Descobrindo o humor
4 de novembro de 2010Em seu romance ilustrado autobiográfico Vier Augen (Quatro Olhos), Sascha Hommer descreve alguns eventos memoráveis de sua adolescência, passada na região alemã da Floresta Negra. Dessas memórias fazem parte reuniões com os amigos regadas a cigarro, o caso amoroso com uma jovem que sofria de um distúrbio alimentar e a descoberta do LSD.
Hommer consegue surpreendentemente capturar esses momentos em poucos e simples desenhos, todos em preto-e-branco, evocando as preocupações, medos e esperanças típicas de um jovem que cresce longe dos centros urbanos. Os desenhos são acompanhados de pouco texto, pois Hommer acredita que descrições complexas nem sempre são necessárias para expressar pensamentos significativos.
"Acho muito importante evitar o mal-entendido de que existem única e exclusivamente boas histórias e boas narrativas. E que as imagens podem ficar tranquilamente de lado. Em muitos trabalhos que especialmente gosto, e também em vários que me serviram de exemplo, a forma é o que transporta o conteúdo", diz Hommer.
Sério e engraçado
Muitos dos novos quadrinhos e novelas gráficas na Alemanha tratam de assuntos sérios, como é o caso desse livro de Hommer, que disseca as tentativas e experiências da adolescência. O autor observa, contudo, que alguns escritores estão tentando se afastar dessa espécie de "peso" nas HQs do país.
"O domínio de tal estética e de temas sérios, que estiveram em primeiro plano, foi de certa forma necessário para as HQs, mas agora acho que já superamos isso. E os cartunistas mais jovens que estão chegando ao mercado alemão com seus quadrinhos têm uma relação mais leve com isso e vão trazer o humor de volta", analisa o autor.
Dirk Rehm, da editora Reprodukt, que está por trás dos livros de Hommer, acredita que os novos autores têm boas razões para optarem por uma conduta mais leve em seus trabalhos.
"Os jovens autores podem manter uma postura mais relaxada, porque eles não têm que provar que os quadrinhos podem ser algo além de sujeira e lixo. Essa luta já foi empreendida pela última geração", observa Rehm à Deutsche Welle. "Hoje, eles podem simplesmente fazer o que querem", completa.
Embora a Reprodukt publique muitas HQs de teor biográfico e autobiográfico, Rehm afirma que isso não implica, de forma alguma, que as obras sejam menos ligadas a temas humorísticos e de aventura. Além disso, Rehm observa ainda uma nova tendência emergente no gênero: os quadrinhos com temas históricos.
Literatura "híbrida"
Hommer, um escritor esbelto, de cabelos negros e uns 30 e poucos anos, vê as HQs como um gênero híbrido, que ele começou a ler ainda muito jovem. O mesmo aconteceu com seus desenhos, aos quais ele se dedica há muito tempo.
Mais tarde, Hommer estudou ilustração na Universidade de Ciências Aplicadas de Hamburgo, sob orientação da autora alemã de quadrinhos Anke Feuchtenberger.
Uma graduação oficial para formar autores de HQs não existe nas universidades alemãs. No momento, os quadrinhos e as novelas gráficas estão recebendo atenção cada vez maior na mídia e, de acordo com Hommer, o gênero está sendo bem vendido no país.
"Comparadas com editoras pequenas, que publicam os primeiros romances de autores desconhecidos, as pequenas editoras de quadrinhos são muito bem-sucedidas", afirma Hommer. Seu próximo livro vai tratar de um assunto sério, apresentando em quadrinhos os contos de Brigitte Kronauer, vencedora do Prêmio Georg Büchner, o mais importante prêmio literário da Alemanha.
"Acho os textos dela ótimos e estou tentando criar, nas minhas adaptações, uma densidade de informação semelhante à dos textos originais". E se uma imagem valer mesmo mais que mil palavras, a HQ de Hommer não terá que ser muito longa.
Autores: Dirk Schneider / Eva Wutke (sv)
Revisão: Carlos Albuquerque