Defesa da Constituição
20 de maio de 2009A segurança interna da Alemanha está cada vez mais ameaçada por criminosos de extrema direita e por fundamentalistas islâmicos. Esta é a conclusão geral do relatório do Ministério alemão do Interior, apresentado nesta terça-feira (19/05) pelo ministro Wolfgang Schäuble, em Berlim.
Vídeos na internet, campos no Afeganistão
Tanto Schäuble como o presidente do órgão de defesa da Constituição, Heinz Fromm, identificam uma "nova qualidade" nos perigos para a segurança interna alemã. Desde o início de 2009, teriam aparecido diversos vídeos contendo ameaças na internet, um dos quais em língua alemã, de autoria da organização terrorista Al Qaeda, especificou o ministro democrata-cristão.
O fato de a Alemanha ter sido poupada até agora de atentados se deve à sorte e ao bom trabalho das autoridades de segurança, acrescentou. Schäuble está seguro de que a "pedra no sapato" dos potenciais agressores é o engajamento militar alemão no Afeganistão, "onde, esperamos, as pessoas poderão um dia viver livres, seguras e sob um Estado de direito".
Ele considera especialmente alarmante o número crescente de alemães convertidos ao islamismo, assim como de muçulmanos crescidos no país, que se submetem a treinamento em acampamentos terroristas na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão.
Segundo o ministro, "quem participou de um desses campos está integrado nas estruturas terroristas". Uma vez treinados e interconectados, eles estariam "predestinados a apoiar atividades terroristas e a preparar atentados em seus países de origem".
Violência de extrema direita em alta
Enquanto a ameaça por parte de fundamentalistas islâmicos permanece predominantemente abstrata, atos criminosos de motivação política representam ameaças concretas à ordem e à segurança internas.
As agressões por radicais de direita já fazem parte do dia-a-dia alemão, sendo registrados, em média, 87 delitos por dia. Os responsáveis pela segurança interna chegaram a um total de quase 32 mil atos politicamente motivados em 2008, o que representa um novo recorde.
Dois terços desses atos partiram da extrema direita, o que corresponderia a um acréscimo de quase 16%. A defesa da Constituição mantém em mira sobretudo o xenófobo e antissemita Partido Nacional Democrata da Alemanha (NPD), que atenta abertamente contra a ordem fundamental liberal-democrática.
Vulnerabilidade dos "novos estados"
Uma primeira tentativa de proibir o NPD fracassou há alguns anos, por questões formais. O ministro Schäuble é contra uma segunda investida, pois para tal faltariam os pré-requisitos. Fracassar uma segunda vez seria "pura propaganda" para o partido, afirma. "Esta é uma regra de sabedoria que não se deve perder de vista na luta contra o NPD, que é especialmente repugnante."
Em tempos economicamente difíceis, a democracia seria "vulnerável e frágil" frente à ideologia nacional-socialista, recorda o secretário do Interior de Bremen, Ulrich Mäurer. Ele aponta para o fato de o NPD estar representado no Legislativo da Saxônia e de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. Além disso, a União Democrática do Povo (DVU) – igualmente classificada de extrema direita pela segurança interna – obteve recentemente representação parlamentar em Brandemburgo.
Mäurer acredita não ser por acaso se tratarem todos os três de estados da ex-Alemanha Oriental. Quase 20 anos após a reunificação do país, a região ainda não superou o desnível econômico em relação ao oeste.
Esquerda também na mira
O partido A Esquerda também se encontra sob observação dos órgãos de segurança alemães. Segundo Petra Pau, vice-presidente do Bundestag (câmara baixa do Parlamento alemão), o dossiê relativo a seu partido abarca mais de 600 páginas.
Embora seu conteúdo só seja conhecido em pequena parte, ele é utilizado por certos secretários do Interior como "meio de confrontação política", observou. "Acho isso condenável", declarou a especialista em questões de segurança interna.
Os esquerdistas apresentaram queixa contra o governo federal, exigindo que o dossiê seja entregue e apagado. Suas chances de vitória são aparentemente boas, pois há pelo menos um precedente para esse tipo de queixa.
Autor: Marcel Fürstenau
Revisão: Rodrigo Abdelmalack