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Sauditas mantêm influência conservadora

11 de agosto de 2012

A Arábia Saudita se tornou um dos mais influentes países árabes, graças às suas reservas de petróleo. Ouro negro ajuda o país a defender seus interesses, mas há crescentes tensões com os vizinhos – por exemplo, a Síria.

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Foto: Reuters

Quando se trata dos interesses da família real saudita, uma coisa parece não faltar: dinheiro. É verdade que os recursos financeiros oriundos do petróleo não são ilimitados, mas até hoje foram suficientes para permitir aos cidadãos do país um padrão de vida elevado – se comparado ao de outros países da região – e para apoiar os países aliados.

"Os sauditas tradicionalmente exercem sua influência através do dinheiro ou da promessa de dinheiro", diz o especialista Guido Steinberg, do Instituto Alemão de Assuntos Internacionais e Segurança (SWP, na sigla original). No Egito, por exemplo, os sauditas apoiam o conselho militar, que reúne o que sobrou do regime do ditador deposto Hosni Mubarak.

Durante décadas, Mubarak foi o aliado mais próximo da Arábia Saudita no Oriente Médio. Muitos egípcios migraram para o país do Golfo Pérsico em busca de emprego, ao passo que muitos sauditas gostam de passar as férias na terra dos faraós. Além disso, os sauditas investiram bilhões na economia egípcia, e não querem perder sua influência no mais populoso país árabe, mesmo depois de a Primavera Árabe ter embaralhado as cartas políticas na região.

"A Arábia Saudita tenta apoiar a estabilidade de regimes autoritários", diz Steinberg. "Eles têm um objetivo comum: permanecer no poder." Ele acrescenta que, como a legitimidade dos poderosos sauditas é questionável, eles têm o constante medo de perder o poder. Além disso, os governantes sauditas temem a minoria xiita que vive no leste do país e representa cerca de 10% da população. A maioria dos sunitas acusa os xiitas de ter laços com o Irã, país de maioria xiita que é o arqui-inimigo da Arábia Saudita.

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Milhares de muçulmanos durante a peregrinação a MecaFoto: dapd

O berço do Islã

Quem manda na Arábia Saudita são os sunitas, e a interpretação fundamentalista do Islã pelos wahhabbis, uma corrente sunita geralmente conhecida pelo nome salafista, é, na prática, a religião oficial da Arábia Saudita. A influência dos wahhabbis se estendeu para muito além das fronteiras do reino, apesar de a Arábia Saudita oficialmente coibir correntes extremistas.

"A presença de correntes subestatais é percebida em todos os países da região onde os salafistas estão fortemente representados", comenta Steinberg. Como exemplo, ele cita o Egito e a Tunísia.

Os wahhabbis também são ativos fora do mundo árabe. "Ao longo das últimas décadas, especialmente desde o início dos anos 1960, os sauditas têm investido muita energia na disseminação dessa doutrina", afirma Steinberg. "Principalmente em regiões onde eles sabiam que haveria pouca resistência: a África Ocidental, a Ásia Meridional, o Sudeste Asiático, mas também o mundo ocidental e a Europa."

Na condição de berço do Islã, a Arábia Saudita tem um grande prestígio entre muitos muçulmanos no mundo inteiro. Milhões de peregrinos muçulmanos viajam aos lugares santos de Meca e Medina a cada ano. O rei saudita designa-se guardião das mesquitas sagradas, num claro esforço para sublinhar sua legitimidade perante os muçulmanos.

Espalhar a interpretação saudita do Islã tem a mesma finalidade. Indiretamente, porém, ela contribuiu para um aumento do número de grupos terroristas no Islã, que recrutam seus seguidores quase que exclusivamente das fileiras dos salafistas em regiões como o Magrebe, países da Ásia Central e do Sudeste Asiático – o Afeganistão, por exemplo – e a Península Arábica.

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A Arábia Saudita é o principal produtor de petróleo do mundoFoto: AP

O arqui-inimigo Irã

Na Síria, onde a política é dominada pela minoria dos alauítas, a influência saudita tem sido limitada – também porque a Síria é a mais importante aliada do Irã no mundo árabe. Por isso que não é nenhuma surpresa que a Arábia Saudita apoie os rebeldes em vez do regime do presidente Bashar al-Assad.

Relatos não confirmados sugerem que tanto a Arábia Saudita como o emirado Catar fornecem armas para os opositores de Assad. Isso tem contribuído para intensificar a guerra civil na Síria, reduzindo ainda mais a já pequena chance de uma solução política.

Com isso a Síria se tornou um campo de batalha no conflito regional entre Arábia Saudita e Irã. As tensões religiosas entre os sunitas, dos quais o governo em Riad se vê como representante, e os xiitas, que têm seu centro em Teerã, desempenham um papel cada vez maior no conflito. Assim, a guerra civil na Síria tornou-se também uma guerra de propaganda midiática entre a Arábia Saudita e o Irã, com as influentes emissoras de televisão Al Jazeera e Al Arabiya do lado sunita.

Também a corrida armamentista entre a monarquia do Golfo Pérsico e o Irã já se arrasta há anos. Enquanto Teerã tenta virar uma potência nuclear, a Arábia Saudita aposta na promessa de proteção dos Estados Unidos e na compra de armas no exterior. Também nesse sentido a imensa quantidade de petróleo ajuda o país.

Por ser um importante fornecedor de petróleo e parceiro econômico, a Arábia Saudita nao é criticada abertamente pelos Estados Unidos e pela União Europeia. O país localizado no Golfo Pérsico é o único capaz de aumentar a produção de petróleo em questão de dias e, assim, determinar o preço do petróleo mundial.

Enquanto esta situação se mantiver e o dinheiro do petróleo continua a fluir, a Arábia Saudita terá um grande espaço de manobra para exercer a sua influência nos negócios, na política e na religião.

Autora: Anne Allmeling (fc)
Revisão: Alexandre Schossler