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Velhos de hoje e de amanhã

Neusa Soliz11 de julho de 2003

Os aposentados alemães de hoje levam um "vidão". Dentro de 50 anos, as coisas devem mudar bastante: haverá mais mulheres do que homens e aumentará a pobreza na velhice.

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Terceira idade também malhaFoto: Bilderbox

Quem hoje tem 25 anos, que vá se preparando psicologicamente para envelhecer, pois quando um dia se aposentar, viverá entre idosos. Projeções muito realistas apontam que em 2050, a relação será de 55 aposentados para cada grupo de 100 pessoas que trabalham.

Até lá o número de alemães terá diminuído consideravalmente, o que esvaziará muitas cidades. Tão alta percentagem de idosos acabará "freando as mudanças econômicas e sociais", diz o sociólogo Meinhard Miegel, citado em um interessante artigo do jornal Tageszeitung, intitulado "Ficar frio e envelhecer numa boa".

Vida de aristocrata

Hoje muitos aposentados levam uma vida tão boa, que chega a lembrar a da aristocracia no século 19, comentou o semanário Die Zeit. Gozando de saúde, tempo e muito dinheiro, eles viajam pelo mundo afora, vão a teatros, museus, têm casas de férias e, se não andam de carruagem e a cavalo, circulam no carro do ano e fazem passeios de bicicleta. Podem não dar nenhuma soirée para poetas e filósofos, mas como as universidades facilitam o seu ingresso, há muitos vovôs freqüentando cursos, que não são mais do que um passatempo.

Ou seja, ao savoir vivre dos nobres de outrora acrescentou-se algo dos ideais de uma boa formação, entendida como auto-realização. O que não pode ser feito durante a vida profissional, é preciso recuperar como se houvesse uma obrigação de fazê-lo. O que até o século 20 ficou restrito a uma pequena elite, transformou-se numa dádiva para uma grande parcela da população: os idosos.

Bolsos recheados

O programa às vezes é tão intenso que muitos afirmam não ter tempo, como se fossem executivos ocupados, o que também serve para tranqüilizar a consciência e não se envergonhar perante os que dão duro no batente diário. A turma da terceira idade são os master consumers, como constatou um estudo de 1996. Na Alemanha, está em seus bolsos quase a metade da renda per capita disponível no país. A autoconfiança equivale ao poder aquisitivo: em média, eles se sentem 14 anos mais jovens e acham que parecem oito anos mais novos.

Em geral, a velhice começa com o momento de deixar a vida profissional, o que acontece cada vez mais cedo, graças aos planos de aposentadoria antecipada. Com isso, cria-se um paradoxo: a expectativa de vida aumenta cada vez mais, e cada vez mais cedo as pessoas sentem-se demasiado velhas para continuar trabalhando, observa Hannelore Schlaffer, que está para lançar um livro sobre a terceira idade.

Perspectivas: mais pobreza e mais mulheres

No entanto, a dolce vita dos aposentados de hoje vai acabar dentro de umas décadas, conforme o Tageszeitung. Os velhos do ano 2050 na Alemanha terão se cansado do consumismo e os sociólogos contam com um avanço da pobreza. Quanto a família e amizades, muitos anciãos de um futuro próximo não terão filhos nem netos, pelo que aumentará a importância de boas amizades. No entanto, não terá muita chance o modelo de repúblicas para a terceira idade: os jovens de hoje querem manter sua privacidade mais tarde, embora apreciem bons contatos na vizinhança.

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Dentro de 50 anos, muitas mulheres estarão sozinhas na velhice, pois os homens têm menor expectativa de vidaFoto: BilderBox

E mais: a bola de cristal dos pesquisadores sociais diz que haverá uma feminização da velhice. Ou seja, mais mulheres do que homens, no futuro, com o que as idosas de 2050 não poderão contar necessariamente em encontrar um parceiro do sexo masculino. Contudo, os homens também estão fazendo algo por sua saúde. Na faixa etária acima de 75 anos, os homens perfazem apenas 32% hoje. Em 2050, sua parcela deverá ser de 42%.

Quanto à sensação de felicidade, uma cientista analisou a capacidade de compensação dos idosos, que parece ser uma estratégia para se viver de bem com a vida. Muitos podem se sentir tão bem quanto os jovens. É que compensam as restrições da idade e transferem seus prazeres a outros objetos. Uma manhã de primavera ensolarada, por exemplo, pode salvar o dia e levantar o astral.

Mas a recomendação para os idosos de amanhã é não esquentar e encarar tudo numa boa. Se essa atitude não aumentar a expectativa de vida, pelo menos vai tornar mais aprazível o presente.