Völler: "Às vezes, só sorte e Oliver Kahn ajudam"
11 de junho de 2002Os técnicos da Seleção Alemã e de Camarões têm algo mais em comum do que a nacionalidade. Ambos reconhecem a importância do goleiro Oliver Kahn, mais uma vez comprovada na vitória de 2 a 0 da Alemanha, nesta terça-feira. Não fossem suas belas defesas no primeiro tempo, Camarões bem que poderia ter aberto o placar e a partida teria tomado um rumo bem diferente.
"Às vezes, só a sorte e Oliver Kahn ajudam", admitiu Rudi Völler, técnico da Seleção Alemã. "Talvez eu tenha treinado Olli bem demais", brincou Winfried Schäfer, que como treinador revelou Kahn no Karlsruhe e hoje comanda a equipe de Camarões.
Unanimidade nas reações alemães foram também as críticas ao juiz espanhol Antonio Lopez Nieto, que bateu o recorde de cartões numa partida de Copa do Mundo (12 amarelos e dois vermelhos). "O árbitro agiu de forma inflacionária", observou o ministro do Interior, Otto Schily, presente ao estádio de Shizuoka.
Autocrítica
– Todos também concordam na avaliação da Seleção Alemã no primeiro tempo. "Eu emagreci alguns quilos junto à linha lateral. Deu para se ver que estávamos sob brutal pressão para sermos eliminados. A expulsão de Ramelow quase significou nossa despedida. Por sorte, Oliver Kahn estava num bom dia", comentou o técnico Völler."Nós vimos no primeiro tempo uma Seleção Alemã muito ruim. Meu coração quase parou algumas vezes. Camarões tinha de ter aberto o placar", confessa Gerhard Mayer-Vorfelder, presidente da Federação Alemã de Futebol (DFB).
Kaiser
do futebol alemão, Franz Beckenbauer voltou a caprichar no vocabulário. "A Seleção Alemã permitiu ser ninada. O time agia como uma equipe de senhores de idade. A única coisa que se mexia era o vento. Graças a Deus, Camarões não aproveitou suas chances", considerou o campeão mundial de 1974 e 1990.Com 10, melhorou
– Apesar das críticas ao juiz, ninguém questiona a merecida expulsão de Ramelow. E mais: todos concordam que a saída do líbero melhorou o desempenho alemão. "Curiosamente, após a expulsão começamos a jogar futebol", reconhece Völler. "No segundo tempo, jogamos melhor com dez homens e somos gratos a Bode e Klose", afirma Mayer-Vorfelder.O ex-atacante Jürgen Klinsmann viu também mérito nas mudanças feitas pelo treinador no intervalo. "Rudi foi inteligente. Depois da expulsão, arrumou a defesa com quatro jogadores e pôs Bode na frente. Surpreendentemente, a defesa ficou mais estável sem Ramelow", opinou o hoje comentarista de tevê.
Völler considera que a expulsão de Ramelow também influenciou psicologicamente a equipe de forma positiva. "No segundo tempo, com um homem a menos, o time não se sentiu mais tão pressionado", revela o técnico, deixando a entender que seus comandados já estariam conformados com a perspectiva de eliminação.
O adversário
– As poucas divergências de avaliação referem-se à atuação dos derrotados. "No primeiro tempo, Camarões foi a melhor equipe. Com jogadores rápidos, eles nos deixaram em apuros algumas vezes. Não teria sido nenhum vexame se eles nos tivessem despachado. Já eram os anos 60 e 70, quando antes do torneio se podia dizer quem se classificaria. Veja-se o exemplo da França", destacou o treinador Völler.Apesar de ter agradecido a Deus que Camarões tenha desperdiçado suas chances no primeiro tempo, Beckenbauer acha que o adversário não jogou nada. "Após a expulsão de Ramelow, era de se esperar uma festa camaronesa", disse. "A equipe africana foi letárgica e preguiçosa. Assim não se ganha nem contra dez homens", reforçou.
Se a goleada sobre a Arábia Saudita havia provocado uma onda de otimismo exacerbado na Seleção Alemã, a lição parece ter sido aprendida com o susto do empate com a Irlanda. Apesar da brava vitória contra Camarões, os jogadores evitaram fazer grandes planos. "O maior erro seria relaxar. A Copa está começando agora", alertou o goleiro Kahn. "Não podemos sonhar já com a semifinal. Temos de pensar jogo a jogo", opinou o artilheiro Klose.