Restrição ao capital estrangeiro dificulta salvação da Varig
12 de julho de 2006O presidente do conselho fiscal da Deutsche Lufthansa AG, Jürgen Weber, recebeu no começo desta semana em Berlim o Prêmio Personalidade Brasil-Alemanha 2006, concedido pela Câmara de Comércio e Indústria dos dois países. A homenagem foi justificada com o argumento de que Weber fomentou o tráfego aéreo bilateral e tenta atrair investimentos brasileiros para a Alemanha.
No dia da premiação (segunda-feira, 10/07), a Lufthansa fez um vôo direto inédito de Berlim ao Rio de Janeiro, levando turistas da Copa que não puderam retornar com a Varig. A DW-WORLD falou com Weber sobre a presença de capital brasileiro na Alemanha e a crise que abalou aquela que já foi a maior companhia aérea da América Latina.
DW-WORLD: O que significa para o senhor o Prêmio Personalidade Brasil-Alemanha 2006?
Jürgen Weber: É uma grande honra e uma surpresa recebê-lo. Eu o vejo também como uma distinção para a Lutfhansa, que atua no Brasil há 50 anos. É ainda um pequeno catalisador, um estímulo para continuar lutando por investimentos diretos brasileiros.
Como encarregado para a América da agência Invest Germany, o senhor tenta convencer empresários brasileiros a investirem na Alemanha. Com sucesso?
Nessa área ainda há um grande desequilíbrio nas relações teuto-brasileiras. Os alemães investem muito mais no Brasil do que os brasileiros na Alemanha. Mas sou da opinião de que um país emergente como o Brasil precisa investir em mercados importantes, como o alemão.
Já há investimentos brasileiros na Alemanha?
Sim, embora o volume ainda seja modesto. No ano passado, as empresas brasileiras investiram mais de 100 milhões de euros na Alemanha, a maior parte em setores pequenos, como logística, indústria de alimentos, biocombustíveis e biotecnologia.
Em que ramos o senhor vê potencial para mais investimentos?
O Brasil poderia, por exemplo, produzir na Europa peças para a indústria aeroespacial. Poderia haver uma expansão da Embraer para a Alemanha. Um grande potencial existe também na indústria de alimentos. Por que não processar e distribuir alimentos brasileiros na Europa? Isso abriria novas possibilidades também para o setor brasileiro de logística.
Quem oferece mais vantagens para investidores estrangeiros: o Brasil ou a Alemanha?
Isso não dá para comparar. Os dois países têm seus pontos fortes e, se souberem aproveitá-los, serão bem-sucedidos.
O senhor foi homenageado também por ter criado a Star Alliance. Como avalia a situação turbulenta da Varig, que ainda faz parte desta aliança?
É uma situação muito triste. Eu já disse há anos que, se a Varig não se adaptasse à crescente competitividade global no setor de aviação civil, ela teria problemas. Há dois ou três anos, estive em Brasília e disse a membros do governo a minha opinião sobre a situação da Varig. Lamentavelmente, meus temores manifestados naquela época agora se concretizaram. A Varig é uma companhia tradicional da aviação civil. E o Brasil precisa de uma companhia aérea forte. Espero que se encontre uma saída para a crise.
Como fica a situação da Star Alliance na problemática região da América Latina, depois da desistência da companhia Mexicana e diante da crise da Varig?
Nós estamos tentando atender todas as linhas da Star Alliance para a região a partir do exterior. Para os vôos transatlânticos, não faz diferença se o passageiro é atendido por uma companhia da Europa ou da América Latina pertencente à Star Alliance.
Já está sendo procurado um novo parceiro para a Star Alliance no Brasil?
Nós sempre estamos procurando bons parceiros. Mas, no caso concreto da Varig, é preciso esperar a decisão da Justiça, prevista para 18 de julho, sobre leilão ou liquidação da companhia.
Por que as campanhias aéras brasileiras têm dificuldades crônicas para operar de forma estável? O problema é o baixo poder aquisitivo da população?
O Brasil oferece todas as vantagens para a operação saudável de uma companhia aérea: baixos custos de pessoal e um grande mercado. Normalmente, isso basta para que uma companhia possa funcionar bem. O problema não é o baixo poder aquisitivo da população. São outros fatores que complicam a situação, desde a influência política até falhas de gerência e a estrutura de propriedade.
Investidores estrangeiros só podem ter uma participação de no máximo 24% em companhias aéreas brasileiras. O que o senhor acha desta restrição?
Acho um absurdo. Isso não é uma proteção à empresa nacional e, sim, um obstáculo para investimentos externos. Se um investidor estrangeiro quiser investir numa companhia aérea brasileira, ele quer ter mais influência do que 24%. Na Alemanha, um investidor estrangeiro pode deter 100% do capital de uma companhia aérea do país.