Afeganistão
31 de julho de 2008O comandante das tropas da Força Internacional de Assistência à Segurança no Afeganistão (Isaf), o general norte-americano David McKiernan, solicitou à Otan o uso de aviões de vigilância do tipo Awacs (Sistema de Controle e Alerta Aéreo, na sigla em inglês).
Trata-se de Boeings 707 modificados, equipados com um sistema especial de radar, capazes de voar a 9 mil metros de altura, permanecer até 11 horas no ar e localizar aviões numa área de mais de 300 mil quilômetros quadrados. Em entrevista à Deutsche Welle, o porta-voz da Otan, James Appathurai, explicou que eles seriam usados principalmente para coordenar o crescente tráfego aéreo, tanto militar quanto civil, no Afeganistão.
“O contingente da Otan ficou muito maior, passando de 6 mil em 2004 para 53 mil. Isso implica um tráfego aéreo muito maior. Mesmo o civil, que antes nem existia, cresceu consideravelmente. Isso precisa ser controlado”, explica Appathurai. “E já que lá não há um sistema de radar terrestre, como na Alemanha ou em outros países europeus, precisamos dos Awacs para cumprir essa complexa tarefa.”
Oposição questiona
A Otan possui 17 aviões Awacs, estacionados na cidade alemã de Geilenkirchen, nas proximidades de Aachen. Sua tripulação é formada por soldados de 15 países-membros da organização, sendo que mais de um terço são alemães. Não é à toa que o possível emprego dos Awacs foi especialmente questionado no país.
“Se seu uso for necessário, será preciso esclarecer minuciosamente se está de acordo com a Constituição alemã”, disse o porta-voz para Política Externa da bancada social-democrata no Parlamento, Gert Weisskirchen, ao jornal Tagesspiegel. O Partido Liberal (FDP) exige que o Bundestag seja consultado. Segundo a vice-líder da bancada, Birgit Homburger, é “absolutamente inaceitável” que a coalizão de governo “tente permanentemente ludibriar o Parlamento”.
Também os Verdes reagiram com ceticismo. Segundo o especialista em Defesa do partido, Alexander Bonde, com o uso dos aviões ficaria extremamente difícil distinguir entre a missão de paz da Isaf e a operação antiterrorismo Enduring Freedom (Preservando a Paz).
Governo retém informações?
À emissora Südwestrundfunk, o vice-presidente da Comissão de Segurança do Bundestag, Karl Lamers (CDU), defendeu o uso dos Awacs. Em resposta às críticas dos parceiros de coalizão social-democratas e da oposição, ele argumenta que se busca um controle mais acirrado do espaço aéreo, que não pode ser oferecido pelos aviões de reconhecimento RECCE, empregados atualmente pela Alemanha.
O deputado democrata-cristão Willy Wimmer cobrou mais clareza do governo. Segundo ele, nem o Talibã nem os pashtus possuem aviões. Ele desconfia que se trate de “possíveis conflitos com o Irã e o Paquistão”, pois só assim o emprego dos Awacs faria sentido.
Wimmer exige que o governo reveja sua política de informação. De fato, o Ministério da Defesa admitiu que vem acompanhando os planos da Otan desde março. Mas, segundo um porta-voz, em nenhum momento houve fatos comprometedores suficientes, que justificassem tornar a coisa pública.
Em junho, o ministro Franz-Josef Jung (CDU) apresentou a proposta de ampliação do mandato da Bundeswehr para o Afeganistão, prevendo um aumento do contingente alemão de 1.000 para 4.500 soldados, sem nem mencionar os planos da Otan com relação aos aviões Awacs.
Também para fins militares?
A Otan não deixou claro se os aviões também deveriam ser usados para fins militares. A decisão ficará a cargo do Comitê Militar da organização, informa Appathurai.Com relação aos receios apresentados pela Alemanha, ele argumenta:
"A Alemanha não está sendo mais afetada que nenhum dos outros membros da Otan que fazem parte da missão envolvendo os Awacs. Além disso, qualquer ação da Otan fora de seus territórios depende de uma decisão política consensual por parte de seus 26 integrantes. Ou seja, todos estão envolvidos".
Para aprovar o uso dos aviões, o governo alemão terá que obter a aprovação de um novo mandato pelo Bundestag. No entanto, o governo prevê que a decisão da Otan não sairá antes de setembro, quando o Comitê Militar da organização debaterá o tema.