Recessão argentina pavimenta fim da era Macri
25 de abril de 2019Esta quarta-feira (24/04) foi um dia difícil para a economia argentina. A bolsa de valores em baixa, o risco-país atravessou a fronteira psicológica de 900 pontos base, e o peso argentino se desvalorizou novamente. Isso acontece em um país que vem se arrastando numa longa recessão e que em outubro deverá ir às urnas para eleger um novo presidente.
Pela primeira vez desde março de 2014, o nível de risco-país medido pelo banco americano JP Morgan – com o qual se avalia o nível da capacidade de pagamento da dívida soberana – se colocou a caminho dos 1.000 pontos, após haver fechado na terça-feira a 860, num dia em que a moeda argentina enfrentou nova baixa.
No mercado de câmbio, o peso fechou em 44,92 pesos por dólar, na média das casas de câmbio e bancos. Embora outras moedas de países emergentes também tenham sofrido nesta quarta-feira uma nova queda em relação ao dólar – a lira turca caiu para o nível mais baixo em seis meses –, o peso argentino volta a se confirmar como a mais fraca delas, após cair em um único dia 3,47% em relação ao dólar.
Já a moeda americana acumulou um aumento de 119% desde abril de 2018, quando o aumento da taxa de juros nos Estados Unidos começou a atrair para o país capitais que fugiam de nações em desenvolvimento.
Tudo isso se soma à forte baixa de 3,82% no principal índice de ações da Bolsa de Buenos Aires nesta quarta-feira, às fortes perdas das ações argentinas nos EUA e à queda no rendimento dos títulos da dívida argentina, a apenas seis meses para as eleições presidenciais no país sul-americano.
"O mundo duvida que os argentinos queiram voltar atrás, e isso dá muito medo. Então, sobe o risco-país, (os investidores) tomam posições mais defensivas. Mas acredito que estejam equivocados", afirmou o presidente argentino, Mauricio Macri, em entrevista no rádio.
A popularidade de Macri vem despencando há meses nas pesquisas, devido à crise econômica. Para o presidente, que deu a entender em várias entrevistas que se candidatará nas eleições de outubro, a desconfiança dos investidores é resultado do medo de que o peronismo retorne ao poder. Mais especificamente, ele se refere à ex-presidente Cristina Fernández de Kirchner, que governou o país entre 2007 e 2015 e que ainda não confirmou se vai se candidatar.
Pesquisas divulgadas nesta segunda-feira mostram que a ex-presidente, investigada em uma série de casos de corrupção, está à frente de Mauricio Macri.
"Não basta a explicação do presidente Macri de que 'Cristina vai ganhar as eleições, por isso o risco-país aumenta'. Isso é pouco sério para os argentinos, que sofrem diariamente com essa política econômica", criticou o deputado kirchnerista Agustín Rossi, numa sessão da Câmara.
Segundo o legislador, que já anunciou sua intenção de concorrer às eleições, ninguém sabe "com certeza o que vai acontecer amanhã na economia argentina".
Macri é um dos principais críticos da política econômica adotada por Cristina, especialmente pelo afastamento da diplomacia kirchnerista dos Estados Unidos, pelas proibições de compra de moedas estrangeiras e pelo aumento do histórico déficit fiscal.
Mas o presidente enfrenta há um ano uma grave crise que reduziu praticamente a zero uma sequência de cinco trimestres consecutivos de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Toda essa incerteza tem impacto direto na inflação, que em março foi de 4,7% em relação a fevereiro e de 54,7% no comparativo anual.
A desvalorização da moeda – com ciclos abruptos de quedas, que o Executivo combate com altas taxas de juros e leilões de dólares –, somada à forte seca que afetou o campo, levou o governo a solicitar em maio do ano passado ao Fundo Monetário Internacional (FMI) um empréstimo por três anos de cerca de 57 bilhões de dólares.
É um plano de ajuda financeira que acarreta fortes ajustes para alcançar o equilíbrio orçamentário para 2019, objetivo que Macri considera essencial para deixar de depender do capital externo.
MG/efe/afp/dw
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