-ministro da Eslováquia, Robert Fico, segue em condição estável, mas seu quadro de saúde permanece "muito grave", anunciou nesta quinta-feira (16/05) o vice-primeiro-ministro Robert Kalinak, um dia após o chefe de governo ser baleado em uma tentativa de assassinato.
Os cirurgiões passaram várias horas na sala de operação durante a noite, tentando salvar a vida do político de 59 anos. "Os médicos conseguiram estabilizar o paciente durante a noite", afirmou Kalinak, que também é ministro da Defesa.
"Infelizmente, o estado de saúde ainda é muito grave porque os ferimentos são complexos", acrescentou o vice-premiê, durante uma entrevista coletiva diante do hospital Roosvelt de Banska Bystrica, na região central do país.
Segundo o ministro do Meio Ambiente, Tomas Taraba, Fico deve sobreviver. "Tanto quanto sei, a operação correu bem e penso que no final ele irá sobreviver", disse Taraba, que também ocupa um dos quatro postos de vice-premiê.
A diretora do hospital, Miriam Lapunikova, afirmou que Fico foi submetido a uma cirurgia que se estendeu por cinco horas. Ela confirmou um quadro "realmente grave" e informou que o primeiro-ministro permanecerá na Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Robert Fico foi baleado na tarde de quarta-feira, no início de uma reunião de gabinete em Handlova, a 150 km da capital do país, Bratislava. O atentado provocou comoção no país. O ataque foi a primeira grande tentativa de assassinato de um líder político europeu em mais de 20 anos e também provocou condenação internacional. O último político europeu de envergadura internacional assassinado no continente foi a ministra das Relações Exteriores da Súecia Anna Lindh, em 2003.
O atentado contra Fico foi filmado. Imagens mostram quando um homem saca uma arma e dispara contra o premiê, junto a uma barreira e alguns curiosos que cumprimentavam o político. O agressor disparou cinco vezes na direção do premiê. As filmagens também registraram agentes de segurança retirando Fico, ferido, do chão e o levando para um veículo preto. Ao mesmo tempo, alguns policiais algemavam um homem na calçada. Outros agentes permaneceram imóveis ou pareciam não entender o que havia ocorrido.
Suspeito é ex-segurança e poeta de 71 anos
O vice-premie Kalinak classificou o episódio como um "ataque político" planejado por um "lobo solitário". "Não foi acidental, mas planejado, porque já houve várias tentativas", disse Kalinak.
A mídia eslovaca noticiou que o suspeito de tentar matar Fico é um homem de 71 anos, ex-segurança de um shopping center, autor de três coleções de poesias e membro da Sociedade Eslovaca de Escritores.
"Não tenho a menor ideia do que meu pai estava pensando, o que estava planejando ou a motivação", disse o filho do suspeito ao site de notícias eslovaco aktuality.sk. Não houve confirmação oficial da identidade e antecedentes do atirador.
Membros do governo afirmam ainda que o agressor não fazia parte de nenhum grupo radical, mas tinha um histórico de participação em protestos contra o governo.
"Ele não é membro de nenhum grupo radicalizado, de direita ou de esquerda, ele é um lobo solitário, cuja atividade se acelerou após as eleições presidenciais", disse o ministro do Interior do país, Matus Sutaj Estok.
A polícia acusou formalmente o suspeito de "tentativa de assassinato por vingança premeditada", um crime que pode levar a uma sentença de 25 anos à prisão perpétua.
Polarização
A polarização política e social que existe na Eslováquia desde antes da pandemia de covid-19 aumentou desde o retorno de Fico ao poder em outubro do ano passado, à frente de uma coalizão de nacionalistas de esquerda e de extrema direita.
Como líder do Smer-SD, nominalmente um partido de esquerda, Fico governou a Eslováquia durante grande parte da última década, apesar das acusações regulares de que havia transformado o país em um "estado mafioso". Depois de sua renúncia após o assassinato do jornalista Jan Kuciak, ele adotou uma roupagem de extrema direita em questões de costumes e na política externa. Fico já havia sido primeiro-ministro de 2006 a 2010 e de 2012 a 2018.
Durante a sua última campanha, se comprometeu a "suspender imediatamente qualquer entrega de ajuda militar à Ucrânia" e disse que não autorizaria a detenção do presidente russo, Vladimir Putin, em obediência a um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI), se ele alguma vez visitasse à Eslováquia.
De volta ao governo, Fico começou a defender o fim da Promotoria anticorrupção, que investigou membros de seu partido; eliminar um canal de TV pública; e restringir a atuação de ONGs, seguindo o modelo da Rússia. Os planos provocaram protestos em massa no país, incentivados pela oposição progressista.
O atentado ocorreu a três semanas das eleições europeias, nas quais se espera que os partidos populistas e de extrema direita devam aumentar suas representações.
jps/le (AFP, EFE, Reuters)