Rebeldes sírios anunciam novo governo de transição
10 de dezembro de 2024Os insurgentes sírios que derrubaram o ditadorBashar al-Assad nomearam nesta terça-feira (10/12) o novo chefe de governo que vai liderar a transição de poder na Síria após 13 anos de guerra civil e cinco décadas sob o regime da família Assad.
Num breve anúncio na televisão estatal, Mohammad al-Bashir afirmou que assume o cargo de "novo primeiro-ministro da Síria" e vai comandar o país até 1º de março. Ainda não está claro se após esta data o governo interino vai promover eleições livres.
"Hoje realizamos uma reunião de gabinete que incluiu uma equipe do governo de Salvação que estava trabalhando em Idlib e seus arredores, e o governo do regime deposto", disse ele. "A reunião teve como tema principal a transferência dos arquivos e instituições para assumirmos o governo."
No anúncio, ele se posicionou diante de duas bandeiras: a bandeira verde, preta e branca, com três estrelas vermelhas, hasteada pelos oponentes de Assad durante a guerra civil, e uma bandeira branca com o juramento islâmico escrito em preto, tipicamente hasteada por combatentes islâmicos sunitas.
Em entrevista à rede de televisão Al Jazeera, Bashir disse que este é um momento para a população síria viver um tempo de "estabilidade e calma".
Quem é Mohammad al-Bashir
Formado em engenharia e direito islâmico e civil, al-Bashir dirigia desde janeiro deste ano o "governo de salvação", nome dado pelos insurgentes à gestão que comandava o reduto rebelde de Idlib. Antes, ele trabalhou para o ministério do grupo rebelde responsável pela área de "ajuda humanitária" e na empresa estatal de gás na Síria, segundo sua biografia.
Al-Bashir tem relações próximas com o grupo radical islâmico Organização para a Libertação do Levante (Hayat Tahrir al Sham, ou HTS), antigo braço sírio da rede terrorista Al Qaeda que comandou a ofensiva contra Damasco.
Ele também é próximo do líder do HTS, Abu Mohammed al-Jolani, que tem tentado se posicionar internacionalmente como um estadista pragmático desde que as tropas insurgentes derrubaram Assad.
Jolani, que agora usa seu nome verdadeiro, Ahmed al-Sharaa, prometeu não hesitar até "responsabilizar os criminosos, assassinos, oficiais de segurança e do exército envolvidos na tortura do povo sírio". Ele comandou as conversas com o primeiro-ministro anterior, Mohammed al-Jalali, para designar um governo de transição.
Governo interino sob incertezas
O novo governo na Síria encerra cinco décadas de comando da família Assad no país e assume a gestão sob uma profunda incerteza após o colapso de uma ditadura que administrava todos os aspectos da vida cotidiana.
A derrubada de Assad, que mantinha uma complexa rede de prisões e centros de detenção, provocou comemorações em todo o país e no mundo. A guerra civil síria matou 500 mil pessoas e forçou metade da população do país a fugir de suas casas, milhões encontrando refúgio no exterior.
A incursão de Israel no sudoeste do país e seus ataques aéreos às bases do exército sírio, agora desmobilizado, porém, será o primeiro desafio do governo interino. Nesta terça-feira, forças israelenses avançaram por terra para além da zona desmilitarizada, estabelecida na Síria após a Guerra do Yom Kippur, de 1973, e também destruíram a frota de navios de guerra sírios. Israel, porém, diz que o objetivo de suas tropas não é avançar até Damasco, e sim criar uma "zona de proteção" contra o "terrorismo".
"Não estamos envolvidos no que está acontecendo na Síria internamente, não estamos em um lado desse conflito e não temos temos nenhum outro interesse além de proteger nossas fronteiras e a segurança de nossos cidadãos", disse um porta-voz do Exército israelense.
Num sinal de que os países estão prontos para trabalhar com o HTS, o enviado da ONU à Síria minimizou a designação do grupo como organização terrorista. O HTS tem enfatizado seu rompimento com suas raízes jihadistas em busca de apoio internacional.
"A realidade é que, até o momento, o HTS e também os outros grupos armados têm enviado boas mensagens ao povo sírio, de unidade, de inclusão", disse Geir Pedersen em Genebra. Em Damasco, bancos, lojas e centros comerciais reabriram nesta terça-feira.
gq/as (Reuters, AFP, OTS)