Zeitgeist: A UE de diferentes velocidades
23 de março de 2017O Brexit e as divergências na questão dos refugiados evidenciaram que nem tudo anda bem no projeto europeu e que reformas são necessárias para garantir o futuro da União Europeia (UE).
Diversas propostas elaboradas pela Comissão Europeia estão em cima da mesa para serem debatidas na próxima cúpula do bloco, em Roma, que é alusiva aos 60 anos dos Tratados de Roma.
Entre as propostas, a mais polêmica, defendida por Alemanha, França, Itália, Holanda e outras potências econômicas, é a chamada UE de diferentes velocidades. Em linhas gerais, esse modelo prevê que alguns países avancem mais rapidamente do que outros na integração, dependendo da área ou setor, como a adoção do euro, defesa e justiça.
Na prática, como argumenta a chanceler federal Angela Merkel, já é assim: nem todos os países fazem parte da zona do euro, e nem todos participam do Acordo de Schengen para livre-circulação de pessoas. Ela acrescentou que não há exclusão, já que qualquer país-membro pode decidir que ritmo pretende adotar na sua integração com os demais.
Por trás desse conceito está a ideia de que países que querem elevar sua integração não podem ser impedidos por aqueles que não a desejam. O documento preliminar a ser debatido em Roma apresenta a seguinte formulação: "Vamos agir juntos quando for possível, e em diferentes velocidades e intensidades quando for necessário". Em seguida, é feita uma ressalva: "Nossa união é indivisível e integral".
Ainda assim, o conceito não foi bem aceito por muitos países, principalmente no Leste Europeu. Líderes da Polônia, por exemplo, falam na criação de duas categorias de membros e dizem temer ser incluídos na categoria inferior. Os países do leste do bloco falam até mesmo no surgimento de numa nova Cortina de Ferro, em referência aos tempos da Guerra Fria.
"Na prática, é uma proposta para dividir a UE", afirmou o presidente do partido conservador polonês PiS, Jaroslaw Kaczynski. Já o primeiro-ministro italiano, Paolo Gentiloni, defendeu a ideia. "Todos devem decidir por si mesmos como vão participar dessa cooperação reforçada. Não teremos jamais uma Europa de primeira e um de segunda liga, nem uma Europa dos grandes e outra dos pequenos países, nem uma Europa do Leste e uma do Oeste", afirmou.
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