Procurador-geral dos EUA autoriza investigação sobre fraude
10 de novembro de 2020O procurador-geral dos Estados Unidos, William Barr, autorizou os promotores federais a analisarem "alegações substanciais" de fraude nas eleições presidenciais de 3 de novembro, após a derrota do presidente Donald Trump para o democrata Joe Biden.
A decisão de segunda-feira (09/11) reforça os temores de que o republicano use o Departamento de Justiça para tentar impugnar o resultado eleitoral. Trump se recusa a reconhecer a derrota nas urnas e vem alegando fraude na votação, apesar de não haver até o momento nenhum indício de irregularidades.
Os procuradores poderão investigar a contagem das cédulas de voto, algo que normalmente não é permitido até a eleição estar certificada, ou seja, até o vencedor das eleições ser reconhecido formalmente como o próximo presidente dos Estados Unidos.
Biden está à frente de Trump na contagem de votos em vários estados fundamentais para a vitória no pleito, como a Pensilvânia e o Arizona, e projeções da imprensa americana já apontam o democrata como vencedor.
Um memorando enviado por Barr aos procuradores afirma que investigações "poderão ser conduzidas se houver alegações claras e aparentemente credíveis de irregularidades que, se forem verdade, poderão impactar o resultado da eleição" em nível federal em um determinado estado.
Os estados têm até 8 de dezembro para resolver as disputas eleitorais, incluindo as recontagens e contestações judiciais. Os membros do Colégio Eleitoral devem se reunir em 14 de dezembro para finalizar o processo e confirmar formalmente a vitória de Biden.
A campanha republicana entrou com vários processos na Justiça contestando o resultado das eleições. Os juízes rejeitaram as ações impetradas no Michigan e na Geórgia, enquanto especialistas avaliam que as demais tentativas têm poucas chances de mudar o resultado do pleito.
A ordem de Barr levou o diretor da Divisão de Crimes Eleitorais do Departamento de Justiça, Richard Pilger, a pedir demissão. Em um email de circulação interna, o promotor disse que decidiu deixar o cargo após tomar conhecimento da "nova política e suas ramificações".
A política anterior do Departamento de Justiça, criada para evitar interjeições do governo federal nas campanhas eleitorais, sugeria evitar esse tipo de investigação "até a eleição em questão ser concluída", com os resultados certificados e todas as recontagens e contestações resolvidas.
A campanha de Biden criticou a decisão do procurador-geral. "Estas são exatamente o tipo de alegações que o presidente e seus advogados vêm fazendo todos os dias, enquanto seus processos judiciais viram motivo de risos, uma Corte após a outra", afirmou Bob Bauer, um dos principais assessores do democrata.
Trump vem tumultuando o processo de transição, enquanto impede que as autoridades do governo colaborem com a equipe de Biden.
Alguns dos expoentes do Partido Republicano, como o líder da maioria no Senado, Mitch McConnell, defendem os esforços do presidente para pôr em dúvida o resultado das eleições. Poucos republicanos reconheceram a vitória de Biden ou condenaram a contestada atitude do presidente de demitir o secretário de Defesa, Mark Esper.
Alguns no governo esperam que a saída de Esper seja apenas a primeira de várias demissões encaminhadas por Trump de funcionários que ele considera como insuficientemente leais.
Outros que podem perder o cargo são os diretores do FBI, Christopher Wray, da CIA, Gina Haspel, e o especialista em doenças infecciosas Anthony Fauci, que se colocou diversas vezes em oposição a Trump durante o combate à pandemia de covid-19 no país.
RC/rtr/lusa/afp