Urso de Ouro para Irmãos Taviani é surpresa em Berlim
18 de fevereiro de 2012Dentre 18 produções indicadas, Cesare deve morire (César tem que morrer), dos italianos Paolo e Vittorio Taviani, foi escolhido como Urso de Ouro do 62º Festival Internacional de Cinema de Berlim. A ação do filme se desenrola num presídio de alta segurança: detentos encenam a peça teatral Júlio César, de William Shakespeare, e isso desencadeia um acerto de contas com suas próprias vidas.
Diante dos 1.800 convidados reunidos no Berlinale Palast, na noite deste sábado (19/02), os irmãos agradeceram aos presidiários que participaram de sua produção. E lembraram que "também um prisioneiro que paga uma longa pena – de prisão perpétua, por exemplo – que também ele é e permanece um ser humano".
Nascidos na região da Toscana em 1931 e 1929, respectivamente, Paolo e Vittorio Taviani são responsáveis por clássicos como Pai patrão (1977), A noite de São Lourenço (1982), Kaos (1984) e Bom dia, Babilônia (1987). A premiação de seu filme com o Urso de Ouro foi descrita por diversos comentadores como "surpreendente", e até mesmo "decepcionante".
Cesare deve morire também foi contemplado com um dos três Prêmios do Júri Ecumênico, ao lado do austríaco Die Wand (O muro), de Julian Pölsler, e do uruguaio La demora, de Rodrigo Pla.
Ursos de Prata
Ao escolher a dupla de veteranos italianos, o júri da 62ª Berlinale, presidido pelo diretor britânico Mike Leigh, rompeu com uma clara tendência do festival. Nos últimos anos, a preferência vinha sendo, ou para jovens realizadores – como José Padillha (Tropa de elite, 2008) e Claudia Llosa (A teta assustada, 2009) – ou para países cuja produção cinematográfica recebe pouca projeção internacional – Bósnia Herzegóvina (Em segredo, 2006), Turquia (Um doce olhar, 2010), ou Irã (A separação, 2011).
Além do prêmio principal, o Festival de Berlim concede Ursos de Prata em diversas categorias. Este ano, o Grande Prêmio do Júri coube a Csak a szél (Só o vento), do húngaro Bence Fliegauf, que trata da violência e discriminação contra os "ciganos" em seu país. O alemão Christian Petzold foi selecionado para Melhor Direção, pelo drama Barbara, situado na Alemanha comunista.
O drama histórico dinamarquês En kongelig affære (Um caso de reis) foi duplamente premiado, com Melhor Roteiro (Nikolaj Arcel e Rasmus Heisterberg) e Melhor Ator (Mikkel Boe Fölsgaard). O Urso de Prata de Melhor Atriz coube a uma estreante, a congolesa Rachel Mwanza, que em Rebelle representa uma menina-soldado de 14 anos de idade.
O Urso de Prata pelo Conjunto da Obra na categoria "Câmera" foi entregue ao fotógrafo alemão Lutz Reitemeier, que rodou White deer plain, de Wang Quan'an (o realizador de Tuya's marriage, Urso de Ouro em 2007). A cineasta franco-suíça Ursula Meier recebeu Menção Honrosa por L'enfant d'en haut – Sister.
Entusiasmo por Tabu
A coprodução franco-luso- teuto-brasileira em preto-e-branco Tabu, de Miguel Gomes, foi agraciada com o Prêmio Alfred Bauer. Sob o nome do primeiro diretor do Festival de Berlim, a distinção é dedicada a obras que abrem novas perspectivas para a arte cinematográfica.
O português Gomes – que também fez jus ao Prêmio da FIPRESCI (Federação Internacional de Críticos de Cinema) – declarou-se "um pouco confuso" ao receber um prêmio de inovação. "Na verdade, eu queria fazer um filme antiquado", comentou no Berlinale Palast.
João Salaviza, igualmente português, foi o ganhador do Urso de Ouro de Melhor Curta-Metragem, que é designado por um outro júri. Seu filme, Rafa, trata de um garoto de 13 anos à procura da mãe, num subúrbio de Lisboa.
Menções honrosas para brasileiros
Dois curtas brasileiros foram homenageados com menções honrosas. Licuri Surf, de Guile Martins, na competição principal para curtas-metragens, e L, de Thais Fujinaga, ganhou menção honrosa dentro da mostra Generation Kplus, dedicada a filmes sobre crianças e adolescentes.
Autor: Augusto Valente
Revisão: Marcio Damasceno