Serviço secreto alemão é acusado de cooperar com a NSA
21 de julho de 2013O Departamento Federal de Proteção à Constituição (BfV, na sigla original) confirmou que a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos disponibilizou ao órgão alemão um software de espionagem. Segundo afirmou Hans-Georg Maassen, presidente do BfV, em entrevista ao jornal Bild am Sonntag, o programa disponibilizado pelos EUA foi até agora somente testado na Alemanha, não tendo sido ainda utilizado.
Maassen acentuou, ao mesmo tempo, que, "em sua cooperação com a NSA, o BfV respeita à risca as diretrizes legais". Especulações de que o BfV, serviço secreto alemão de atuação interna, "recolhe dados usando o software disponibilizado pela NSA e repassa aos EUA ou recebe do país dados" foram rejeitadas por Maassen.
Segundo ele, a cooperação com os serviços secretos norte-americanos contribuem sensivelmente para evitar ataques terroristas na Alemanha. Maassen deu estas declarações em resposta a uma reportagem do semanário Der Spiegel, segundo a qual o software da NSA não é usado apenas pelo BfV, mas também pelo Serviço Federal de Informações (BND, na sigla original), órgão de inteligência alemão com atribuições internacionais.
Repasse "não acontece"
O presidente do BND, Gerhard Schindler, deu, a princípio, declarações pouco concretas a respeito do assunto. Ao jornal Bild am Sonntag, ele afirmou simplesmente: "Um repasse mensal de milhões de dados da Alemanha para a NSA através do BND é algo que não acontece", acrescentando que no último ano, apenas dois dossiês com dados de cidadãos alemães foram encaminhados para a NSA. "Falei recentemente sobre a cooperação com a NSA diante do grêmio parlamentar de controle", completou Schindler.
O semanário Der Spiegel se refere em sua reportagem a documentos da NSA, dos quais consta que o software de espionagem de nome "Xkeyscorewerde" registra grande parte dos dados alemães aos quais a NSA tem acesso. O programa pode, de acordo com a revista, tornar visíveis os verbetes inseridos nas máquinas de busca na internet por pessoas que estão sendo espionadas. E pelo menos parte dos conteúdos de comunicação pode ser também espionada.
De acordo com a reportagem, a cooperação entre os serviços secretos alemães e a NSA se tornou mais intensa nos últimos tempos. E dos documentos norte-americanos constariam referências a um certo "entusiasmo" do presidente do BND. "O BND tentou influenciar o governo alemão de forma a afrouxar as leis de proteção de dados a longo prazo, a fim de criar mais possibilidades para a troca de informações entre os serviços secretos", teriam anotado funcionários da NSA em janeiro. De acordo com a revista Der Spiegel, uma delegação de 12 pessoas do alto escalão do BND visitou a NSA em fins de abril, tendo se reunido com diversos especialistas em coleta de dados.
Poucas semanas depois, o ex-funcionário do serviço secreto norte-americano, Edward Snowden, revelou o programa de espionagem Prism, através do qual, segundo ele, é recolhido um grande volume de dados provenientes, inclusive, da Alemanha. O governo alemão insiste em afirmar que não foi informado a respeito do programa.
Revista diz que governo já sabia desde 1992
A revista Focus publicou informações de que o Ministério do Interior da Alemanha já sabe há mais de 20 anos que a NSA espiona grande parte do território alemão. Em julho de 1992, o ministério teria confiscado documentos altamente secretos das autoridades da Stasi, a polícia política da ex-Alemanha Oriental, segundo a revista.
Mais de 13 mil documentos originais da NSA revelariam, entre outras coisas, que o serviço secreto norte-americano espionou nos anos 1970 o governo alemão e empresas do país, entre elas a Siemens. Dos dossiês, constam ainda descrições detalhadas de um sistema altamente eficiente de escuta telefônica.
Glenn Greenwald, jornalista e pessoa de contato com Snowden, anunciou que fará novas revelações. Segundo Greenwald, Snowden entregou a ele e a um jornalista da Spiegel cerca de 10 mil documentos altamente confidenciais. De acordo com Greenwald, o governo alemão não participa do sistema de espionagem de forma tão ativa quanto o Reino Unido e os EUA, mas ainda assim de maneira intensa.
SV/dpa/rtr