Descoberta sensacional
2 de julho de 2008
O legendário filme expressionista Metropólis (1927), dirigido por Fritz Lang, foi a mais dispendiosa produção cinematográfica alemã da época, rodada pela Ufa como um desafio a Hollywood. No entanto, o efeito esperado não se concretizou.
Após o lançamento ter desagradado crítica e público, representantes da distribuidora norte-americana Paramount encurtaram o filme e simplificaram o enredo radicalmente, cortando cenas fundamentais do original. A versão director's cut ficou nas telas somente até maio de 1927 – e desde então foi considerada extraviada.
Cenas desconhecidas e mais dramáticas
Uma descoberta inédita no Museo del Cine, em Buenos Aires, trouxe à tona a versão original dada por perdida, segundo relatou o semanário alemão Die Zeit. A cópia – um quarto mais longa que a versão conhecida hoje – foi submetida pela diretora do museu ao parecer de três especialistas e confirmada como o original de Fritz Lang.
O filme sobre a cidade do futuro Metrópolis, cujos trabalhadores são condenados a viver no subterrâneo, narra a história de amor entre o filho de um industrial e uma operária, enfocando a luta de classes e o totalitarismo com imagens que se tornaram emblemáticas.
Segundo o relato do Die Zeit, Metropolis ganha uma outra dimensão com as cenas posteriormente cortadas. O papel dos protagonistas, por exemplo, só se tornaria realmente compreensível no contexto original. Outras cenas, como a do resgate das crianças da cidade subterrânea, seriam muito mais dramáticas.
A cópia recém-descoberta foi parar em Buenos Aires através da distribuidora argentina Terra, em 1928. Logo depois, um crítico de cinema adquiriu-a para seu arquivo pessoal, onde ela ficou guardada até a década de 1960.
Longo trajeto da cópia perdida
Com a venda dos rolos do filme ao Fundo Nacional das Artes da Argentina, a versão original de Metrópolis chegou a uma instituição pública, mas ninguém suspeitava de sua importância.
Em 1992, os rolos foram incorporados à coleção do Museo del Cine, cuja direção foi assumida por Paula Félix-Didier em janeiro passado. Seu ex-marido, diretor do departamento de cinema do Museu de Arte Latino-Americano, foi quem aventou a hipótese de tratar-se de uma cópia desconhecida de Metrópolis, após ter ouvido o diretor de um cineclube dizer quanto tempo a projeção do filme havia durado. Ao assistirem a essa versão, Félix-Didier e seu ex-marido descobriram cenas desconhecidas até então.
A película do Metrópolis reencontrado está arranhada e, após 80 anos, carece de restauração. Mas os especialistas garantiram que todas as cenas ainda estão perfeitamente visíveis. (sm)