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"Presença de simpatizantes do EI no Brasil era previsível"

Jean-Philip Struck21 de julho de 2016

Segundo especialista, existem indícios da formação de células terroristas no país desde 2015. Ação da PF contra suposta célula que jurou lealdade ao "Estado Islâmico" resultou na prisão de dez pessoas.

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Polícia Federal
Polícia Federal prendeu dez pessoas por suspeita de planejarem atentadosFoto: Brasilia Polícia Federal

A Polícia Federal desencadeou nesta quinta-feira (21/07) uma operação antiterrorismo que resultou na prisão de dez suspeitos, todos com nacionalidade brasileira. Segundo o Ministério da Justiça, alguns membros do grupo juraram lealdade ao grupo radical "Estado Islâmico" (EI) por meio da internet, embora aparentemente não tenham travado qualquer tipo de interação com a organização, baseada na Síria e no Iraque.

Em coletiva de imprensa, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, classificou a suposta célula brasileira como "amadora" e disse que ela ainda não tinha escolhido um alvo específico no país para atacar.

Apesar das dúvidas em relação à real ameaça representada pela célula, o caso acendeu o alarme entre as autoridades a poucos dias do início dos Jogos Olímpicos. Segundo André Luís Woloszyn, especialista em contraterrorismo e analista de assuntos estratégicos, era "previsível" que os serviços de segurança brasileiros encontrassem em algum momento simpatizantes organizados do EI no Brasil.

"Parece que era um grupo amador, mas a existência dessa primeira célula já era um cenário previsível. Existe propaganda do 'Estado Islâmico' em português", afirma. "A influência da propaganda do grupo tem efeitos na Europa, não seria diferente no Brasil. Desde 2015 existem indícios da formação de células desse tipo no país."

Ainda segundo Woloszyn, apesar de até agora as investigações indicarem que o grupo era extremamente amador, a "operação envia um sinal positivo, de que as forças policiais estão trabalhando". Para o especialista, a falta de detalhes sobre o caso pode ser uma indicação de que os serviços de segurança ainda estão tentando entender a extensão do grupo e como ocorreu a sua radicalização.

"Não existem indícios de mesquitas ou imãs no Brasil que estejam radicalizando fiéis. A máquina de propaganda do EI se encarrega disso", afirma, apontando que muitos se convertem e radicalizam pela internet. "Outros podem nem mesmo se converter ao islã, mas simpatizam com o conteúdo violento da propaganda e as ações do grupo. As investigações devem mostrar exatamente qual é o potencial risco representado por essas pessoas."

Whatsapp e Telegram

Entre ações concretas citadas pelo ministro da Justiça há apenas a tentativa de um membro de comprar um fuzil AK-47 em um site paraguaio. Ainda segundo o ministro, eles celebraram em mensagens atentados cometidos pelo EI em outros países e teriam enviado a um dos canais do grupo uma gravação com uma espécie de juramento de lealdade, mas sempre sem interagir com membros oficiais da facção radical.

Segundo o ministro, os suspeitos também não travavam contato pessoal entre si e se limitavam a conversar por aplicativos como o Whatsapp e o Telegram.

Mensagens citadas pelo ministro também indicam que o grupo não tinha treinamento algum – uma delas sugere que eles nem sabiam atirar. Foram divulgados poucos detalhes sobre o perfil dos suspeitos. Segundo o Ministério da Justiça, o líder do grupo estava baseado em Curitiba. As prisões ocorreram em dez estados.

O ministro também não detalhou como a PF chegou aos suspeitos. Moraes afirmou que agentes vinham monitorando mensagens na internet e em aplicativos como o Whatsapp e o Telegram, mas não explicou como a polícia conseguiu contornar os sistemas de criptografia.