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"Sírios acertaram o alvo errado"

Roman Goncharenko fc
6 de abril de 2017

Especialista russo em política de segurança critica condenações do Ocidente sobre ataque químico na Síria, referenda versão de Moscou e diz ser ilusão acreditar que regime de Assad controla tudo na Síria.

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Crianças vítimas do suposto ataque com armas químicas em Khan Cheikhoun, na Síria
Muitas crianças estão entre as vítimas do suposto ataque com armas químicas em Khan CheikhounFoto: picture alliance/dpa/M.Karkas

Um ataque na terça-feira (04/04), atribuído às tropas do regime de Bashar al-Assad com o uso de armas químicas, deixou ao menos 86 mortos na cidade de Khan Cheikhoun, na província de Idlib, no norte da Síria.

A autópsia das vítimas, realizada com supervisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq), confirmou o uso de armas químicas, considerado crime de guerra.

Mas o especialista russo em política de segurança Alexej Malaschenko afirma, em entrevista à DW, que os bombardeios aéreos sírios atingiram o alvo errado – um suposto depósito de armas químicas rebeldes. O argumento é o mesmo de Moscou.

DW: Os países e mídias ocidentais acusam o Exército sírio de usar armas químicas na província de Idlib. Já o Exército russo diz que as tropas de Assad atingiram um armazém com armas químicas dos rebeldes. Quais argumentos são mais convincentes para você?

Alexej Malaschenko: Eu acredito que os dois lados exageram. Como um tipo de justificativa para a Rússia e também para Assad, só posso perguntar: por que eles precisam disso? Por que eles teriam sujado as mãos considerando que há mais de 70 vítimas? Eu não consigo entender completamente esta hipótese. Outra explicação – desta vez dos russos – é que os combatentes oposicionistas teriam abandonado um depósito, e pode ter explodido gás, gás sarin ou outra coisa. Não está claro por que este depósito era desconhecido e não foi desativado. O gás, em tal quantidade, não teria simplesmente aparecido, quer dizer, alguém o deixou ali. Quem é o culpado? Os combatentes, que o deixaram lá? Sim, mas também aqueles que não o acharam, quer dizer, o governo sírio.

DW: Você tende a acreditar em qual interpretação?

AM: É uma guerra. Os sírios dispararam, mas acertaram o alvo errado. Sim, foi disparado por este lado [das tropas do governo]. Não houve intenção, mas um erro. Se minha suposição estiver correta, teria que ser pedido desculpas e admitir o erro. Em uma guerra, por vezes aviões são atacados por engano. Para ser honesto, este momento trágico é uma oportunidade para explicar o que realmente aconteceu e não para se acusarem mutuamente.

DW: Então você acredita que as armas químicas estavam no chão e nas proximidades dos opositores de Assad?

AM: Sim, elas estavam lá e foram atingidas. Esta é minha suposição.

DW: As armas químicas do Exército sírio teriam sido destruídas sob supervisão internacional após 2013. Partindo do princípio que o Exército de Assad usou gás venenoso, de onde ele o adquiriu?

AM: É impossível destruir todas as armas, especialmente em um país tão difícil de controlar como a Síria. É uma ilusão acreditar que tais regimes autoritários controlam tudo. Alguém pode ter deixado algo e, com elas, ter negociado algo. Deveria ter sido feito tudo para recolher todas as armas.

Deveria ter sido feito o que o ex-presidente Barack Obama havia proposto: traçar uma linha vermelha contra o uso de armas químicas. Na realidade, é nossa causa comum. É muito triste que isso tenha resultado num escândalo. Por outro lado, tal tragédia é um motivo para se aproximarem, alcançarem um acordo e admitirem seus próprios erros. Recentemente, Washington disse que não se busca, como no passado, a destituição de Assad. Neste contexto, por que Assad teria feito tudo isso? Por isso, atualmente há mais perguntas do que respostas.

DW: De onde a oposição poderia ter obtido armas químicas?

AM: A guerra civil prevalece no país e, assim, há possibilidades suficientes. Quando algo assim começa, todas as armas podem, até mesmo as piores, não estar sob controle. Pode-se comprar e vender armas. É também possível que as armas tenham sido levadas para fora do país.

DW: Você mencionou uma "linha vermelha". O Ocidente poderia responder: nós tentamos sim traçar tal linha no Conselho de Segurança da ONU, mas falhamos repetidamente devido ao veto da Rússia e China, como ocorreu no final de fevereiro. Como deveria ser então?

AM: Eu não sou especialista em direito internacional e nem sempre entendo a posição russa. Quando você joga honestamente contra essas armas químicas, talvez seja possível recolocar esta resolução. Nela havia elementos que não eram tão dirigidos contra a Rússia, mas contra Assad. Isso deveria continuar acontecendo, mesmo que os EUA, agora, tenham uma posição menos dura.