Sonda européia descobre mar congelado em Marte
23 de fevereiro de 2005As fotos foram tiradas por uma câmara especial desenvolvida na Alemanha e que está a bordo da sonda espacial européia Mars Express. O oceano congelado encontra-se debaixo de uma camada de pó e pedras, anunciaram os cientistas. Não fosse esta camada, a água evaporaria no ar rarefeito no planeta vermelho.
Os pesquisadores europeus acreditam que o tamanho aproximado deste mar, que estaria congelado até seu fundo, seja de 800 por 900 quilômetros, com uma profundidade de 45 metros. Ele se localiza na região vulcânica Elysium Planitia, perto do equador marciano. Na superfície da água, os cientistas supõem blocos de gelo flutuante.
Formação há cinco milhões de anos
O mar congelado poderia ter se originado há cinco milhões de anos, sendo portanto relativamente jovem, do ponto de vista geológico. "Se as impressões dos cientistas forem confirmadas, Marte é, ainda hoje, um planeta ativo geologicamente", explica Ernst Huber, do Centro Aeroespacial Alemão (DLR).
A sensação se justifica no meio científico, já que a existência de água é uma importante condição para o surgimento de vida. No ano passado, a sonda Mars Express havia descoberto que o Pólo Sul do planeta vermelho é coberto de gelo.
Até agora, sondas norte-americanas haviam encontrado apenas vestígios de que alguma vez teria havido água em Marte. As fotos da Mars Express, tiradas a 270 quilômetros de altitude, comprovam que o precioso líquido deve continuar lá.
Prova por indícios
As imagens transmitidas pela Mars Express e analisadas pelos cientistas da DLR e da Agência Espacial Européia (ESA) mostram uma área de cerca de 40 quilômetros, na posição conhecida por Orbit 32. O pesquisador alemão Ralf Jaumann, que desenvolveu a câmera que fez as fotos, destaca que se trata apenas de uma prova por indícios. "Para termos certeza absoluta, seria preciso viajar até lá, cavar e retornar. Mas a avaliação das imagens não nos deixa outra possibilidade a não ser: é água", comenta.
Uma expedição até Marte eliminaria todas as dúvidas. Há muito tempo, americanos e europeus planejam uma viagem tripulada ao planeta vermelho. Sua missão não seria apenas enviar fotos para a Terra, mas também trazer amostras sólidas. "Sample Return" é a denominação dada aos cientistas ao ousado projeto para desenvolver uma "infra-estrutura" que permita tal missão ao planeta vermelho, explica Jaumann.
Problemas a serem superados
Alguns planos vão além do vôo tripulado a Marte e prevêem a construção de bases naquele planeta, onde seres humanos poderiam morar por longo tempo. "Estas não são idéias mirabolantes", garante o cientista alemão, para quem a presença de água seria um enorme avanço para vencer este desafio.
O problema, conta Jaumann, é a radiação solar. Numa viagem à Lua, o campo magnético da Terra protege o astronauta das tempestades solares. Na superfície marciana, no entanto, estaria completamente exposto a estes raios mortais. Também não se sabe que efeitos uma viagem tão longa ao espaço teria sobre o ser humano. As diferenças de pressão poderiam, por exemplo, enfraquecer os sistemas cardíaco e imunológico. Só uma última insegurança permanece, segundo Jaumann: "Pode ser que lá em cima haja coisas de cuja existência ainda nem sabemos".