Crowdfunding
3 de outubro de 2011Seguindo o passo de partidos políticos e campanhas filantrópicas, artistas e pessoas envolvidas com produção cultural estão usando a internet para tornar seus projetos realidade. Chamado de crowdfunding (financiado pelo público, na tradução livre do inglês), o principio é bem simples: em vez de conseguir recursos para a realização dos projetos, esses sites apresentam ideias e metas ao público e esperam pequenas doações para alcançar o valor desejado, viabilizando, assim, a realização dos projetos em questão.
A prática popular nos Estados Unidos, utilizada também por várias plataformas no Brasil, tornou-se frequente na Alemanha nos últimos meses. A partir de 2010, diversos sites de crowdfunding foram criados no país, alguns deles em Berlim. Dados divulgados na internet apontam para a existência de pelo menos "uma dúzia de plataformas do gênero em língua alemã".
Um simples cadastro no site, uma descrição detalhada do projeto e um vídeo de apresentação é o que basta para o projeto estar aberto a investidores de todo o mundo. O valor mínimo e máximo das doações varia de um site para o outro, mas em alguns deles é possível contribuir com apenas um euro.
Em troca, o doador recebe uma recompensa não monetária, que pode variar de acordo com o projeto e o valor da doação. Essa contrapartida pode ser a entrada para a estréia do espetáculo que está sendo financiado, a amostra de um produto recém-desenvolvido, um livro ou DVD autografado. Ou simplesmente o próprio nome incluído nos agradecimentos de um encarte de CD.
De Berlim para Berlim
Fundado em 2010 e baseado em Berlim, o site Inkubato pretende ser uma plataforma para projetos culturais e comunitários na cidade. Movimentando valores como cinco mil euros para editar um livro ou 50 mil para um website de entrega de produtos orgânicos, o site quer atrair não só investidores locais, mas também quem curte a cena berlinense e quer apoiar a cultura na cidade.
“Vemos tantas idéias boas, que não se tornam realidade por razões financeiras. Queremos que esses projetos aconteçam. Agora qualquer um, e não somente as grandes instituições ou investidores capitalistas, pode decidir que projetos serão financiados”, declara Tilo Schmidt, um dos fundadores do Inkubato.
Esse senso comunitário também aproxima e envolve o público. “Tanto os criadores, como aqueles que contribuem, se beneficiam do projeto, criando um senso de comunidade e de realização” diz Schmidt. Seu site não cobra taxa dos projetos que não se concretizam. “Quase todas as atividades legais podem ser financiadas no site. As possibilidades, assim como os doadores, são ilimitadas”, completa.
Um dos projetos mais bem-sucedidos do site foi a arrecadação de mais de 25 mil euros para a finalização de um filme sobre o Bar25, um dos pontos mais populares da cena clubber de Berlim, que fechou suas portas em 2010. À beira do rio Spree, o local foi, durante sete anos, ponto de encontro nas noites e nas manhãs após as lendárias festas na cidade.
Fazer acontecer
O duo de música experimental Sister Chain e Brother John, formado por uma israelense e um inglês que vivem em Berlim, também utilizou o site. Eles tinham gravado o segundo álbum do duo, no próprio estúdio caseiro, e precisavam de dinheiro para masterizar e lançar o disco em vinil.
Em quatro meses, a dupla levantou a quantia de que precisava. Segundo o guitarrista John Higgins (Brother John), eles foram uns dos primeiros a utilizar o site Inkubato. “Recebemos ajuda para fazer o vídeo promocional e para colocá-lo no site. Eles também nos deram conselhos e encorajaram o projeto” declara o músico.
O único ponto negativo foi a dificuldade para a doação. “Era exigido um cadastro no site paypal. Isso dificultava um pouco o processo e gerou um custo extraordinário de taxas de serviço. Hoje em dia, o Inkubato mudou o sistema e é mais fácil fazer doações”, completa.
O álbum da banda está sendo finalizado e deve ser lançado no começo do ano que vem. Apesar de a dupla ser favorável ao crowdfunding, a arrecadação não aconteceu como eles esperavam. “A idéia era receber muitas doações de 15 euros, aproximadamente o valor de uma cópia do disco. Era como fazer uma pré-encomenda. No fim recebemos doações maiores de fãs mais generosos”, constata John.
Mesmo quando não atingem o objetivo esperado, os projetos ganham uma visibilidade nas mídias sociais dos sites e podem servir como termômetro para quem tem um projeto cultural, social ou científico. O retorno direto acaba sendo, desta forma, uma ferramenta para saber com que o público quer ou não gastar seu dinheiro. Além disso, o crowdfunding se estabelece como uma maneira fácil, rápida e criativa, usada por pessoas ligadas à vida cultural, para sobreviverem no mercado competitivo.
Texto: Marco Sanchez
Revisão: Soraia Vilela