Vitral da Catedral de Colônia vai unir o gótico com o moderno
3 de agosto de 2006O vitral colorido da Catedral de Colônia, do aclamado artista alemão Gerhard Richter, não passará despercebido, não apenas por seu imenso tamanho e localização evidente, mas também por seu estilo não-tradicional.
"O vitral será uma significante contribuição da arte moderna para a Catedral de Colônia", disse Barbara Schock-Werner, construtora-chefe responsável pela catedral.
Gerhard Richter é considerado um dos mais expressivos pintores de nosso tempo. Seus trabalhos estão nas paredes de museus de todo o mundo e colecionadores gastam milhões para adquirir rapidamente suas telas. O artista de 74 anos, residente em Colônia, planeja revelar seu monumental vitral de 11.200 peças no segundo semestre de 2007.
Gerhard Richter ofereceu produzir a peça de 110 metros quadrados como um presente para a cidade, catedral e visitantes. Doações vão cobrir os custos da obra, estimados em 350 mil euros.
Obra-prima moderna
"O mais importante para mim foi integrar este vitral no ciclo de janelas históricas, especialmente no tocante às cores", disse Schock-Werner. O vitral de Richter não prolonga a tradição existente, mas a desenvolve com o uso abstrato de cores.
Quadrados de vidro em 80 matizes diferentes vão substituir um pedaço de vidro quase transparente, colocado em 1950 no lugar do vitral original, destruído durante a 2ª Guerra Mundial. Os esboços para a janela danificada, criada em 1863, se perderam e nunca puderam ser reproduzidos.
De acordo com Norbert Feldhoff, prior da catedral, a peça substituta bem menos artística deve sair, pois deixa muita luz entrar dentro da igreja e não corresponde ao estilo gótico. "A ordem das cores individuais é aleatória", explicou a construtora-chefe, descrevendo o padrão dos quadrados, que medem 9.4 centímetros em cada lado.
O vidro em si não é colorido totalmente. Ao invés, peças coloridas são anexadas na superfície exterior do vidro branco, com a ajuda de silicone.
Quebrando uma tradição artística sagrada
Tradicionalmente, vitrais de igreja mostravam cenas bíblicas. Muito antes das histórias em quadrinhos, os painéis contavam as histórias da Bíblia para os paroquianos analfabetos, apresentando-as em cores vivas e formato grande.
No entanto, o vitral de Richter quebra intencionalmente com a tradição. Ele não representa Daniel na cova dos leões, a fuga do Egito, o nascimento de Jesus ou a crucifixão. De certa forma a Igreja arriscou, ao aceitar uma obra de arte não explicitamente religiosa.
Mas mesmo que o Cristianismo em si não apareça no trabalho, cruzes e outros símbolos da religião são visíveis em muitas outras de suas obras. Não é sem razão que Gerhard Richter recebeu, há dois anos, o prêmio da Arte e Cultura Católica Alemã.
A produção de um artista
Esta não é a primeira vez que o renomado artista internacional escolheu vidro colorido como seu material. Em 1991, por exemplo, ele criou detalhes artísticos para o Hypobank, em Düsseldorf, projetado pelo arquiteto de Colônia Oswald Mathias Ungers.
Richter tornou-se muito conhecido nos anos 60 por basear suas pinturas em fotografias, porém empregando linhas indistintas. Sua obra, que abarca uma carreira de mais de 40 anos, é estilisticamente diversa, como se pôde constatar no Museu de Arte Moderna de Nova York, em 2002. Por ocasião dos 70 anos do artista nascido em Dresden, o museu organizou a maior mostra retrospectiva já dedicada a um artista vivo.