Primárias na Pensilvânia ganham valor em disputa acirrada
26 de abril de 2016A Pensilvânia é um dos cinco estados dos Estados Unidos em que, nesta terça-feira (26/04), realizam-se primárias para as eleições presidenciais, ao lado de Connecticut, Delaware, Maryland e Rhode Island.
Normalmente, a esta altura o candidato dos republicanos já está definido, mas não este ano, enquanto não fica claro se o magnata Donald Trump conseguirá a necessária maioria de 1.237 delegados para assegurar a nomeação.
Assim, a Pensilvânia poderá ser o proverbial fiel da balança da atual corrida pela indicação, já que Trump necessita de uma ampla vitória nesta terça para manter as esperanças de conseguir a maioria.
Como lembra Matthew Levendusky, professor de ciências políticas da Universidade da Pensilvânia, a legislação eleitoral do estado no nordeste do Estados Unidos tem uma peculiaridade que até agora "possivelmente só alguns poucos cientistas políticos realmente entenderam".
Ao todo 71 delegados de lá participam da convenção de nomeação dos republicanos, mas apenas 17 estão subordinados à vontade do eleitorado: os demais têm total liberdade para votar em quem quiserem, não importando quem obteve a maioria nas primárias.
Tudo por Trump
Em seu escritório, no térreo de um modesto edifício comercial nos limites de Harrisburg, a capital da Pensilvânia, Marc Scaringi exibe na tela do computador uma foto sua ao lado de Trump. Ele a recebeu depois de dar a palavra de honra de que votaria no bilionário para ser o candidato republicano à Casa Branca.
Se for escolhido delegado, Scaringi viajará para a convenção partidária em que será indicado o candidato presidencial dos republicanos. Em seu distrito, 15 pessoas disputam as três vagas de delegado. "Normalmente o papel de delegado não é muito cobiçado: a pessoa tem despesas para chegar até a convenção. Este ano, porém, é um posto extremamente cobiçado", diz o americano de 45 anos, que concorre pela primeira vez.
Ele tem motivos fortes: "Eu achei que o establishment, ou seja, os homens e mulheres poderosos do Partido Republicano, faria de tudo para impedir a nomeação de Trump." Nesse caso, Scaringi quer ser uma voz forte, pois gosta do que o excêntrico bilionário diz sobre os temas centrais da eleição: imigração, comércio e política externa.
O possível delegado se dedica com entusiasmo à própria candidatura, aparece em programas de rádio e televisão, posta intensivamente no Facebook, participa de debates. No dia da eleição, diante das seções eleitorais, apoiadores de Trump distribuirão cartões em que o pré-candidato recomenda Scaringi e dois outros candidatos que assinaram termos de compromisso com ele.
Vontade dos eleitores passa a ser secundária
Charles Gerow concorre no mesmo distrito que Marc Scaringi. O chefe de uma empresa de comunicação com sede num prédio histórico no centro de Harrisburg se sente politicamente próximo ao ex-presidente Ronald Reagan, para quem trabalhou por 25 anos, antes, durante e depois do mandato na Casa Branca. Até o funeral do republicano ele ajudou a organizar.
"Reagan era um homem de princípios, mas nunca mais vai haver alguém como ele. Precisamos encontrar uma nova geração de líderes", diz o político de 60 anos. Ainda assim, ele está satisfeito com a evolução de sua legenda. "É a primeira vez, que eu me lembre, que o partido não indica simplesmente o próximo da lista."
A energia, o entusiasmo e o interesse nas pré-eleições republicanas estão num nível recorde este ano, e isso, na opinião de Gerow, acaba por influenciar positivamente o país. "No primeiro turno da convenção de nomeação, eu vou votar em quem tiver obtido mais votos da população nas primárias", promete.
Se houver um segundo turno, porém, ele quer decidir livremente. "Vou votar na pessoa que eu considere mais capaz de derrotar Hillary Clinton." Nesse momento, a vontade dos eleitores na primária da Pensilvânia deixa de ter relevância para o possível delegado eleitoral republicano Charles Gerow.