Reino Unido e Alemanha mudam regra sobre vacina de Oxford
7 de maio de 2021O comitê científico que supervisiona a campanha de vacinação contra covid-19 no Reino Unido recomendou nesta sexta-feira (07/05) limitar o uso do imunizante da AstraZeneca-Oxford a pessoas com mais de 40 anos, devido a um pequeno risco de coágulos sanguíneos raros.
No entanto, o Comitê Conjunto de Vacinação e Imunização (JCVI, na sigla em inglês) enfatiza que os benefícios da vacina continuam sendo muito superiores aos riscos. Em abril, o JCVi já havia aconselhado a não administração dessa vacina em pessoas com menos de 30 anos, quando fosse possível.
A decisão vem um dia após a Alemanha fazer justamente o oposto. Na quinta-feira, os governos federal e estaduais decidiram que, em breve, a vacina da AstraZeneca-Oxford poderá ser aplicada em adultos de todas as idades, e não apenas nos com mais de 60 anos, desde que não contrariem recomendações médicas.
Segundo o JCVI, a atual recomendação no Reino Unido leva em conta os baixos níveis de infecção por covid-19 no país e a disponibilidade de outras vacinas, como a da Pfizer-BioNTech e da Moderna.
"Como as taxas de covid-19 continuam sob controle, estamos avisando que adultos de 18 a 39 anos sem condições de saúde subjacentes recebam uma alternativa à vacina AstraZeneca-Oxford, se disponível e se não causar atrasos na aplicação dos imunizantes", disse Wei Shen Lim, presidente do grupo covid-19 do JCVI.
"O conselho é específico para as circunstâncias no Reino Unido no momento e maximiza o uso do amplo portfólio de vacinas disponíveis", acrescentou.
No começo de abril, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) confirmou que existe uma possível ligação entre o uso da vacina da AstraZeneca-Oxford e a formação de coágulos sanguíneos raros. A Dinamarca, por exemplo, optou por suspender o uso total do imunizante.
Casos muito raros de coágulos no Reino Unido
A Agência Reguladora de Medicamentos e Produtos de Saúde (MHRA) do Reino Unido registrou 242 casos de coágulos sanguíneos após a aplicação de 28,5 milhões de doses da vacina, o equivalente a cerca de um caso por 100.000 injeções. Os coágulos, 49 dos quais fatais, ocorreram em pessoas de 18 a 93 anos.
As taxas são ligeiramente mais altas entre pessoas mais jovens, com 10,1 casos por milhão de doses na faixa etária dos 40 a 49 anos, em comparação com 17,4 casos por milhão de doses na faixa etária dos 30 a 39 anos.
Como a covid-19 tende a ser mais grave e causa muitas mortes em pessoas mais velhas, os benefícios da vacina superam facilmente o potencial risco extremamente baixo de coágulos sanguíneos. No entanto, a doença geralmente é muito menos séria em pessoas mais jovens, tornando a decisão entre tomar ou não a vacina da AstraZeneca mais equilibrada em um país com a covid-19 sob controle, como o Reino Unido.
"O equilíbrio entre benefícios e riscos é muito favorável para pessoas mais velhas, mas é mais bem equilibrado para pessoas mais jovens e aconselhamos que essa evidência em evolução deve ser levada em consideração ao considerar o uso da vacina, como fez o JVCI", afirmou June Raine, presidente-executiva da MHRA,
Um porta-voz disse que o governo seguirá o conselho.
"No total, mais de 50 milhões de vacinas já foram administradas, e nosso suprimento atual de vacinas e taxa de infecção significam que podemos tomar essa medida de precaução, enquanto continuamos no caminho certo para atingir nossa meta de oferecer uma vacina a todos os adultos até o final de julho”, esclareceu o porta-voz.
No Brasil, com a epidemia fora de controle, a maioria dos especialistas afirma que os benefícios superam em muito os riscos e a vacina deve ser tomada, não importando a idade.
A agência governamental Public Health England (PHE) estima que o programa de vacinação britânico, que começou em dezembro de 2020, tenha evitado mais de 10.000 mortes até o final de março de 2021.
No Reino Unido, cerca de 66% da população já recebeu ao menos uma dose de vacina contra a covid-19 e quase 40%, as duas.
Alemanha libera vacina da AstraZeneca para todas as idades
Na contramão do Reino Unido, na quinta-feira, a Alemanha permitiu que todos os adultos, de qualquer faixa etária, recebam a vacina da AstraZeneca nos consultórios médicos, desde que não haja objeções do ponto de vista médico, abolindo a lista de prioridades para esta vacina. Anteriormente, o imunizante era limitado a pessoas com 60 anos ou mais, mas alguns estados já haviam flexibilizado essa regra. O motivo da restrição também era a possibilidade de coágulos sanguíneos raros associados à vacina.
Além disso, o ministro da Saúde, Jens Spahn, anunciou que as pessoas não precisarão mais esperar 12 semanas para receber a segunda dose da vacina AstraZeneca. O reforço poderá ser aplicado quatro semanas após a primeira dose, se o médico assim decidir.
A mudança ocorre no momento em que a Alemanha se empenha em vacinar rapidamente sua população, após um início lento, e discute relaxar restrições para vacinados.
Nesta sexta-feira, o Bundesrat (câmara alta do parlamento alemão) aprovou um decreto que permite o relaxamento de medidas de restrição a pessoas que estejam completamente vacinadas contra a covid-19 ou que tenham se recuperado da doença. No entanto, elas ainda precisarão manter o distanciamento social e o uso de máscaras.
De acordo com a medida, quem tiver tomado a segunda dose de uma das vacinas contra a covid-19 há mais de 15 dias ou quem está curado da doença não precisará mais apresentar um teste negativo de coronavírus para, por exemplo, frequentar cabeleireiros, fazer compras ou visitar jardins botânicos.
Mais de 8% dos alemães já foram completamente imunizados e mais de 30% receberam ao menos a primeira dose. Após um começo de imunização bastante lento, a campanha engrenou. De acordo com o ministro da Saúde, Jens Spahn, na quarta-feira foram aplicadas 1,1 milhão de doses. O país administra três imunizantes, o da Pfizer-BioNTech, o da AstraZeneca-Oxford e a vacina da Moderna.
A vacina da AstraZeneca foi a grande aposta do governo brasileiro para a campanha de imunização e é uma das duas atualmente em uso no Brasil. Segundo os dados mais recentes do Ministério da Saúde, 25,4% das doses já aplicadas no Brasil foram da chamada vacina de Oxford, que, no país, não tem qualquer restrição.
le (lusa, reuters, dw, ots)