Saída de Foster não basta para Petrobras, dizem analistas
4 de fevereiro de 2015As denúncias de corrupção da Petrobras e o desempenho negativo da empresa culminaram com a saída de Graça Foster da presidência da estatal. Após um dia intenso de especulações, Foster e mais cinco diretores renunciaram nesta quarta-feira (04/02) a seus cargos.
A mudança, no entanto, não resolve os problemas da Petrobras, avaliam especialistas ouvidos pela DW Brasil. Para analistas, a nova diretoria precisa fazer uma verdadeira limpa na estatal para que a empresa possa recuperar a credibilidade perdida com os escândalos.
"Tirar qualquer pessoa que não atenda e satisfaça os acionistas é bom. Agora, não podemos ignorar que a Petrobras é uma empresa extremamente complexa de se administrar e que existem problemas enraizados na própria cultura da estatal", afirma o economista Samy Dana, da Fundação Getúlio Vargas. "Nesse sentido, tirar a Graça Foster não acaba com os problemas, ela não é o mal da Petrobras."
Para José Matias-Pereira, professor de administração pública da UnB, a saída de Foster era necessária para que a petroleira volte a ter credibilidade, mas a estatal continua com um problema sério de corrupção. "O caso da Petrobras não se resolve com a indicação de um novo presidente e de uma nova diretoria", afirma.
Diversos nomes são citados pela imprensa como possíveis candidatos a vaga de Foster. Entre eles estão Rodolfo Landim, ex-presidente da OGX e ex-diretor da Petrobras; Henrique Meirelles, presidente do Banco Central durante o governo Lula; Roger Agnelli, ex-presidente da Vale; Luciano Coutinho, presidente do BNDES; Antonio Maciel Neto, presidente do Grupo Caoa e ex-funcionário da Petrobras; Alexandre Tombini, presidente do Banco Central; e Nildemar Secches, ex-presidente da Perdigão; e até Murilo Ferreira, presidente da Vale.
"O novo presidente da empresa deverá ter experiência para lidar tanto com a situação econômica desfavorável, quanto com a situação política delicada, o que faz com que a decisão do novo nome não seja meramente técnica", avalia o cientista político Filipe Souza Corrêa, do Instituto Alemão de Estudos Globais e Regionais (Giga), em Hamburgo.
Desafios da nova diretoria
O governo ainda não se posicionou, mas independente de quem seja o escolhido, a nova diretoria terá grandes desafios pela frente para recuperar não apenas a credibilidade, mas também o crescimento da Petrobras.
"A recuperação da imagem da empresa no mercado internacional será certamente a principal tarefa do novo presidente, o que envolve medidas bastante claras a fim de sanar os problemas na gestão de contratos denunciados pela Operação Lava Jato", afirma Corrêa. "A principal delas é o fortalecimento da Diretoria de Governança, Risco e Conformidade, criada em 2014 em decorrência da aprovação da Lei Anticorrupção."
O novo presidente deve ter pulso firme para combater a corrupção na estatal e, para isso, demissões são necessárias, considera Dana. "Para recuperar a empresa é preciso demitir todas as pessoas envolvidas e que tenham evidências de participação em qualquer tipo de esquema. É uma limpeza total, e a empresa recomeça mais ou menos do zero", afirma.
Matias-Pereira acrescenta ainda que, para conseguir credibilidade, transparência é fundamental. "É necessário que o indicado tenha a percepção clara de que é preciso dialogar com a sociedade, informar o que esta acontecendo dentro da empresa."
A tentativa de retomar a credibilidade vem num momento difícil, devido ao preço baixo do petróleo no mercado internacional, o que diminui as receitas de exportação e emperra novos investimentos no setor.
Impacto no mercado
O mercado interno reagiu bem à saída de Foster. Já nesta terça-feira, os rumores de uma possível saída da presidente da estatal fizeram as ações da Petrobras subirem 15%. Nesta quarta-feira, logo após o anúncio da renúncia, as ações começaram a operar em alta, mas acabaram recuando no decorrer do dia.
Foster assumiu o comando da Petrobras em fevereiro de 2012, se tornando a primeira mulher do mundo a comandar uma empresa de petróleo de grande porte. Mesmo com a deflagração da Operação Lava Jato, em março de 2014, e o acúmulo de resultados negativos na petroleira, a presidente Dilma Rousseff vinha adiando o afastamento de Foster.
No entanto, a divulgação de baixas nos ativos da empresa de aproximadamente 88 bilhões de reais na semana passada, referentes a perdas por corrupção e ineficiência da execução de projetos, foi a gota d'água para que Foster deixasse o controle da estatal. O conselho de administração da companhia se reúne nesta sexta-feira para a escolha dos substitutos da presidente e diretores.