União Européia cresce pela paz
1 de maio de 2004Com a integração de oito países do Leste Europeu e dois formados por ilhas mediterrâneas, a União Européia deu um passo histórico neste 1º de maio. A ampliação põe fim ao caráter ocidental da comunidade, nascida há 47 anos como área de livre comércio, e encerra a divisão do Velho Continente, gerada com a Segunda Guerra Mundial.
Ao encontrar-se pela manhã com os primeiros-ministros da Polônia, Leszek Miller, e da República Tcheca, Vladimir Spidla, em Zittau, na Saxônia, próximo à fronteira trinacional, o chanceler federal da Alemanha, Gerhard Schröder, declarou que a ampliação da UE para o Leste é sobretudo uma contribuição para a paz na Europa.
À tarde, os chefes de Estado e governo dos 15 veteranos da UE, mais os dos 10 novatos e dos três candidatos a uma futura inclusão (Romênia, Bulgária e Turquia) reuniram-se em Dublin, capital da Irlanda, para a cerimônia oficial. Agora, as bandeiras da Estônia, Letônia, Lituânia, Polônia, República Tcheca, Eslováquia, Eslovênia, Hungria, Malta e Chipre tremulam junto às da Alemanha, França, Grã-Bretanha, Espanha, Itália, Portugal, Holanda, Bélgica, Áustria, Dinamarca, Suécia, Grécia, Luxemburgo, Finlândia e Irlanda.
Muita festa durante a noite e a manhã
As principais cenas de confraternização popular foram vistas nas fronteiras entre Alemanha, Áustria e Itália com os novos países membros do Leste Europeu. Várias cidades promoveram festas populares, com shows de música e queima de fogos, atos públicos e cerimônias, desde a noite de sexta-feira até o fim do sábado.
Na Alemanha, as atenções à noite estiveram voltadas para Frankfurt do Oder, na fronteira com a Polônia. À zero hora do sábado, o ministro do Exterior, Joschka Fischer, deu as boas-vindas à UE a seu colega polonês, Wlodzimierz Cimoszewicz, na ponte que liga a cidade alemã a vizinha Slubice. Uma multidão teuto-polonesa comemorou junto o momento histórico.
A festa no litoral, em Ahlbeck, também atraiu muita gente. Mais de 20 mil pessoas acompanharam à meia-noite um motoqueiro atravessar a fronteira entre os dois países, equilibrando-se sobre um cabo de aço a 60 metros de altura, levando a bandeira azul estrelada da UE para o novo associado.
As cidades de Görlitz e Zgorzelec, por sua vez, optaram por promover um café da manhã de confraternização na ponte sobre o Rio Neisse. Na Baviera, o centro das comemorações foi em Eisenstein. Dividida desde o século 18, os cidadãos alemães e tchecos deram fim à cerca que separava seus países.
Advertências nos comícios do Dia do Trabalho
Em suas celebrações do Dia do Trabalhador, os sindicatos alemães também saudaram a ampliação da União Européia, mas advertiram os empresários de qualquer aproveitamento da nova situação para mexer em conquistas trabalhistas.
"Vamos nos colocar no meio do caminho se houver uma espiral por salários baixos, jornadas de trabalho mais longas e direitos do século 19", afirmou o presidente da Confederação dos Sindicatos Alemãs (DGB), Michael Sommer, em Berlim.
Em Leipzig, o presidente do sindicato dos prestadores de serviços Verdi, Frank Bsirske, defendeu o estabelecimento por lei de um salário mínimo na Alemanha, para conter tentativas de baixar as remunerações. O líder do maior sindicato do país argumentou que outros países da UE já implementaram salários mínimos que variam de 1200 a 1300 euros.
Na cerimônia da ampliação em Eisenstein, o governador da Baviera igualmente falou dos riscos da nova UE. O social-cristão Edmund Stoiber disse que a Alemanha precisa preparar-se melhor para enfrentar os novos concorrentes. Ao mesmo tempo, criticou a política fiscal de alguns dos novatos.
"Não se pode permitir que os novos membros usem as subvenções da UE para manter baixos seus impostos e assim atrair empresas." O conservador sugeriu uma harmonização das alíquotas tributárias na União Européia.