UE perde terreno na América Latina
10 de maio de 2006Os 33 chefes de Estado e de governo da América Latina e do Caribe discutem com seus 25 colegas da União Européia (mais os da Bulgária e Romênia), nos próximos três dias (11 a 13/05), em Viena, o futuro da parceria estratégica para o século 21, iniciada em 1999.
Segundo a Comissão Européia, a intenção é "intensificar o diálogo político e melhorar as relações comerciais". Isso soa tão vago quanto a "ativação da política comunitária em relação à América Latina", prometida pela então Comunidade Econômica Européia (CCE) – antecessora da UE – em 1960.
Agenda ampla
Na primeira Cúpula UE-América Latina e Caribe (Eulac), no Rio, há sete anos, foi acertado que a parceria estratégica entre as duas regiões seria concretizada em três níveis: cooperação econômica, diálogo político e ajuda ao desenvolvimento.
Como nos três encontros anteriores – Rio (1999), Madri (2002) e Guadalajara (2004) – a pauta da cúpula de Viena é ampla. Ela inclui temas como o posicionamento estratégico dos 60 países no mundo, multilateralismo, a emperrada reforma da ONU, a Rodada Doha da OMC, energia, o combate às drogas, ao terrorismo e à fome. Também o neopopulismo latino-americano será abordado.
O acordo UE-Mercosul, que vem sendo discutido desde 1999, igualmente está na pauta, mas sem previsão para conclusão. Já o início de negociações com a Comunidade Andina de Nações (CAN) está em perigo, uma vez que o bloco está se desintegrando, com a saída da Venezuela, que deverá ser seguida pela Bolívia.
O único resultado concreto esperado em Viena é a criação de um fundo da UE para a América Latina, administrado pelo Banco Europeu de Investimentos. A UE planeja injetar quatro bilhões de euros em projetos de infra-estrutura na região, informou o jornal argentino La Nación.
Poucos avanços nos últimos anos
Na retórica, os europeus mostram interesse pelo livre comércio com os latino-americanos há mais de quatro décadas. Em 1960, Juscelino Kubitschek propôs a aproximação econômica da América Latina com a então CEE. Mas o primeiro acordo comercial só viria em 1971, com a Argentina. O ingresso de Portugal e Espanha na UE, em 1986, deu novo impulso a essa aproximação.
Desde então, foram fechados vários acordos de cooperação, entre eles com Colômbia, Equador, Chile, México e países da América Central. Os latino-americanos procuram um estreitamento das relações econômicas com os europeus, para diminuir sua dependência dos EUA.
Desbancada pela Suíça
Mas como os EUA assinaram acordos mais vantajosos para estes países, o balanço das relações com a Europa é fraco. A América Latina tem a participação insignificante de 3% no comércio exterior europeu, ficando atrás da Suíça.
Segundo o Departamento Europeu de Estatísticas (Eurostat), no ano passado, o volume de comércio entre a UE e a América Latina aumentou 13%, atingindo 149 bilhões de dólares. Mas isso ainda é bem menos do que os 160 bilhões de dólares que só o México exporta anualmente para os Estados Unidos.
Desde 2000, o comércio bilaterial México-UE também aumentou 40%, por conta de um acordo de redução de barreiras alfandegárias. No ano passado, os mexicanos exportaram mercadorias e serviços no valor de nove bilhões de euros para a Europa, mas 85% das vendas do país vão para os EUA e Canadá.
Concorrência da China
O Chile, que fechou um acordo de livre comércio com a UE em 2003, já ultrapassou a Argentina como terceiro parceiro comercial da Europa na América Latina, ficando atrás apenas do México e do Brasil, que em 2005 exportou o equivalente a 26,5 bilhões de dólares para a UE.
Não só devido a esses números, o ministro alemão das Relações Exteriores, Frank-Walter Steinmeier, defendeu durante sua visita à região, na semana passada, uma intensificação das relações com a América Latina. É que os europeus começam a ter mais um concorrente na região: a China pretende investir 100 bilhões de dólares na América Latina, no próximos dez anos, para garantir o acesso a recursos naturais.