Sharon acusa Europa de anti-semitismo coletivo
25 de novembro de 2003"Nós estamos diante de um anti-semitismo que sempre existiu na Europa e realmente não é nenhuma novidade", disse o premiê israelense em entrevista ao serviço de informação online Eupolitex.com. Ele esclareceu que estava falando de "anti-semitismo coletivo" e fez mais duas recriminações: os europeus não saberiam diferenciar entre Israel e os judeus, e os governos da União Européia não estariam fazendo o suficiente para combater o anti-semitismo.
O político conservador também advertiu que o crescente número de muçulmanos na UE ameaça a vida de judeus. "Só o fato de existir um número gigantesco de islâmicos na União Européia, algo na ordem de 17 milhões, gera uma questão política", disse Sharon.
"Israel é ameaça à paz mundial"
- A reação do líder do Bloco Likud foi o conseqüência de uma pesquisa feita nos 15 países membros da UE sobre os principais focos de conflito no mundo. Mais da metade dos entrevistados consideraram Israel como um perigo para a paz mundial, mais do que o Irã e a Coréia do Norte. Isso se deveria à política linha dura de Sharon no conflito com os palestinos e à revolta que isto gera no mundo islâmico.Na Alemanha, as reservas contra judeus aumentaram nos últimos cinco anos. Na avaliação de uma pesquisa do Instituto Forsa encomendada pela revista Stern, 23% dos alemães foram classificados como anti-semitas latentes. Isto representa três pontos percentuais a mais do que cinco anos atrás. Mais de um quinto dos entrevistados manifestaram a opinião de que os judeus têm influência demais no mundo. Quase um quinto manifestou a opinião de que "os judeus não seriam totalmente inocentes" na sua perseguição.
"Povo de criminosos?" -
A pesquisa foi realizada depois que a União Democrata expulsou o deputado Martin Hohmman de sua bancada, na semana passada. Ele lançara a questão de que "os judeus seriam um povo de criminosos". O político acusado de anti-semitismo usou para isso a palavra "Tätervolk" (povo de culpados), usada exclusivamente em relação aos nazistas por causa do extermínio de seis milhões de judeus na Europa durante a Segunda Guerra Mundial.Em comparação com uma pesquisa feita em 1998, em que foram usadas as mesmas perguntas, a imagem que os alemães têm dos judeus piorou muito. Naquele ano, 17% dos entrevistados concordom que "os judeus não foram totalmente inocentes na sua perseguição". Agora, este percentual aumentou para 19%. Os que acham que os judeus têm influência demais no mundo aumentaram de 21% para 28%, nos últimos cinco anos.
Nova onda de anti-semitismo
- O suíço Ekkehard Stegmann, especialista no assunto, já identificou "uma nova onda de anti-semitismo". Aumenta o número de ataques verbais e físicos. Segundo ele, isto não acontece só na Alemanha. "É um fenômeno europeu", disse o perito, acrescentando que "depois dos últimos ataques contra instituições judaicas em Istambul, França e Suécia praticamente não existe mais uma mancha branca no mapa da Europa".Stegmann apontou dois motivos para o aumento do anti-semitismo no velho continente: solidariedade com os palestinos no conflito no Oriente Médio e uma desconfiança inata contra os judeus, como parte da cultura européia. "O lado obscuro da nossa cultura na Europa é a rejeição aos judeus", afirmou.
Ignorância & preconceito
- A pesquisa do Instituto Forsa também prova uma relação direta entre anti-semitismo e má formação educacional. As reservas contra judeus são maiores entre as pessoas com baixo nível de escolaridade. Os idosos também fazem mais reservas do que os jovens.A falta de informação se verifica em todos os grupos. À pergunta "quantos judeus vivem na Alemanha", 31% dos entrevistados responderam "mais de cinco milhões". Menos de 22% disseram o número certo, que é aproximadamente 100 mil.
Verdade & anti-semitismo
- A imprensa alemã, sempre muito cautelosa com a questão, não nega que existe anti-semitismo no país e na Europa. Mas acha que o premiê israelense disse uma inverdade quando acusou os europeus de anti-semitismo coletivo, segundo destaca o editorial do General-Anzeiger. Segundo o jornal de Bonn, "a verdade é que, com sua política de violação dos direitos humanos dos palestinos, o governo de Sharon não serve à paz. Pelo contrário, só a impede, e esta verdade não tem absolutamente nada a ver com anti-semitismo".O Nordsee Zeitung foi outro dos poucos jornais alemães que reagiram à acusação do político israelense de linha dura, opinando que "críticas fundamentadas a Israel não só devem ser permitidas, mas também são necessárias e não têm nada a ver com anti-semitismo".