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"This is concrete" usa a dança como íntima viagem sensorial

Marco Sanchez27 de março de 2013

Com curta temporada em Berlim, o espetáculo do brasileiro Thiago Granato e do coreógrafo e dançarino Jefta van Dinther explora os sentidos e a percepção da temporalidade numa lenta batalha entre dois corpos.

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Foto: Renato Mangolin

O mundo da dança contemporânea em Berlim não é só extenso, mas – assim como a cena artística da cidade – diverso. Nos últimos anos, ele tem se tornado cada vez mais multicultural, criando novas possibilidades e abrindo os palcos da cidade para parcerias e projetos inusitados.  

This is Concrete é uma colaboração entre o brasileiro Thiago Granato e o sueco-holandês Jefta van Dinther e teve sua estreia em novembro do ano passado no Festival Contemporâneo de Dança de São Paulo. O espetáculo, que faz curta temporada no teatro HAU, em Berlim, mostrou-se bem-sucedido, tendo os ingressos esgotados em sua estreia, nesta terça-feira (26/03).

O brasileiro conheceu Van Dinther quando participava de um programa no Centro Coreográfico Nacional de Montpellier, na França, em 2008. "Desde então somos amigos. Trabalhei numa peça de Jefta chamada Kneeding em 2010. Depois dessa criação recebemos um convite para produzir uma nova peça, na qual ambos éramos coreógrafos e dançarinos. O resultado foi This is Concrete", disse Granato em entrevista à DW Brasil.

"Desautomatizar a percepção do tempo"

O espetáculo é uma lenta jornada na qual o corpo de dois homens interage intensamente, desfocando suas fronteiras. "A coreografia em This is Concrete acontece na combinação de um sinuoso e contínuo movimento dos corpos em relação à música, luz, cenografia e ao público", explicou Granato.

Os coreógrafos queriam entender as possibilidades de "desautomatizar a percepção do tempo cronológico, sempre associado ao espaço", e criar uma experiência com mais "qualidade que quantidade".

This Is Concrete
Espetáculo é uma colaboração entre Thiago Granato e Jefta van DintherFoto: Renato Mangolin

"Acabamos criando uma sequência de situações em que diversas temporalidades acontecem num mesmo tempo, convidando a plateia para uma viagem sensorial em que o tempo comanda a percepção", disse o artista. Para produzir essas diferentes temporalidades, a dupla trabalhou com o engenheiro de som holandês David Kiers e o técnico de luz alemão Jan Fedinger.   

Num ambiente que mistura batidas vertiginosas e sombras mutantes, a viagem dos coreógrafos transforma os movimentos nas palavras dos dois homens, que não falam apenas através de suas bocas, mas também pelos seus corpos. Esse choque físico e social criado por eles transforma vontade em prazer, palavras em comida, sexo em dança e simbiose em parasitismo. Eles criam algo íntimo, lento e cheio de incertezas.

Dança contemporânea

Vivendo e trabalhando entre o Brasil, a França e a Alemanha, o brasileiro é, atualmente, residente no Schloss Solitude, em Stuttgart, onde desenvolve pesquisa em novas coreografias.

Ele vê Berlim como uma cidade voltada para a dança e um dos centros da arte contemporânea no mundo. "Tem muitos artistas interessantes vivendo e visitando a cidade pela sua atmosfera criativa e pela quantidade de eventos que ela proporciona. Além disso, o custo de vida aqui é bem menor que em outras cidades europeias", disse.

Segundo o coreógrafo, há apenas um problema em relação à dança contemporânea no país. "As políticas públicas de distribuição de dinheiro para a produção de trabalhos não estão mais dando conta da diversidade e quantidade de artistas que Berlim tem, obrigando grande parte deles a ir buscar recursos em outros países para realizar suas obras e se sustentar."

This Is Concrete
Espetáculo mistura batidas vertiginosas e sombras mutantesFoto: Renato Mangolin

Já no Brasil, Granato acredita que a produção continua irregular, porém muito intensa. "Existem mais políticas públicas de distribuição de dinheiro para produções do que antes, e isso com certeza aumenta o número de artistas trabalhando. Mas o boom econômico que o Brasil está vivendo precisa ser observado com muita atenção. Não adianta ter muito dinheiro se não existem políticas públicas claras de distribuição desses recursos", completou.     

O artista está envolvido em diversos novos projetos, como a residência LOTE#2 que acontece em julho em São Paulo, além de continuar desenvolvendo, em colaboração com Sandro Amaral, o projeto Basement, no qual "busca uma situação de imersão que tem a intenção de aproximar o artista da dança contemporânea, sua obra e o público".

Depois da temporada em Berlim, o espetáculo This is Concrete já tem datas confirmadas em Lille e Paris, na França, em Estocolmo, na Suécia, e em Roterdã e Amsterdam, na Holanda.