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Rússia: oposicionista é condenado a oito anos de prisão

10 de dezembro de 2022

Após criticar a invasão russa da Ucrânia, Ilja Jaschin, político que faz oposição ao governo do presidente Vladimir Putin, foi acusado de divulgar "informações falsas".

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O oposicionista russo Ilja Jaschin faz um sinal de paz e amor e sorri. Ele está algemado dentro de uma cabine, com um blusão claro, durante um julgamento na Rússia.
Ilja Jaschin disse que, mesmo detido, não vai desistir de seguir fazendo oposição a Putin e à guerra na UcrâniaFoto: Yury Kochetkov/Pool/AP/picture alliance

O político russo Ilja Jaschin, que faz oposição ao governo do presidente Vladimir Putin, foi condenado nesta sexta-feira (09/12) a oito anos e meio de prisão, acusado de divulgar "informações falsas", devido às críticas feitas à invasão da Rússia na Ucrânia, e também por injuriar as forças armadas do país, segundo o veredicto.

A informação foi divulgada pelo site Mediazona, baseada em decisão de um tribunal regional de Moscou, onde os juízes teriam rejeitado as alegações da defesa de que as avaliações feitas por Jaschin eram meramente pessoais.

Jaschin, por sua vez, conceituou o julgamento como uma encenação política. Em seu canal no Telegram, ele disse que "com essa histérica decisão, as autoridades querem assustar a todos nós, mas, na verdade, só mostram sua fraqueza".

O político oposicionista de 39 anos foi preso em junho depois de denunciar, em abril, o "assassinato de civis" na cidade ucraniana de Bucha em um vídeo do Youtube. Ele descreveu o ato como um "massacre". Moscou, no entanto, nega qualquer ataque na cidade ucraniana, localizada perto da capital Kiev.

No tribunal, apoiadores aplaudiram Jaschin, que sorriu e acenou para familiares. Ele estava algemado quando a sentença foi proferida e será encaminhado a uma colônia penal.

A juíza Oksana Goryunova argumentou que o réu havia cometido um crime ao disseminar "informações sabidamente falsas sobre as forças armadas da Rússia".

Jaschin foi julgado sob uma legislação que entrou em vigor após o início da invasão russa da Ucrânia – que começou oficialmente no dia 24 de fevereiro deste ano – para penalizar "informações falsas" ou outros atos que as autoridades russas considerem prejudiciais para as forças armadas do país.

Questionado sobre a condenação, Putin rebateu com outra pergunta: "E quem é ele? Um blogueiro?". O presidente russo também disse que, como advogado por formação, não poderia comentar a decisão do tribunal.

"Acho desaconselhável questionar a decisão", afirmou Putin a repórteres após uma cúpula regional em Bishkek, capital do Quirguistão.

O político oposicionista russo Alexei Navalny veste um casaco pesado preto enquanto segura a barra de uma cela onde está preso.
Navalny classificou o veredicto de "sem escrúpulos e inconstitucional"Foto: Denis Kaminev/AP Photo/picture alliance

Navalny comenta decisão

Jaschin é aliado do líder da oposição Alexei Navalny, que também está preso, e tinha proximidade com Boris Nemtsov, outro oposicionista, assassinado perto do Kremlin em 2015.

Após o veredicto, Navalny publicou a seguinte mensagem no Instagram: "Outro veredicto sem escrúpulos e inconstitucional de Putin não silenciará Ilja e não deve intimidar o povo honesto da Rússia".

Aos 46 anos, Navalny cumpre pena de nove anos de prisão por peculato, baseado em acusações de crimes que o governo russo considera politicamente motivados – suas organizações políticas foram banidas pelo Kremlin.

Outras figuras oposicionistas também se manifestaram, a exemplo do autor de ficção científica Dmitry Glukhovsky: "Há leis que não devem ser respeitadas. Em todo o mundo, Jaschin é um herói e um prisioneiro consciente, e os juízes são criminosos", escreveu no Twitter.

Jaschin recusou-se a deixar a Rússia depois que Putin mandou suas tropas invadirem a Ucrânia e seguidamente condena a ofensiva a seus 1,3 milhão de assinantes do seu canal no YouTube.

Advogada diz que réu estava preparado

Após a condenação, a advogada de Jaschin, Maria Eismont, disse a jornalistas que "desde o início, ele estava mentalmente preparado de que poderia ser acusado e condenado". Eismont elogiou a sua compostura, classificando-a como "o resultado de uma escolha consciente de uma pessoa e de um cidadão".

Durante suas considerações finais, Jaschin pediu a Putin que "acabe imediatamente com essa loucura. Precisamos reconhecer que essa política em relação à Ucrânia está errada, retirar as tropas de seu território e avançar para uma solução diplomática para o conflito. Mesmo atrás das grades, eu não vou desistir da verdade".

gb (AFP)