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Quem são os personagens do caso das joias sauditas

Publicado 10 de março de 2023Última atualização 11 de março de 2023

Inicialmente caracterizadas como presente da Arábia Saudita à então primeira-dama, Michelle Bolsonaro, peças foram trazidas ilegalmente ao Brasil, virando centro de trama que se desenrola desde 2021.

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Michelle Bolsonaro olha de soslaio para a câmera. No fundo, pode-se ver uma bandeira do Brasil desfocada.
Ex-primeira-dama afirma que não sabia do suposto presente Foto: Ton Molina/Fotoarena/IMAGO Images

Desde que veio à tona no início deste mês, o caso envolvendo joias apreendidas pela Receita Federal (RF) em outubro de 2021, na volta de uma viagem de uma comitiva do governo Bolsonaro à Arábia Saudita, ganha contornos cada vez mais curiosos.

Inicialmente, os itens avaliados em R$ 16,5 milhões foram identificados como um presente do governo saudita à então primeira-dama Michelle Bolsonaro, que negou ter conhecimento da cortesia.

A revelação do episódio, porém, levou o atual ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, a enviar um ofício à Polícia Federal (PF) na segunda-feira (06/03) para apurar suspeitas de crime em uma série de tentativas frustradas do governo Bolsonaro em reaver as joias.

À medida que detalhes do escândalo são revelados, mais personagens envolvidos vêm à tona. Veja os principais nomes dessa trama.

Michelle Bolsonaro, ex-primeira-dama

A ex-primeira-dama afirmou que não sabia do suposto presente e chegou a fazer piada nas redes sociais sobre as joias. Em sua primeira reação pública, Michelle disse: "Quer dizer que, 'eu tenho tudo isso' e não estava sabendo ? Meu Deus! Vocês vão longe mesmo hein ?! Estou rindo da falta de cabimento dessa impressa vexatória."

Jair Bolsonaro, ex-presidente

Inicialmente, o ex-presidente negou ter conhecimento dos presentes. Posteriormente, no entanto, após a revelação do recebimento de um segundo pacote com joias, Bolsonaro confirmou que as peças –  relógio, caneta, abotoaduras, anel e um tipo de rosário islâmico – foram incorporadas ao acervo pessoal dele.

Em declaração à CNN, o ex-presidente disse ainda que não houve ilegalidades no caso e que teria seguido a lei em relação aos presentes sauditas.

Há registros de que Jair Bolsonaro tentou liberar as peças apreendidas através do Ministério das Relações Exteriores, da Economia e de Minas e Energia, além de seu próprio gabinete presidencial.

Marcos André Soeiro, militar que levava as joias

Foi na mochila de Marcos André Soeiro, na época assessor do então ministro de Minas e Energia, Bento Alburquerque, que as joias foram encontradas.

Segundo o documento da RF sobre o ocorrido no aeroporto de Guarulhos, o militar da comitiva de Bolsonaro disse não ter nada a declarar, mas, ao passar pela alfândega e ser solicitado por um fiscal a colocar sua mochila no raio-x, "observou-se a provável existência de joias". A bagagem foi então revistada, e os agentes encontraram um estojo com um par de brincos, um anel, um colar e um relógio com diamantes da marca de luxo suíça Chopard. Os objetos foram apreendidos.

De acordo com o documento, o militar informou o ocorrido ao então ministro de Minas e Energia Bento Alburquerque.

Bento Albuquerque, ex-ministro de Minas e Energia

Em uma primeira tentativa de liberar as peças, Bento Albuquerque alegou se tratarem de um presente para a então primeira-dama, Michelle Bolsonaro.

Um ofício do gabinete do ex-ministro, ainda de 2021, pedia a liberação dos "presentes retidos", justificando ser "necessário e imprescindível que seja dado ao acervo o destino legal adequado".

Ao jornal Folha de S.Paulo, porém, o ex-ministro negou que sua equipe teria tentado trazer presentes caros para Michelle e que ele próprio teria tentado reaver as peças.

"Eu já tinha passado pela imigração e pela alfândega [em Guarulhos] quando fui chamado de volta porque abriram a mala do Soeiro e descobriram as joias. Não sabíamos do conteúdo. Achávamos que eram presentes convencionais, não joias", afirmou.

Posteriormente, a assessoria de Bento Albuquerque afirmou que as joias seriam "presentes institucionais destinados à representação brasileira integrada por Comitiva do Ministério de Minas e Energia – portanto, ao Estado brasileiro", e que, em decorrência, "o Ministério de Minas e Energia adotaria as medidas cabíveis para o correto e legal encaminhamento do acervo recebido".

Mario de Marco Rodrigues Sousa, chefe da equipe que barrou as joias

Ele era o chefe da alfândega do Aeroporto Internacional de Guarulhos (SP) naquele outubro de 2021, quando um assessor do então ministro Bento Albuquerque, teve parte de sua bagagem retida.

Antes do episódio, ele já tinha ganhado fama como membro do elenco do reality show Aeroporto: área restrita, do canal Discovery+. O programa acompanha os bastidores e a rotina dos fiscais da Receita e dos agentes da Polícia Federal no aeroporto de Guarulhos, ao flagrarem tráfico de drogas e contrabando nas bagagens.

O delegado foi quem negou o pedido pessoal do então secretário da Receita, Júlio Cesar Vieira Gomes, para liberação dos itens retidos. 

Fabio Wajngarten, ex-chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social

Após a revelação do caso, o ex-chefe da Secretaria Especial de Comunicação Social Fabio Wajngarten tentou justificar o caso através de um documento divulgado nas redes sociais onde o governo Bolsonaro, ainda em 2021, alegava que as joias seriam analisadas para incorporação "ao acervo privado do Presidente da República ou ao acervo público da Presidência da República".

"No termo de apreensão dos bens (presentes presidenciais) constam jóias e uma miniatura de um cavalo”, tuitou Wajngarten no dia 4 de março. "As joias estavam numa caixa selada que só foi aberta pela receita no aeroporto. Ninguém sabia o que tinha dentro.”

Mauro Cid, ajudante de ordens de Bolsonaro

Poucos dias antes do fim do governo Bolsonaro, em 28 de dezembro de 2022, o tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ajudante de ordens do ex-presidente, emitiu um ofício com o brasão da República para pedir a liberação das joias apreendidas em Guarulhos.

No documento, obtido nesta quinta-feira (09/03) pela GloboNews, Mauro Cid dizia que o estojo que continha os itens estaria no "acervo privado" de Bolsonaro.

Após envio do ofício e aconselhado por amigos, Mauro Cid teria optado por repassar a missão de recuperar as joias a seu auxiliar, o sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva, que foi então pessoalmente a Guarulhos no dia seguinte.

Sargento Jairo Moreira da Silva

No dia 29 de dezembro, antepenúltimo dia do governo Bolsonaro, o primeiro-sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva, auxiliar de Mauro Cid, foi enviado a Guarulhos num avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para tentar, sem sucesso, recuperar as peças, argumentando que elas não podiam ficar retidas devido à iminente mudança de governo.

Em imagens de vídeo obtidas pelo G1, o sargento é flagrado tentando coagir o fiscal da Receita a liberar as joias: "Não pode ter nada do [governo] antigo para o próximo. Tem que tirar tudo e levar", disse Moreira da Silva ao funcionário da Receita.

Marco Antônio Lopes Santanna, agente da Receita

Marco Antônio Lopes Santanna foi o servidor da Receita Federal que negou a liberação das joias ao sargento Jairo Moreira Silva.

O funcionário da alfândega não entregou o material, argumentando que não podia entregar os itens sem a devida documentação.

Ele disse a Jairo que não tinha nenhuma informação sobre a liberação das joias e que não iria entregar nada.

Lopes Santanna resistiu à pressão para entregar o material se recusando, inclusive, a atender telefonema do então chefe da Receita, que ligou no celular de Julio Cesar no momento em que o militar tentava convencer Marco Antônio, sem sucesso.

Julio Cesar Vieira Gomes, ex-secretário da Receita Federal

Segundo o jornal Folha de São Paulo, em dezembro do ano passado, Bolsonaro também teria conversado por telefone como então chefe da Receita Federal, Julio Cesar Vieira Gomes, sobre a liberação das joias.

Gomes teria pressionado os servidores de Guarulhos para liberarem a entrega das peças ao ex-presidente. Ele teria inclusive participado da elaboração do ofício emitido por Mauro Cid em 28 de dezembro, orientando o ajudante de ordens sobre como redigir o texto endereçado a ele mesmo no intuito de liberar as joias apreendidas.

Em 30 de dezembro, um dia depois de Julio Cesar ter agido para tentar liberar ilegalmente as joias, o ex-chefe da Receita Federal foi nomeado como adido do órgão em Paris pelo governo Bolsonaro. A nomeação, entretanto, foi cancelada pelo atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad.

ip/md (ots)