Zelenski compara ações das forças russas ao nazismo
18 de setembro de 2022O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, comparou neste sábado (17/09) as ações dos ocupantes russos em seu país às atrocidades cometidas pelos nazistas na Segunda Guerra Mundial.
Em uma mensagem de vídeo, Zelenski disse que há tortura cruel, deportações, cidades incendiadas e ódio sem fim sob a ocupação russa. Segundo ele, que é de família judia, ao contrário dos nazistas, os russos não farão sabão com os corpos dos ucranianos mortos nem abajures com suas peles. "Mas o princípio é o mesmo", disse o presidente ucraniano, após mais de seis meses de guerra.
Zelenski descreveu os ocupantes que fugiram da região de Kharkiv há uma semana, após uma contraofensiva ucraniana, como "racistas", e disse que os nazistas também se comportavam da mesma maneira.
"Racismo" é um termo que tem sido usado por muitos ucranianos para se referir a "fascismo russo", combinando as palavras "Rússia" e "fascismo". Zelenski garantiu que, assim como os nazistas foram responsabilizados no passado, os "racistas" também responderão em tribunais por suas ações.
"Vamos determinar as identidades de todos os que torturaram e maltrataram, que trouxeram essas atrocidades da Rússia para o território ucraniano", enfatizou.
Zelenski também disse que, ao fugirem, os russos deixaram para trás "dispositivos de tortura". As autoridades ucranianas divulgaram fotos que supostamente mostram câmaras e equipamentos de tortura. Mais de dez desses locais foram descobertos em diferentes cidades da região de Kharkiv desde que o território foi retomado pelos ucranianos na semana passada. "A tortura era uma prática generalizada no território ocupado", afirmou o presidente ucraniano.
Tortura com choques
De acordo com Zelenskyj, as pessoas foram torturadas com fios e choques elétricos. Por exemplo, uma sala de tortura com ferramentas elétricas foi descoberta em uma estação de trem em Kosatscha Lopan. Novas evidências de tortura e de crimes de guerra também foram encontradas nos corpos exumados de uma floresta na cidade de Izium, onde uma vala comum com 17 soldados e mais de 440 sepulturas improvisadas foram encontradas - muitos corpos estavam com as mãos amarradas.
A ministra federal da Defesa da Alemanha, Christine Lambrecht, pediu uma investigação de possíveis crimes de guerra. "Esses crimes terríveis devem ser esclarecidos - de preferência pelas Nações Unidas", disse.
No final de março, centenas de civis mortos - alguns com sinais de tortura e as mãos amarradas - também foram encontrados em Bucha, nos arredores de Kiev, após a retirada das tropas russas. Desde então, Bucha tem sido considerada um símbolo dos crimes de guerra cometidos pela Rússia na Ucrânia.
Testemunhos das atrocidades
"Se eu soubesse o que ia acontecer, não teria vindo para cá", disse Marina Rubezhanska, da cidade de Malyi Burluk, a nordeste de Kharkiv. "Viver sob as bombas era quase melhor do que sob a ocupação russa", acrescenta.
Marina morava em Kharkiv, a segunda maior cidade da Ucrânia, mas mudou-se para a vila dos pais, na esperança de ter mais segurança.
Mas o local logo se viu ocupado pelos russos - e a vida de Marina e sua família rapidamente se complicou. "Os russos estavam procurando soldados ucranianos que participaram da operação antiterrorista em Donbass", diz Marina.
Seu pai tinha sido o chefe do conselho da vila. Por isso, os russos o procuraram em busca de nomes: queriam que o pai de Marina fosse um colaborador de Moscou. Ele se recusou a cooperar e foi levado para o campo de internação improvisado na cidade de Vovchansk, perto da fronteira com a Rússia.
"Lá eles bateram nele repetidamente, especialmente na cabeça", conta Marina. Além disso, ele foi repetidamente ameaçado de que suas filhas seriam baleadas e sua casa incendiada se ele não falasse.
O pai de Marina contou que foi mantido em uma grande sala com outras 70 pessoas - a maioria ex-soldados ucranianos. Eles foram torturados com cabos elétricos, tiveram agulhas inseridas sob suas unhas e ossos quebrados.
Ele quase teve uma parada cardíaca e sofreu um AVC após ser libertado, depois de passar duas semanas na "prisão".
Queima de livros
A mãe de Marina, uma bibliotecária nascida na Rússia, recusou-se a cooperar quando soldados russos vieram confiscar os livros em língua ucraniana.
"Eles estavam especialmente interessados em livros de história ucranianos, que descrevem como nazistas", enfatiza. Sua família conseguiu esconder em um celeiro uma dúzia de livros, assim como uma bandeira ucraniana.
"A polícia militar veio nos ver e procurou muito, mas não conseguiu encontrá-los, conta. "Não é tão fácil encontrar algo entre duas toneladas e meia de grãos".
Os livros de história ucranianos que os russos conseguiram confiscar foram queimados.
"Graças a Deus não conseguiram queimar todos porque nossos meninos, os soldados, vieram”, diz Marina.
A família de Marina não aceitou presentes ou dinheiro dos russos, nem tentou esconder suas opiniões patrióticas. Marina também disse que se recusou a falar em russo, como era ordenado."Sempre falei em ucraniano ou em um surzhyk local [uma mistura de idiomas ucraniano e russo], como meus pais e avós faziam. Por que eu deveria mudar?"
Para ela, é lamentável que alguns moradores tenham cooperado com os ocupantes. Alguns buscaram favores de russos e soldados dos territórios separatistas de Luhansk e Donetsk. A maioria dos que cooperaram já foi embora.
"Depois da ocupação, eles ficavam dizendo o quanto estavam felizes de ir morar na Rússia. Agora, dormem em barracas lá", diz Marina.
Saques em casas vazias
Ele diz que os soldados saquearam as casas vazias e as das pessoas que foram levadas para a prisão de Vovchanks. "No final, quando eles fugiram da ofensiva ucraniana, eles pararam carros aleatoriamente, atiraram neles e expulsaram seus ocupantes para escapar”, revela Marina.
Ainda pouco se sabe com certeza sobre o destino dos presos em Vovchansk, onde seu pai foi espancado. É um dos pelo menos 10 "locais de tortura" que a polícia ucraniana diz ter sido encontrado na área.
De acordo com o Grupo de Proteção dos Direitos Humanos de Kharkiv, durante a ocupação, entre 100 e 150 pessoas foram mantidas ali ao mesmo tempo, das quais entre 10 e 30 foram isoladas em câmaras sem janelas. Alguns foram torturados e detidos durante meses, outros foram libertados após várias horas ou dias.
le (DPA, EFE, ots)