Mundo árabe
23 de janeiro de 2011Manifestantes vindos de regiões rurais da Tunísia chegaram neste domingo (23/01) à capital do país para pedir a renúncia do governo de transição liderado pelo primeiro-ministro Mohamed Ghannouchi, empossado há menos de uma semana, após o fim do regime do ex-presidente Zine El Abidine Ben Ali.
"O povo vem para fazer cair o governo", gritaram os participantes da chamada Caravana da Libertação, que partiu sábado do centro do país e é integrada principalmente por jovens. Em Túnis, eles receberam o apoio de manifestantes locais.
"Viemos de Menzel Bouzaiane, de Sidi Bouzib, de Regueb para derrubar os últimos restos da ditadura", explicou um dos participantes da caravana, citando as principais localidades onde começou o movimento que pôs fim ao governo de Ben Ali.
Governo de transição
Muitos tunisianos rejeitam o governo de transição porque ele inclui vários representantes do antigo regime, que ocupam postos-chave. Na sexta-feira, Ghannouchi assegurou, numa entrevista transmitida pela televisão, que a fase de transição será concluída com eleições democráticas e transparentes.
Ele disse ainda que deixará o poder após as eleições e que "determinadas leis antidemocráticas", introduzidas pelo antigo regime, serão postas de lado.
Neste domingo, mais de 5 mil manifestantes se reuniram em frente ao prédio ocupado pelo governo de transição, no centro de Túnis. Muitos exibiram fotos de pessoas que morreram durante os confrontos das últimas semanas.
A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, afirmou que a União Europeia vai ajudar a Tunísia na fase de transição para a democracia. "Isso inclui apoio para eleições, cooperação financeira e a promoção de uma Justiça independente", declarou ao jornal alemão Welt am Sonntag.
Segundo o governo de transição, também a secretária de Estado Hillary Clinton assegurou ajuda dos Estados Unidos à Tunísia neste final de semana.
Manifestações em outros países árabes
Influenciados pelos acontecimentos na Tunísia, centenas de manifestantes saíram neste sábado às ruas de Argel, capital da Argélia, para pedir mais democracia no país árabe. O protesto foi encerrado com violência pela polícia. Segundo o líder oposicionista Said Sadi, a ação policial deixou 42 manifestantes feridos. O governo fala em 19 feridos, incluindo oito policiais.
Cerca de 300 manifestantes se reuniram diante da sede do partido oposicionista RCD, de onde pretendiam iniciar uma marcha até o prédio do Parlamento. A intenção era protestar contra a repressão política por parte do governo. Alguns participantes exibiam bandeiras da Tunísia.
Um forte aparato policial impediu a marcha, que não havia sido autorizada pelas autoridades. Houve confronto entre os manifestantes e a polícia, que usou cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo. Segundo o governo, nove pessoas foram detidas.
Protesto contra governo, desemprego e aumento de preços
Também no Iêmen ocorreram protestos motivados pelos acontecimentos na Tunísia. No sábado, centenas de estudantes, ativistas e oposicionistas se reuniram em frente à universidade da capital Sana. Eles pediram a renúncia do presidente Ali Abdullah Saleh, que está há 32 anos no poder.
Já na quarta-feira passada a Liga Árabe havia alertado para uma expansão dos protestos sociais na Tunísia para outros países árabes. A população está "irada e frustrada" como nunca antes, disse o secretário-geral Amr Mussa durante um encontro de cúpula no Egito.
Nos últimos dias, em diversos países árabes, a população saiu às ruas para protestar contra o governo, o desemprego e o aumento de preços. Além da Tunísia, Argélia e Iêmen, os protestos ocorreram também no Egito, Jordânia e Mauritânia.
AS/afp/dpa/dapd
Revisão: Carlos Albuquerque