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Xi Jinping diz que Hong Kong vive "verdadeira democracia"

1 de julho de 2022

Presidente chinês participa de comemorações dos 25 anos da restituição de Hong Kong à China. Em discurso, ele ignora lei que silenciou oposição, detenções de ativistas pró-democracia e proibição de protestos.

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Em um auditório decorado com flores, muitas pessoas de máscara participam de uma solenidade, com a bandeira da China ao fundo
A viagem de Xi a Hong Kong foi a primeira desde 2017Foto: Selim Chtayti/Pool/REUTERS

O presidente da China, Xi Jinping, elogiou nesta sexta-feira (01/07) a postura do governo chinês em relação a Hong Kong durante uma cerimônia que celebrou os 25 anos da restituição da região semiautônoma pelo Reino Unido à China. Na ocasião, também ocorreu a posse do novo governo local.

Xi afirmou que a "verdadeira democracia" em Hong Kong só começou depois do regresso à soberania chinesa, em 1997. Após 156 anos de domínio britânico, o Reino Unido devolveu Hong Kong ao domínio chinês em 1º de julho de 1997, com Pequim prometendo ampla autonomia, direitos individuais e independência judicial pelo menos até 2047.

No entanto, desde que Pequim impôs uma lei de segurança nacional a Hong Kong, em 2020, após os intensos protestos pró-democracia registrados no ano anterior, a oposição foi praticamente anulada e a maioria das principais figuras que defendiam a democracia fugiram do país, perderam cargos ou foram presas.

A lei prevê penas de prisão perpétua para casos de secessão, terrorismo ou conluio com forças estrangeiras, entre outros. Desde então, foram detidos vários ativistas, políticos da oposição, jornalistase acadêmicos. 

Apesar disso, de acordo com o discurso de Xi, Pequim sempre agiu "pelo bem de Hong Kong". "Depois de se reunir com a pátria, o povo de Hong Kong se tornou o mestre de sua própria cidade", disse. "A verdadeira democracia de Hong Kong começou aqui", completou.

Novo governo de Hong Kong

A viagem de Xi a Hong Kong, fortemente coreografada, foi a primeira do líder chinês fora do continente desde o início da pandemia de covid-19 e a primeira a Hong Kong desde 2017.

A cerimônia de sexta-feira incluiu a posse do novo governo da cidade, liderado por John Lee – um ex-chefe de segurança que supervisionou a resposta da polícia às manifestações de 2019.

"Depois de todas as tempestades, todos aprenderam dolorosamente que Hong Kong não pode cair no caos e Hong Kong não pode permitir o caos", disse Xi durante a posse. "Deve se livrar de todos os distúrbios e se concentrar no desenvolvimento".

Lee, de 64 anos, foi eleito no início de maio, sob novo sistema eleitoral, promovido pelo governo central de Pequim em 2021 para garantir que a região semiautônoma fosse governada por patriotas leais ao regime chinês o que, segundo Xi, deve ser mantido para garantir a prosperidade e a estabilidade da região, acrescentou.

Em seu discurso, Lee afirmou que a lei de segurança nacional e "a melhoria do sistema eleitoral" conseguiram levar Hong Kong "do caos para a prosperidade".

O novo chefe do executivo prometeu reforçar a integração com a China continental e o papel de Hong Kong como um centro de inovação, para criar uma cidade inclusiva, "com abundância de oportunidades e vitalidade".

Xi Jinping disse esperar que Lee "mantenha a harmonia e a estabilidade" e reforce a "integração com o plano de desenvolvimento estratégico" da China, assim como "o sentido de identidade nacional" da população de Hong Kong.

John Lee ao lado de Xi Jinping
John Lee ao lado de Xi JinpingFoto: Selim Chtayti/Pool/AP/picture alliance

Um país, dois sistemas

Esta sexta-feira marca a metade do modelo de governança de 50 anos acordado entre o Reino Unido e a China sob o qual Hong Kong manteria a autonomia e as principais liberdades, conhecidas como "um país, dois sistemas".

O aniversário costumava ser uma data em que centenas de milhares de moradores participaram de uma marcha para expressar queixas políticas e sociais. Mas, após os protestos pró-democracia iniciados em 1º de julho de 2019, a situação mudou. Nesta sexta, manifestações foram proibidas.

Críticos, incluindo muitas potências ocidentais, dizem que Pequim efetivamente rasgou a promessa de que Hong Kong manteria seu modo de vida após a transferência.

O primeiro-ministro britânico Boris Johnson, criticou Pequim nesta sexta-feira por "não cumprir" com as suas obrigações para com a ex-colônia britânica.

A China "entusiasticamente comprometeu-se com o princípio 'um país, dois sistemas'. Isso significava que, embora muitas coisas mudassem à superfície, as bases sobre as quais Hong Kong assenta permaneceriam praticamente intocadas", escreveu no Twitter.

Segundo ele, o acordo foi cumprido por um tempo e permitiu a Hong Kong "prosperar e florescer". Johnson ponderou, porém, que neste 25º aniversário da transferência, não há como "omitir o fato de que, há algum tempo, Pequim renega as suas obrigações".

Os Estados Unidos e a Austrália também se pronunciaram criticando a erosão das liberdades. Já o governo de Taiwan, constantemente ameaçado pela China, disse que a liberdade e a democracia "desapareceram" em Hong Kong.

Por outro lado, Xi defendeu que não há motivos para mudar o sistema, que, segundo ele, tem o apoio de 1,4 bilhões de chineses e "a aprovação generalizada" da comunidade internacional.

le/cn (AFP, Lusa, Reuters, ots)