Siderúrgicas alemãs sofrem com alta do preço do aço
23 de maio de 2004Os preços do aço atingiram seu nível mais alto desde 1989, e alguns tipos de aço já bateram todos os recordes. O aço para concreto armado, por exemplo, aumentou 86% no prazo de um ano, segundo o Departamento Federal de Estatísticas da Alemanha. "Uma explosão de preços como no primeiro trimestre deste ano não tem precedentes na história do mercado do aço", confirma Andreas Möhlenkamp, diretor-executivo da Confederação Alemã das Indústrias Siderúrgicas e Metalúrgicas (WSM), em entrevista a DW-WORLD.
O boom na China faz os preços subirem
A alta drástica dos preços se deve ao aumento da demanda mundial. A China é o principal comprador nos mercados de matérias-primas. O forte crescimento econômico naquele país estimula cada vez mais a procura de aço. Em 2004, o consumo chinês do material aumentará 13% em relação ao ano passado, prevê o Instituto Internacional do Ferro e do Aço. Isso equivale a um consumo maior do que o de toda a União Européia e os Estados Unidos juntos.
As siderúrgicas não estavam preparadas para enfrentar demanda tão forte. Pelo contrário, os clássicos fabricantes de aço, como Japão, Coréia, Alemanha e os Estados Unidos, diminuíram suas capacidades. E nesses países as matérias-primas para a sua fabricação tornam-se escassas e, portanto, mais caras. A indústria alemã do aço é uma das mais afetadas, por ter que importar grande parte das matérias-primas.
Empregos em perigo
Sobretudo os fornecedores da indústria metalúrgica registram perdas e enfrentam dificuldades. Isso porque fixaram seus preços em contratos de longo prazo com seus clientes. Esses contratos previam uma margem de oscilações normais. "Mas muitas empresas não contavam com um aumento de preços desta dimensão", expõe Andreas Möhlenkamp, da confederação. Por isso, as indústrias se vêm obrigadas a continuar abastecendo seus clientes e cobrando, muitas vezes, preços defasados.
Daí não é de se admirar que os lucros diminuam, apesar de um faturamento maior. Muitas empresas fornecedoras de porte médio estão à beira da insolvência. "Cerca de 40 mil empregos estão ameaçados na Alemanha", calcula Möhlenkamp.
Uma maneira de sair da crise seria repassar os custos aos clientes. No caso da indústria automobilística, isso acabaria afetando o consumidor. Por isso, os fabricantes evitam essa solução. "Repassar automaticamente o aumento dos custos não é um bom procedimento na economia de mercado", opina a Confederação Alemã da Indústria Automobilística (VDA).
Expectativa de melhora
No entanto, os representantes das indústrias de automóveis e do aço pretendem encontrar uma solução conjunta para a situação precária dos fornecedores. Andreas Möhlenkamp, porém, quer medidas o quanto antes: "Tempo significa muito dinheiro para as nossas empresas." Mas o abastecimento de aço, a longo prazo, está garantido na Alemanha.
O alto preço do aço, contudo, não chega a colocar em risco a recuperação da conjuntura alemã, que apenas está começando, afirma Klaus-Jürgen Gern, do Instituo da Economia Mundial em Kiel. "O consumidor não enfrentará mudanças graves por causa disso", segundo ele. Um aumento do preço do petróleo teria efeitos muito mais retumbantes para a economia e o consumidor.
Em vista dos esforços chineses de desaquecer sua economia, Gern conta com que a situação se estabilize. "Os preços das matérias-primas já devem ter ultrapassado o auge, ou estão prestes a fazê-lo. Nós esperamos uma normalização já no próximo ano".