Oriente Médio
24 de janeiro de 2011Os chamados Palestinian Papers, vazamento promovido pelo WikiLeaks sobre as negociações de paz no Oriente Médio, aumentaram a controvérsia sobre um assunto já marcado pela instabilidade. Os documentos foram revelados pelo canal de televisão Al Jazeera e o jornal britânico The Guardian, e trazem os bastidores das conversas de paz entre Israel e a Autoridade Palestina.
Os documentos desvendam propostas de concessões feitas pelos palestinos na tentativa de pôr fim ao conflito histórico. A Autoridade Palestina aceitaria que Israel anexasse todos os assentamentos construídos ilegalmente e ocupados em Jerusalém Oriental, com exceção de Har Homa.
Segundo o atual vazamento, considerado o maior de conteúdo confidencial da história do conflito no Oriente Médio, o negociador-chefe palestino, Saeb Erekat, estaria disposto a conceder a Israel "a maior Jerusalém da história". A proposta nunca havia chegado ao conhecimento público e despertou revolta no mundo árabe.
Saeb Erekat desmentiu os documentos e disse se tratar de um "monte de mentiras". O conteúdo exibido pela Al Jazeera seria "cheio de distorções e fraude", defendeu-se.
Negociações
Os mais de 1.600 documentos mostram detalhes das negociações de paz que aconteceram entre 1999 e 2010. Segundo o The Guardian, o conteúdo mostra "a fraqueza e crescente desespero dos líderes da Autoridade Palestina em chegar a um acordo, o que ameaça sua credibilidade em relação aos rivais do Hamas".
Os documentos também indicam "a confiança forte nos negociadores israelenses e a atitude frequentemente desdenhosa dos políticos norte-americanos diante dos representantes palestinos."
Segundo o jornal britânico, a proposta teria sido feita durante encontro em 2008, onde teriam participado a então secretária de Estado norte-americana, Condoleezza Rice, a ministra de Relações Exteriores israelense, Tzipi Livni, o primeiro-ministro palestino, Ahmed Qurei, e o negociador-chefe, Saeb Erekat.
A proposta de concessão palestina não foi aceita por Israel porque não incluía o grande assentamento próximo à cidade Ma'aleh Adumim, assim como Har Homa, além de outras localidades na Cisjordânia. "Nós não gostamos dessa sugestão porque não é de acordo com nossas exigências, e provavelmente não foi fácil para você pensar sobre isso, mas eu realmente aprecio sua oferta", teria dito Tzipi Livni.
Erekat também teria afirmado que aceitaria o retorno de apenas 100 mil palestinos e seus descendentes que se exilaram após a criação do Estado de Israel, em 1948. Estima-se que atualmente haja 5 milhões de pessoas nessas condições.
Reações
Em entrevista ao canal Al Jazeera, Osama Hamdan, representante do Hamas no Líbano, criticou a atuação palestina: "Essas negociações não eram negociações sobre os direitos palestinos. Eles estavam negociando o que os israelenses poderiam aceitar, o que os norte-americanos poderiam apoiar, e não o que os palestinos querem. Acho que esse é o principal ponto, e acho que é por isso que eles traíram seu próprio povo."
Para o ministro israelense de Relações Exteriores, Avigdor Lieberman, o vazamento evidencia a impossibilidade de um tratado de paz com os palestinos. "Acho que eles [os documentos] comprovam que, se o governo de Olmert e Tzipi Livni também não conseguiu chegar a um acordo com os palestinos, isso significa que, no fim, todos concluirão que o único caminho é uma solução provisória de longo prazo."
Situação atual
Israel ocupou Jerusalém Oriental na guerra de 1967, quando anexou a cidade antiga de Jerusalém e uma região em torno da Cisjordânia logo após o conflito. A ação israelense nunca foi reconhecida internacionalmente.
As conversações de paz do Oriente Médio estão congeladas devido à disputa que envolve a construção de assentamentos judeus na Cisjordânia – os palestinos se recusam a voltar à mesa de negociações até que Israel interrompa o programa de construção. A Autoridade Palestina, por outro lado, quer fundar seu Estado na Cisjordânia e Gaza, e estabelecer Jerusalém Oriental como capital.
O encontro de 2008 fazia parte de um programa de negociações que chegou ao fim quando Ehud Olmert, então primeiro-ministro de Israel, foi obrigado a deixar o cargo devido a acusações de corrupção em 2009.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Carlos Albuquerque