"Putin se deu conta de que pode não haver saída"
31 de março de 2022Mais de um mês após Moscou invadir a Ucrânia, o presidente russo, Vladimir Putin, entendeu que "pode não haver solução militar", afirmou em entrevista à DW o magnata russo do petróleo exilado Mikhail Khodorkovsky.
Crítico proeminente do presidente russo, Khodorkovsky passou uma década na prisão na Rússia sob acusações amplamente consideradas como uma vingança por desafiar o regime de Putin.
As tropas russas iniciaram a guerra na Ucrânia em 24 de fevereiro, com Putin anunciando como objetivos a "desmilitarização" e a "desnazificação" do ex-estado soviético, além da proteção dos falantes de russo no país.
Mas, com o fracasso da Rússia em ocupar rapidamente o país devido à forte resistência ucraniana, Moscou anunciou recentemente uma mudança em seus objetivos de guerra, dizendo que se concentrará na "libertação" da região de Donbass, no leste da Ucrânia. O Ocidente, porém, vê com ceticismo a versão.
"Putin está encurralado quando se trata da operação militar", disse Khodorkovsky. "Agora, ele tem duas opções: ou aumenta a escalada, o que pode significar a introdução de mobilização ou o uso de armas nucleares táticas, ou estabiliza a situação e começa negociações de paz sérias".
Posição do Ocidente precisa ser clara
À DW, Khodorkovsky também enfatizou a importância de um discurso ocidental unificado. "A posição do Ocidente precisa ser clara, o que significa apoio abrangente à Ucrânia se a guerra continuar e caso Putin use armas nucleares táticas ou outras armas de destruição em massa", destacou. "Esse tipo de posição clara do Ocidente vai, digamos, ajudar Putin a tomar a decisão certa".
Desde o início da agressão militar de Moscou, o Ocidente impôs sanções econômicas sem precedentes à Rússia e começou a fornecer ajuda militar à Ucrânia. Enquanto os EUA e o Reino Unido proibiram as importações russas de petróleo e gás, vários bancos russos foram banidos do sistema interbancário Swift.
No entanto, muitos países europeus, como a Alemanha, dependem fortemente do fornecimento de energia russa, motivo pelo qual não houve sanções internacionais generalizadas sobre o comércio de combustíveis fósseis com a Rússia. Por outro lado, a guerra levou vários governos a buscar formas de reduzir a dependência de Moscou.
Khodorkovsky acredita que, para Putin levar as negociações de paz a sério, "deve perceber que está preso na Ucrânia".
"Depois de um mês de guerra, ele se deu conta que pode não haver solução militar. É uma tentativa de transição para um processo de negociação real".
Mudança de estratégia
Os serviços de inteligência do Reino Unido e dos Estados Unidos afirmaram na quarta-feira que Putin está mal informado sobre a real situação na da guerra na Ucrânia, pois seus assessores tem medo de lhe dizer a verdade.
Nesta quinta-feira, o Kremlin negou as alegações, afirmando que eram evidências de que o Departamento de Estado americano e o Pentágono não "têm informações reais sobre o que está acontecendo no Kremlin".
"Eles não entendem o presidente Putin, não entendem o mecanismo de tomada de decisões e não entendem o estilo de nosso trabalho", disse a repórteres o porta-voz de Putin, Dmitry Peskov.
Khodorkovsky também acredita que Putin lançou a guerra com base em falsas suposições sobre as capacidades militares russas e a sociedade ucraniana.
"Estou completamente convencido de que, desta vez, Vladimir Putin recebeu uma quantidade significativa de informações falsas tanto sobre a situação na Ucrânia quanto sobre a condição de suas próprias forças armadas".
Chamando Putin de "bandido", Khodorkovsky disse: "Qualquer tentativa de chegar a um acordo com esse tipo de homem sem primeiro mostrar-lhe força é um grande erro. Isso apenas o provoca a dar mais um passo em direção a um ataque".
le (dw)