"Yarmuk é um buraco do inferno"
7 de abril de 2015Considerado porta de entrada para a capital síria, Yarmouk é um bairro de Damasco disputado desde o início da guerra civil. Desde 1° de abril, o "Estado Islâmico" também controla partes do local.
O que acontece lá é um espelho da tragédia que se desenrola em toda a Síria: violência, falta de assistência médica e desnutrição imperam. Yarmouk está, em grande parte, destruída e sofre com a falta quase total de abastecimento. Os últimos moradores lutam há meses pela sobrevivência. Em maioria, são refugiados palestinos. Por isso, o bairro é frequentemente definido como campo de refugiados.
Em entrevista à Deutsche Welle, o porta-voz da Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos (UNRWA), Christopher Gunness, diz que a situação piorou muito nos últimos dias, e que os moradores precisam de assistência urgente, de água, alimentos e remédios. A chegada de ajuda, entretanto, é impedida por severos combates há uma semana.
"Por isso, apelamos para um cessar-fogo. As organizações de assistência precisam de um acesso a Yarmuk", reclama.
Deutsche Welle: As organizações terroristas "Estado islâmico" e Frente al-Nusra tomaram grande parte de Yarmuk. As forças do ditador Bashar al-Assad realizam ataques aéreos no local. Outros grupos no distrito lançam intensos combates contra o EI e a Frente al-Nusra. Como o senhor descreveria a situação atual para a população local?
Christopher Gunness: O que posso dizer da perspectiva de uma organização de assistência é que a população está presa no conflito entre as várias partes. Ainda vivem 18 mil pessoas em Yarmouk. Delas, 3.500 são crianças. A situação relativa às relações de poder muda a cada minuto. A vida das pessoas está ameaçada. Elas estão presas em suas casas, cercadas de combates por todos os lados. Têm medo de sair. Por isso, apelamos para um cessar-fogo. As organizações de assistência precisam de um acesso a Yarmuk. As partes em conflito devem deixar sair aquelas pessoas que querem deixar Yarmuk. Esperamos que logo medidas sérias sejam tomadas para suspender o cerco e o bloqueio.
Parece que somente depois que o EI e a Frente al-Nusra tomaram Yarmuk, o sofrimento das pessoas lá começou a ganhar atenção mundial...
Acho que a situação da população em Yarmuk já era de conhecimento mundial. Mas a pergunta é: será que tal atenção, por si só, pode também provocar uma ação política? Já afirmamos há muito tempo que não se trata apenas da melhoria da situação humanitária. As potências mundiais têm de elevar a pressão sobre as várias partes. Em primeiro lugar, o direito internacional diz que os civis devem ser protegidos. E em segundo lugar, precisamos urgentemente de acesso, como instituição de assistência. Há uma semana, não conseguimos alcançar as pessoas, por causa de pesados combates. E precisamos levar a elas alimento, água e remédios.
Desde o início da guerra, Yarmuk é uma área disputada. É a porta de entrada para Damasco. De que forma a situação mudou?
Ela piorou visivelmente nos últimos dias. Desde o início da guerra, Yarmuk é um lugar onde as mulheres morrem ao dar à luz seus filhos, por haver falta de recursos médicos. As crianças morrem devido à desnutrição. Em setembro de 2014, a principal canalização de água foi destruída. As pessoas dependem muito de ajuda. Yarmuk já era um buraco do inferno, mas com o início dos combates, há uma semana, a situação humanitária piorou ainda mais.
O que a comunidade internacional pode fazer?
Esperamos que o Conselho de Segurança da ONU se reúna e exerça pressão sobre as várias partes – e, com isso, quero dizer pressão sobre todas as partes envolvidas. Esperamos que isso possibilite um cessar-fogo, para que os civis possam ser colocados em segurança e assistência humanitária possa ser fornecida. E que, depois, sejam dados passos decisivos para dar fim ao cerco de Yarmuk.