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Salve as baleias... e as palavras!

Simone de Mello9 de janeiro de 2006

Iniciativa de jornalista alemão alerta para a morte lenta das palavras no processo de transformação lingüística. Ele pensa até em criar um cemitério de termos extintos.

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Dicionário registra vocábulos ameaçados

Não apenas os animais são ameaçados de extinção: palavras também estão expostas ao mesmo risco. Caem em desuso, são estigmatizadas como "arcaísmo", confinam-se às páginas do dicionário e, por fim, acabam sendo eliminadas do léxico da língua corrente.

Para chamar a atenção para esta situação, o jornalista Bodo Mrozek lançou na internet a "Ação Proteção de Espécies", com uma "lista vermelha" de palavras em extinção, a ser ampliada com sugestões dos usuários. O livro Lexikon der bedrohten Wörter (Léxico das Palavras Ameaçadas), recém-editado pela Rowohlt, documenta 400 termos compilados por Mrozek.

Dos suspeitos sumiços na língua

Augenweide, por exemplo, um termo que significa literalmente "pastagem para os olhos", isto é, "colírio para os olhos", em sentido figurado, talvez soe poético demais para uma linguagem in. Tende a desaparecer da língua falada.

Também há palavras politicamente incorretas, fadadas a serem eliminadas do linguajar cotidiano. Leitkultur, "cultura dominante", por exemplo, é um termo utilizado por conservadores para reivindicar a hegemonia da cultura alemã, em detrimento de manifestações multiculturais.

Até mesmo a palavra "estrangeiro" (Ausländer) consta da lista. Talvez pelo fato de a versão politicamente correta para denominar um imigrante ser "co-cidadão estrangeiro" (ausländischer Mitbürger)...

A propagação de anglicismos também é um fator de ameaça ao léxico germânico. Bewerbungsgespräch, a entrevista que a pessoa faz quando está procurando emprego, tornou-se bem menos corrente do que Interview.

A dominância da norma culta sobre variantes dialetais também tende a reduzir o léxico: Kartoffel (batata) ameaça expulsar da língua corrente a denominação austríaca Erdapfel, por exemplo. No entanto, como substituir o Einspänner, o café com creme de leite tipicamente vienense?

Com a língua morrem as coisas

Nachkriegszeit: Trümmerfrauen in Berlin
'Trümmerfrauen' na reconstrução de Berlim, agosto de 1947Foto: dpa

Há palavras que se tornam obsoletas porque seus referentes se tornaram uma raridade: Paternoster, o elevador que funciona pelo princípio do motor contínuo e mantido em raros edifícios tombados pelo patrimônio histórico; o "patim" (Rollschuh), colocado de escanteio pelo in-line skate ou a "lancheira" (Schulranze), substituída pela mochila há muito. Tankwart, por sua vez, "frentista", já não existe há muito tempo nos postos de gasolina alemães, onde impera o self service.

A "lista vermelha" também inclui termos históricos, como Trümmerfrau (mulher dos escombros), denominação das alemãs do pós-guerra, mão-de-obra fundamental na reconstrução das cidades destruídas. Afinal, esta é uma geração que está desaparecendo.

Unterzeichnung Grundgesetz 1949
Adenauer, sem chapéuFoto: AP

Adenauerhut, o tipo de chapéu do legendário premiê alemão e Schimanskijacke, o modelo de jaqueta copiado da personagem de uma série policial de tevê, são referências datadas que facilmente se perdem com o tempo.

Há outras menções do gênero que adquirem um caráter irônico. Será que Verlobung ("noivado") e Patriotismus ("patriotismo") estariam realmente em extinção?

A ironia prossegue na listagem, com termos como Sozialstaat (Estado social), Vollbeschäftigung (pleno emprego) ou Festanstellung (emprego efetivo). Diante das amplas reformas do sistema social, com cortes consideráveis, e da tendência de trabalhos temporários sem vínculo empregatício, estas palavras realmente podem vir a se tornar obsoletas.

Cemitério de palavras

A graça do Léxico de Palavras Ameaçadas é justamente enfocar termos que podem vir a cair em desuso, mas ainda fazem parte do vocabulário ativo da população. Isso leva à reflexão sobre a relevância social e histórica que as coisas tendem a perder com rapidez cada vez maior.

Algo inusitado também é o ativismo de Bodo Mrozek, que não apenas descreve um processo de mudança da língua, mas também incita à conservação das palavras ameaçadas, convocando a população a uma maior "coragem para o antiquado".

No últimos oito anos, o Duden – o "Aurélio" da língua alemã – incluiu em suas páginas cerca de oito mil palavras novas. No entanto, o número de palavras extintas é desconhecido.

"Estou pensando em criar um cemitério de palavras, talvez numa região que também corre o risco de se tornar fantasma, em alguma cidade no Leste do país, quem sabe, ou em alguma siderúrgica desativada no Oeste", declarou Mrozek em entrevista ao diário berlinense tageszeitung: "Lá poderiam se erigir lápides de palavras extintas, o que talvez viesse a revitalizar a região".