Videonale 11
23 de março de 2007As inovações arquitetônicas de disposição da videoarte no Kunstmuseum de Bonn não conseguem passar despercebidas do olhar do visitante da Videonale, a bienal de videoarte de Bonn. Segundo o curador da exposição, Georg Elben, apesar de as propostas inovadoras sempre ressaltarem aos olhos do público, existe por parte da organização da exposição o cuidado em não deixar que as novas soluções sobressaiam aos vídeos e assim transformem a Videonale em uma exposição de arquitetura.
As experimentações em torno da arquitetura do museu são, claro, grande parte das preocupações da exposição e não há, por parte da Videonale, a meta de chegar a um modelo fixo ideal de apresentação da videoarte.
"Queremos experimentar as possibilidades e mostrar essas possibilidades. A caixa preta, por exemplo, é uma solução de exposição que todos conhecemos, e alguns vídeos só podem ser exibidos desta forma" disse Elben, ressaltando que a caixa preta não é a única solução e é também um opção muito cansativa, se for se pensar que são 48 obras a serem vistas.
As inovações só são possíveis por um dos pré-requisitos de inscrição de obras: apenas single-channel videos – o que já excluía vídeo-instalações – poderiam ser inscritos, isto é, ficaria a cargo da curadoria e da organização da exposição a forma de apresentação de cada um.
Arte política
Apesar de a maioria dos videos exibidos nesta edição da Videonale ser de origem alemã, foram recebidas inscrições dos quatro cantos do mundo. O evento está ganhando tanto destaque como divulgador da arte contemporânea, que a exposição viajará ainda este ano para a Coréia do Sul, a Espanha e a Índia.
Apesar de um grande reconhecimento entre os videoartistas, o evento tem proporções pequenas se comparado com alguns outros do ramo, o que faz com que muitos artistas de renome internacional nem se inscrevam. Isso permite também que o júri possa escolher trabalhos inéditos ou que não tenham participado de muitos festivais, já que esses formam a maioria de inscritos.
Em conversa com a DW-WORLD, Georg Elben disse ter percebido que os temas dos trabalhos videoartísticos estão cada vez mais relacionados à política. Disse perceber a diferença entre as variadas regiões do mundo, destacando a região que corresponde à antiga Europa ocidental como a que menos se focaliza neste tema, continuando mais voltada para as questões formais.
Elben acredita, entretanto, na mudança deste cenário: "Enquanto a pintura e a escultura estão cada vez mais voltadas para si mesmas, a videoarte tem se mostrado o meio ideal para falar sobre os outros temas do mundo, dos quais a arte quer tratar".
Ele acrescenta que a videoarte foi uma forma que os artistas encontaram de lidar com a invasão da midia em nossos cotidianos. Além de criticar o mundo da arte, conseguiu, através da utilização de vídeos, se apropriar da contemporaneidade e não mais ficar à margem dela.
Os temas políticos estão sobressaindo tanto nas produções que mesmo as consideradas ficções deixam claros os antecedentes políticos daquilo que é mostrado. De acordo com o curador, a América Latina é especialmente forte na produção de vídeos de cunho político, mesmo que não se possa deixar completamente de lado a produção de vídeos formais. Elben disse ter se surpreendido com a alta qualidade das produções que pôde assistir quando passou pelo continente no último ano.
Novos rumos da videoarte
A Videonale, composta da mostra e de um festival que durou uma semana, organizou uma série de discussões com videoartitas, curadores e pessoas que trabalham no meio. O tema que ficou no ar nesta edição foi a questão dos direitos autorais, direitos de intervenção e de citação.
Os jovens artitas pareceram bem preocupados com seus direitos de intervir, sempre a favor da possibilidade da abertura da obra de arte.Mas em momento algum questionaram quais seriam os próprios direitos, uma vez citados ou retrabalhados.
Perguntado sobre os rumos da arte no século 21 e da importância crescente da Videonale, Elben finalizou a conversa dizendo acreditar que a videoarte é apenas mais um dos meios com o qual o artista pode trabalhar hoje em dia, já que é, nos tempos atuais, muito difícil encontrar alguém que se especialize em pintura, escultura. Estamos na fase da interdisciplinaridade artística.
Elben arriscou ainda dizer que a videoarte pode até não ser dominante, mas terá grande importância na documenta 12, a ser realizada este ano em Kassel.